O Momento Certo

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Henry começava a despertar de um sono pesado e já podia sentir que sua cabeça pesava. Sentiu que Kal estava deitado ao seu lado, mas quando esticou uma de suas mãos para acariciar a barriga do cão, percebeu que o animal estava muito menor e seu pêlo muito mais macio. Tateou Kal com os olhos ainda fechados tentando entender o que estava acontecendo, sem sucesso.

Ele lutava com o sono para abrir os olhos e ver qual bicho estava em sua cama até que um miado se fez ouvir e, os acontecimentos da noite anterior começaram a voltar a memória de Henry como um flashback.

Ele ainda estava no apartamento de Alice, só de toalha e com uma baita ressaca.

A gata se aproximou ainda mais de Henry e passou a esfregar sua cabeça no queixo dele.

"Bom dia para você também, bichano." Ele disse com a voz rouca se sentando na cama.

Depois que o quarto parou de girar, Henry arrumou a toalha em sua cintura e abriu a porta, sendo seguido de perto por sua mais nova fã, a gata de Alice.

Olhou para o pequeno e desconfortável sofá onde Alice passou a noite e ela já não estava ali, mas pelo cheiro de café e ovos vindos da cozinha, ele presumiu que era onde ela estaria.

"Tá bom, Leslie! Eu faço isso na próxima vez."

Henry percebeu que Alice estava conversando com alguém ao telefone e resolveu esperar antes de adentrar a cozinha.

"Ninguém. Sim, voltei para casa sozinha. Porque eu não sou você quando era solteira, Leslie. Tá bom, tchau!"

Henry riu da resposta de Alice que, aparentemente, conversava com a amiga de quem se perdeu na noite anterior. Mas o que o intrigou na conversa foi o fato de ela não ter dito que ele estava em sua casa. Ele conhecia várias mulheres que não perderiam a chance de contar aos sete ventos de que ele estava com elas. Ainda mais vestindo só uma toalha branca. Mas Alice não fez isso.

Com um sorriso no rosto, Henry entrou na pequena cozinha.

"Bom dia."

Ele viu o exato momento em que Alice derrubou o ovo que tinha em mãos, no chão.

"Ai, droga! Bom dia."

Henry riu baixinho, enquanto se abaixava com algumas folhas de papel toalha em mãos, para ajudar Alice a limpar o chão.

"Você é sempre atrapalhada assim?" Henry perguntou ainda rindo, se lembrando da caneca de café que ela deixou cair em seu corpo na noite anterior.

E estando tão perto dela, ele também se lembrou de que quase a beijou segundos antes daquilo.

Os cabelos de Alice, que antes estavam soltos, agora estavam presos num coque frouxo, deixando que alguns fios escapassem, moldando o rosto delicado. Os olhos castanhos escuros já não tinham mais a maquiagem da noite passada, e pareciam ainda maiores. E os lábios cheios estavam com seu tom rosado natural, e não com o batom vermelho sedutor que o provocou a noite inteira fazendo com que ele bebesse além da conta.

"Quando me assustam, sim." A voz de Alice o tirou de seus pensamentos e ele se levantou, jogando os papéis dentro da pia.

"Desculpa."

Alice o encarou e então disse, "Sem problemas."

Ele a viu olhando para o seu peito nu e corar logo em seguida. Henry achou graça e sorriu novamente.

"Por mais que eu goste da toalha, eu posso ter minhas roupas de volta?" Ele perguntou brincalhão.

Levou alguns segundos até Alice parecer compreender o que ele havia dito a ela.

"Oh, claro! Suas roupas."

Enquanto ela se afastava em direção ao banheiro, onde ficava a secadora, Henry a observava. Ela vestida uma camiseta larga que escondia as formas de seu corpo que o vestido preto havia revelado, e uma calça de moletom que já havia sido preta um dia.

Henry tentava entender porque uma mulher tão bonita quanto Alice, parecia não ligar para as aparências. Ou talvez fosse ele que havia convivido tempo demais com pessoas que só ligavam para isso.

"Aqui está. Tudo seco." Disse Alice trazendo suas roupas nas mãos.

Henry agradeceu, pegou as roupas e voltou ao quarto de Alice para se trocar. Já vestido, ele começou a reparar nos móveis e no apartamento de sua funcionária. O imóvel estava em ótimo estado, mas ela quase não tinha móveis, apenas caixas por todos os lados.

"Alice, a quanto tempo você mora aqui?" Henry perguntou já de volta cozinha.

"Dez dias." Ela respondeu quebrando mais um ovo na frideira.

"E onde morava antes?" Henry franziu a testa. De repente, ele sentiu uma necessidade de saber mais sobre ela.

Desligando a cafeteira e tirando duas canecas do armário, Alice respondeu; "Eu alugava um quarto, no subúrbio. Por isso só tenho uma cama decente. Ainda preciso comprar o restante dos móveis. Esses que estão aqui são emprestados da minha amiga de ontem."

'Isso explica a mesa de jardim na cozinha' Henry pensou.

Os ovos que Alice fazia ficaram prontos, e ela colocou dois pratos sobre a mesa e talheres.

Henry apenas a observava se mover de um lado para o outro, trazendo manteiga, pão e queijo.

"Precisa de mais alguma coisa? Presunto, salsichas?" Alice ofereceu, ainda de pé.

"Não, obrigado. Isso é mais do que o suficiente." Henry estava grato.

"Que bom, porque é só o que eu tenho." Alice disse, se sentando a mesa e tomando um gole de seu café.

"Como assim?" Henry, que também já estava sentado, perguntou confuso.

"Eu não tenho presunto nem salsichas. Perguntei por perguntar." Ela respondeu dando de ombros, tirando pequenos pedaços de pão com as mãos.

Henry riu. Alice era realmente incomum.

Os dois conversaram casualmente enquanto comiam, e Venus ficou passeando entre as pernas de Henry, pedindo atenção.

Depois do café, Henry usou o celular de Alice para pedir um táxi até o apartamento onde Charlie estava durante sua estadia em Londres. Agora que a bebedeira havia passado, ele conseguia se lembrar do endereço.

"Obrigado pela ajuda, Alice. E desculpa por roubar a sua cama." Henry disse se aproximando da porta do apartamento de Alice.

"Sem problemas, Mr. Cavill. Espero que tenha dormido bem, pelo menos." Alice colocou um dos cachos de seu cabelo, que escapava de seu coque, atrás da orelha.

Henry a encarou sério. "Já pedi para que me chame de Henry."

Um sorriso tímido surgiu no semblante de Alice e Henry a achou ainda mais cativante.

"Ok, Henry." Disse Alice envergonhada.

Os dois riram e, depois de colocar sua jaqueta e se despedir de Alice com um beijo no rosto, Henry sentiu a mesma sensação da noite anterior. Mas dessa vez, não havia uma caneca de café que pudesse ser derrubada entre eles para interromper o momento. Os olhos de Alice encaravam os seus, e delicadamente, Henry encostou seus lábios nos dela. Ao ver que Alice não protestava, Henry aumentou a intensidade do beijo, passando sua mão direita pelo pescoço de Alice, trazendo-a para mais perto de si.

A maciez e calor dos lábios de Alice atiçavam ainda mais a vontade de Henry de aprofundar o beijo, e, momentos depois de suas línguas se tocarem, fazendo com que sentissem o gosto um do outro, uma notificação no celular de Alice interrompeu o beijo.

"Seu táxi chegou." Ela disse baixinho, os lábios entumecidos.

Henry encostou sua testa na dela e se despediu dizendo,"Até segunda, doce Alice."

E desceu as escadas com o coração descompassado, mas com um sorriso nos lábios.

Quando o Amor AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora