Quando o Amor Acontece

O Jantar

Alice estava parada a um bom tempo em frente ao seu guarda-roupa com uma toalha na cabeça e outra envolvendo seu corpo. A semana toda pensou no que poderia inventar para não ir a esse jantar com Henry. Nenhuma desculpa pareceu plausível, por isso ali estava ela, sem ideia do que vestir, muito menos de onde ele a levaria.

Depois da breve conversa que tiveram na segunda-feira, Alice não o viu mais pela produtora, pois ele e Charlie haviam viajado juntos para Los Angeles a trabalho.

Como assistente pessoal de Charlie, ela conversava todos os dias com ele por telefone e, as vezes, conseguia ouvir a voz de Henry ao fundo, e isso havia sido o máximo que soube ou ouviu de Henry a semana toda. Até meia hora atrás, quando recebeu um SMS dele dizendo que não havia se esquecido do jantar e que a pegaria em sua casa às oito, como o prometido.

O coração de Alice começou a bater mais forte desde então. Mas ela atribuía isso somente a ansiedade, nada mais. Henry só queria ser gentil com ela pela ajuda que ela lhe deu uma semana antes, ela repetia a si mesma.

Respirando fundo pela enésima vez, ela decidiu por vestir uma calça preta justa e uma blusa de gola alta vermelha de cashmere que ganhou de Leslie no último Natal. Retirou a toalha dos cabelos finos, e os secou com um difusor, definindo os cachos acobreados.

A vontade de se maquiar era mínima, por isso apenas aplicou um pouco de rímel, blush no rosto sempre pálido e um batom cor de pêssego, que apenas enfatizava seus lábios proeminentes. Passou um pouco de seu perfume favorito e ficou na dúvida se trocava os brincos que usava por uns maiores. Decidiu manter os pequenos pinos dourados.

Acarinhou Vênus de longe, para não encher sua blusa de pêlos, calçou as botas de cano alto que ela havia separado no hall de entrada e se olhou no grande espelho retangular que tinha. Nada mal para quem nem queria sair de casa.

O som de seu interfone quebrou o silêncio da noite a assustando e quando Alice apertou o botão, ela ouviu a voz de Henry dizer:

"Encomenda para a Srta. Sinclair."

Alice sorriu do bom humor dele. Pelo menos alguém estava relaxado em relação a esse jantar. Colocando seu bom e velho casaco preto, ela pegou sua bolsa e chave e saiu de seu apartamento.

"Seja o que Deus quiser", Alice disse a si mesma descendo os lances de escadas de seu prédio.

Ao abrir a porta principal do prédio, Alice viu Henry encostado no mesmo carro preto que ele a levou para casa no dia em que estava chovendo e, por Deus, como ele estava bonito.

Ele usava um casaco longo, até os joelhos e os cabelos pareciam ainda úmidos de um banho recente. Uma camisa azul escura podia ser vista sob o casaco e ele vestia calças claras.

Assim que ele a viu, abriu um sorriso e Alice começou a se arrepender de estar ali. Como resistiria aquele homem, principalmente depois de terem se beijado?

"Boa noite, Alice. Obrigado por vir." Henry disse a cumprimentando com um beijo no rosto.

O perfume dele, mais uma vez, entorpeceu Alice, que apenas sorriu em resposta.

Henry abriu a porta do carro para que ela entrasse e Alice estranhou a atitude dele. Nunca haviam feito isso para ela. Ela agradeceu e entrou no veículo.  Segundos depois, Henry se sentava ao lado dela e perguntou:

"Tem alguma preferência de lugar?"

Alice pensou um dizer, "Sim, o árabe da esquina da Promethean que vende cachorro quente", mas ela achou melhor manter aquele comentário para si e apenas respondeu:

"Na verdade, não."

"Então vou te levar para um dos meus restaurantes favoritos." Henry disse, acelerando o carro.