Vale de Cerejeira

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Uma menina descalça atravessava um aglomerado de cipós que pendiam como uma cortina, separando a pequena plataforma de onde havia chegado da imensa floresta. A sua frente, quando finalmente ultrapassou as folhas que tampavam sua visão, Marinette viu mais e mais árvores que pareciam não ter fim.

A pequena faixa de água diante de seus pés era tudo o que a separava da grande floresta. As árvores farfalhavam com o vento calmo, transparecendo uma deliciosa calmaria no lugar misterioso. Sem pestanejar, Marinette pisou sobre as duas pedras que possibilitavam sua passagem até a margem. Seus olhos iam e vinham pelo local, observando vagarosamente o balançar das árvores frondosas. “São cerejeiras”, pensou Marinette as admirando.

O tom rosado de suas flores e sua beleza gigante era o que mais impressionava a menina. Por fim percebeu que a floresta não era tão grande como aparentava, apenas dava a entender se vista de longe. Junto com o som do vento que batia em seus ouvidos, Marinette reconheceu um pequeno sussurro. Escutando com mais atenção distinguiu o leve bater de asas, que pelo pouco barulho que se ouvia, deviam ser pequenas.

Bem devagar ela seguiu em direção as vozes silenciosas, tomando o cuidado de não fazer barulho — algo muito fácil quando se está sem sapatos — e acabar assustando o que fosse que estivesse ali. Se esgueirando para trás de uma das cerejeiras, Marinette viu duas fadinhas. Eram minúsculas, e certamente caberiam na palma de sua mão.

Elas rapidamente pararam os cochichos e viraram seus olhinhos, assustadas com a aparição da menina. Durante alguns segundos as três apenas se observaram. As fadinhas tinham suas próprias diferenças, enquanto uma era vermelha e parecida com uma joaninha, a outra exibia sua cor amarela como uma abelha rainha. O contado visual não permaneceu por muito tempo, conforme as pequeninas voavam para longe. “Nem consegui dar um oi”, pensou Marinette tristonha, tentando buscar o lugar onde as criaturinhas haviam ido.

Andando entre as flores cor-de-rosa das cerejeiras, a garota se perguntava para que caminho elas a levavam. Em que mundo ela havia se metido? Suas asas, que mais pareciam seda, pendiam das costas de uma forma estranha. Para alguém que nunca tinha nem sonhado com uma coisa dessas ser possível, aquele par de asas trazia um ar reconfortante. Agora as novas antenas em sua cabeça não pareciam ter o mesmo efeito. Ela chegou a tocá-las para garantir que eram reais, mas mesmo assim ter um par de antenas como um inseto não parecia algo muito animador.

Quando já começava a ficar cansada de tanto andar, a menina finalmente deslumbrou mais uma das tantas belezas daquele local. Uma pequena cachoeira despencava por entre as pedras, e mais no alto, ao lado dela, se encontrava o que aparentava ser o começo de um vilarejo. Mas havia um problema: Marinette não sabia voar com aquelas asas, e esse era o único jeito de chegar até lá pelo que via. Teve vontade de gritar por ajuda, para ver se encontrava mais alguém naquele mundo, esperando que alguma alma respondesse. Nem foi preciso.

Enquanto ela ainda olhava para a cachoeira duas pessoas, ou melhor, fadas pararam ao seu lado. Não assemelhavam ser diferentes de sua aparência atual em quase nada, a não ser pelas cores das roupas e cabelos. Uma delas era uma garota loira, com o cabelo curto e um vestido rosa com branco. Ao seu lado a outra fada era ruiva, seu cabelo atado em um rabo de cavalo e óculos em frente dos olhos castanhos. Seu vestido laranja com detalhes em branco se destacava sob a pele morena.

Por um instante apenas se observaram, mas Marinette percebeu algo estranho sobre a loira. Ela tinha uma vaga lembrança dos antigos moradores dos quais seus pais compraram o novo apartamento em Paris. Por algum motivo, que ainda era desconhecido, aquela garota a lembrava muito a mulher que eles encontraram antes de se mudar para a nova casa. Ela também era loira, com os mesmo olhos azuis que a menina a sua frente. Não conseguia entender por que alguém deste estranho mundo poderia se parecer com alguém de Paris.

— Oi, eu sou a Alya. — Disse a ruiva. — E esta é Rose. Você é nova por aqui?

Marinette observou as duas durante mais um segundo, até conseguir responder.

— Sou. — Ela olhou para os pés, tentando encontrar algum apoio inexistente.

— Você por acaso tem nome? — Zombou a morena, rindo da timidez da estranha.

— Me chamo Marinette, sou de Paris. Ainda estou tentando me acostumar com tudo... isto. — Ela gesticula mostrando tudo ao seu redor.

— De Paris?! — A menina loira, antes calada, olhou espantada para Marinette. — Como você pode ser de lá? Só existe um portal para o mundo dos humanos, pelo menos foi o que me falaram.

Rose olhou pensativa para seus pés, como se revivesse uma memória distante. Observou enquanto seu pai e sua mãe a abraçavam em um dos muitos passeios que faziam. De relance viu sua antiga casa também, e seu quarto todo decorado de tons rosa. O espelho, comprado a pouco tempo, brilhava com suas lótus coloridas, do mesmo modo que o livro verde-água que tinha aparecido junto dele. Seu maior arrependimento era ter comprado aquele espelho, mesmo que o mundo que escondia fosse maravilhoso.

— Bom, eu me mudei hoje e acabei encontrando um espelho estranho no meu novo quarto. Tinha um livro perto dele, e quando o peguei umas palavras apareceram onde antes eram só folhas brancas. — As duas garotas se espantaram, entreolhando-se. — Mas eu tenho a sensação de que você sabe bem do que estou falando. — Disse Marinette, apontando para Rose.

— É, sei sim. — Ela confirma. — Na verdade sou a única fada desse lugar que entende.

— Então você também é de Paris?

— Sou. Já vai fazer três meses desde que fiquei presa aqui.

A azulada finalmente tentou ligar os pontos. Lembrou de uma menina loira que desapareceu misteriosamente, da antiga moradora de sua nova casa que parecia familiar. Não haviam se passado meses desde que a notícia tinha aparecido na televisão. Haviam se passado anos. Sua mão rapidamente foi de encontro a boca, em espanto. Rose a observou confusa, assim como Alya.

— Não se passaram três meses. — Conseguiu dizer Marinette. — Se passaram três anos no mundo real.

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Desculpe pela demora gente kk, mas finalmente consegui terminar. Espero que tenham gostado e prometo não demorar tanto para o próximo. Byee

Flor de LótusOnde histórias criam vida. Descubra agora