Halloween na Escócia

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O bruxulear das velas dava a ela uma visão mais clara do lugar que se encontrava. Não conhecia aquele lugar, nunca o tinha visto antes. Era um lugar diferente da outra vez. Ela observou as janelas quebradas, as teias de aranhas espalhadas por todo o teto e debaixo de alguns móveis decrépitos. Sentiu um arrepio por todo o seu corpo. Seu cérebro gritava para ela correr dali, mas algo dentro dela insistia em permanecer. Uma força estranha a prendia àquele lugar. Sentia medo, mas estranhamente, sentia-se atraída pelo próprio medo. Aquilo chegava a ser absurdo. O que diabos estava acontecendo com ela?

Suspirando, Regina ouviu um barulho estranho, aquela força estranha ficando cada vez mais forte. Ela girou o corpo, atraída como um ímã por aquela sensação de que alguma coisa estava prestes a acontecer. E então ela viu, como todas as vezes, aquela sombra crescendo aos poucos. A cada ano crescia um pouco, parecia acompanhar o seu próprio crescimento. Começou como uma mancha escura que quase não se podia ver, depois foi crescendo e crescendo... E continuou a crescer. Ela deu um passo para trás, espantada com o jeito que aquela coisa estava tomando forma. Parecia a sombra de alguém. Queria que fosse a própria sombra, seria menos chocante, mas era uma silhueta masculina. O pavor tomou conta de toda a sua expressão quando a sombra ganhou membros superiores e inferiores. Ela fechou os olhos, covarde demais para esperar o resultado final. Todavia, aquela familiaridade com aquela coisa, o desejo de se lançar sobre ela e segurá-la para si a fez abrir os olhos. O que ela viu lhe deixou petrificada. Os olhos da sombra pareciam dois precipícios de tão negros que eram. E ela se viu querendo se lançar sobre eles. Ela deu um passo em direção à sombra. Mais um e mais um. Quando chegou perto suficiente, ela pode enxergar claramente os olhos da coisa e o que viu ali, fez sua respirar acelerar e sua boca abriu num grito desesperado e silencioso. E então a sombra a engoliu.

– Não! – Gritou ela, alarmada, sentindo seu coração bater acelerado e o corpo tremendo. Seu olhar foi de um canto a outro, reconhecendo o lugar que estava. Ela apertou os olhos e levou sua mão a testa, sentindo a pele molhada de suor. Felizmente estava no seu quarto, tinha sido apenas um pesadelo. O mesmo pesadelo que sucedia aquela data. Parecia que o universo gostava de brincar com ela, apenas porque nascera naquele dia em específico.

Regina ficou ali sentada na sua cama e seu olhar desviou para o calendário na parede. Era o seu 17° aniversário. Tinha um dia longo pela frente. Longo e entediante.

Ela ouviu passos no corredor e encarou a porta, então começou a contar.

1, 2, 3... Não precisou contar mais que isso. A porta abriu em um rompante e sua irmã apareceu com um bolo em mãos e balões em formato de coração.

— Feliz aniversário, irmãzinha — desejou ela, contente. Regina não pôde deixar de sorrir. A recém-chegada jogou um saco de doces para a irmã e Regina o agarrou antes que batesse no seu rosto.

Ainda inconformada, por dividir aquela data com o evento mais esperado do mês, ela sussurrou para si:

— Feliz Halloween!

🎃🎃🎃

Na Escócia, o Halloween não era tão comemorado como nos Estados Unidos e Regina era feliz por morar em Edimburgo, graças a uma promoção no trabalho que sua irmã recebeu. A comemoração era mais moderada pelas ruas da cidade. Apesar de a aversão por nascer no dia das bruxas, amava perambular pelas ruas da cidade, principalmente na rua Royal Mile, onde acontecia eventos que relembravam celebrações pagãs. Desde que chegara na cidade, 2 anos atrás, não tinha perdido uma celebração. Gostava das cores, das fantasias e pinturas que encontrava durante as festividades. Sua irmã sempre a acompanhava, mas gostava de ficar explorando casarões históricos enquanto Regina se perdia em meio a festa. Dessa vez não fora diferente.

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