capítulo I

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É UM REINO LINDO. O IMPÉRIO BRANCO POSSUI PEÇAS
TRANSPARENTES.
ATRAVÉS DE CADA UMA DELAS PODEMOS ENXERGAR A PRÓXIMA. JÁ
AS PRETAS, RELUZEM O JOGO TODO. VOCÊ VIU, PAPAI? SE OLHAR ATENTAMENTE
PARA CADA UMA DAS PEÇAS PRETAS, VERÁ O TABULEIRO REFLETIDO
INTEIRAMENTE NELAS E A AMEAÇA DO EXÉRCITO INIMIGO.

****

Abriu os olhos pela manhã e, em poucos instantes, lembrou-se de que era sábado, seu dia preferido. Levantou-se da cama e olhou através da janela. A neve da noite
cobrira a rua, assim como os telhados e muros das casas vizinhas, comprovando que o inverno
na Inglaterra viera com intensa força naquele início de ano, em 1947.
Anny vestiu um agasalho por cima do
pijama, colocou uma touca e um par de pantufas e saiu de seu quarto, no
momento em que o relógio apontou oito horas da manhã.
Foi até o quarto dos pais, que se encontrava com a porta entreaberta, e espiou.

Eles ainda dormiam.

Apesar do frio que fazia, ela sentiu-se quente e feliz por saber que eles
estavam ali. Sentiu que aquele seria mais um dia em família, daqueles que ela tanto amava.
Desceu as escadas de sua casa e rumou para a cozinha, pois, embora tivesse apenas oito anos, já aprendera a fazer o café da manhã preferido de seus pais.
Após meia hora, ela subiu novamente as escadas, entrou silenciosamente no
quarto, aproximou-se do ouvido da mãe e disse:

- Mamãe, eu fiz panquecas.

Cindy moveu-se vagarosamente na cama, esticou os braços e, finalmente, abriu os olhos. A filha a contemplava com um sorriso e, então, pulou em seu pescoço, dando-lhe um abraço de
bom-dia. O pai acordara do outro lado da cama. Anny foi até ele, também lhe deu um forte abraço e
disse:

- Venha logo papai, você não vai querer que as panquecas esfriem.

Alguns minutos depois, a família estava reunida na mesa para o café preparado por Anny:

- As panquecas estão de fato muito saborosas, querida - disse o pai.

A garota sorriu feliz, enquanto também saboreava a sua panqueca.

- Estão mesmo - concordou Cindy -, só não entendo por que você insiste em nos chamar cedo aos sábados. Ainda estamos exaustos pela semana de trabalho. Você é uma ingrata, Anny,
isso sim!

- Não sou ingrata, mamãe - respondeu a garota, olhando para baixo e
ameaçando choro.

- É, sim. Além do mais, você só sabe reclamar da nossa falta de tempo -
completou Cindy, imponentemente.

- Eu não vou mais reclamar. Já estou me acostumando a estar com vocês
somente aos sábados. Então eu acordei cedo hoje, para não perdermos tempo.

Cindy colocou mais um pedaço de panqueca na boca e continuou o assunto:

- Você só sabe se queixar, Anny. Queixa-se até da professora que vem educá-la na semana!

- Eu não gosto da senhora Jane! Ela briga comigo e não me deixa brincar.

- Se ela briga é porque você dá motivos. Jane é a melhor professora da cidade, não poderíamos garantir a você uma educação melhor!

- Eu queria ir para a escola e ter amigos.

- Já explicamos isso tantas vezes - disse a mãe, agora brava com a situação que se repetia. - Seu pai e eu também recebemos nossa educação em casa e nos saímos muito
bem. É perda de tempo ir à escola quando se pode pagar por uma educação de alta qualidade sem
sair de casa, ainda mais nesses tempos. A Guerra acabou, mas o perigo ainda ronda as ruas e todos mantêm os filhos dentro de casa. Além do mais, você é muito nova para ter amigos.

Jogando Xadrez com os anjos.Onde histórias criam vida. Descubra agora