Capitulo Único

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— Droga de hambúrguer. — disse a mim mesmo. 

     Percebi que havia algo esfarelando em minha boca depois de dar a primeira mordida, retirei o pão do lanche e vi que estava coberto de areia. Não mais somente o pão, mas agora toda a mesa, que espalhava os grãos de areia pelo chão. 

     Levantei-me com um salto derrubando a cadeira na qual me sentava. Olhei para todos os lados e ninguém parecia ver o que estava acontecendo. Como ninguém nesse maldito shopping conseguia ver isso? A areia agora caia das janelas se espalhando pelo chão, as pessoas passavam por cima dela como se não estivesse ali, foi quando percebi que precisava correr, somente eu via aquilo.

     Em alguns segundos já me encontrava na saída,consegui pedir um Uber mesmo estando com as mãos tremulas. O carro chegou e entrei sem me demorar,a areia já caia do meio fio para rua e o sol era mais forte do que em qualquer outro dia que eu tenha lembranças.

     Me senti aliviado, tinha tempo suficiente para avisar o que acontecia a minha mãe e sair dali. Não havia sinais de areia na rua, mas meus pés estavam cobertos por ela, olhei para o motorista e vislumbrei algo horrível, ele não tinha olhos e nem lábios, apenas buracos de onde escorria areia descontroladamente.

     Pulei para fora do carro e corri até a porta de casa, tentei girar a maçaneta sem sucesso, não estava aberta, gritei por minha mãe mas não obtive resposta.Dei a volta e tentei a porta dos fundos em vão,também trancada. Peguei uma grande pedra do quintal e a joguei contra a janela, coloquei meu casaco sobre os vidros e entrei. Meu corpo inteiro pingava suor e tremia, minha respiração ofegante me impedia de me acalmar e pensar direito sobre oque acontecia.

     Subi a escada saltando os degraus, fui até meu quarto e tranquei a porta. Olhei pela janela e estremeci, a areia tomava conta de tudo, com tamanha abundância que as casas estavam submersas. Ouvi um som estridente ao longe  se aproximando, cada vez mais perto, o andar e o som de presas se batendo tomavam meu corpo com medo. Me deitei na cama e cobri minha cabeça como travesseiro, desejando que tudo aquilo acabasse e fosse um mero sonho.

     Não sei dizer quanto tempo se passou, mas voltei a realidade quando o travesseiro já não mais anulava o som que antes eu ouvia. Tirei-o de minha cabeça e abri meus olhos, a areia entrava pela porta que se rompeu e despejou areia em todo o quarto. Foi quando algo saiu dela, era uma centopeia enorme, parecia algo de outro mundo, uma corda se materializou no teto, estaria eu imaginando tudo isso? Sem me deixar tempo para reagir, a centopeia me cercou com seu corpo e agora me encarava, sua boca era repleta de presas e seu corpo era duro como um diamante.

     Como uma cobra ataca sua presa, a criatura fez o mesmo, quando me dei conta minha cabeça estava dentro de sua boca e eu sentia minha pele rasgar e ser perfurada, nesse momento tive certeza de que era real, a dor era insuportável, me sentia sufocado, não conseguia respirar e não havia forma alguma de sair daquilo, meu corpo estava fraco e dei meu último suplico para tentar sobreviver.

 Interrogatório de Beatriz Ribeiro Dia 24/08/2020 15:27. 

— Certo, Amanda, conte-me desde o começo.

 — Eu havia ido visitar meus pais no interior, quando voltei o vizinho me disse que viu o Samuel gritar meu nome para a porta e depois ouviu o barulho de vidros se estilhaçando. Me senti muito confusa, perguntei a quanto tempo isso tinha acontecido e ela me informou que já faziam dois dias. Fui até a porta e a abri, a janela estava destruída e sua jaqueta se encontrava em cima do parapeito, uma pedra se encontrava no chão da sala com vidros espalhados pelo chão.Comecei a entrar em desespero, andei pela parte debaixo toda e não encontrei mais nada alarmante,subi as escadas com cuidado, temendo que algum perigo estaria ali. Quando entrei em seu quarto meu corpo parou, estava todo revirado e com coisas quebras, tinha uma corda com nó de forca jogada no chão, minhas pernas perderam a força e cai com as mãos sobre o rosto, comecei a chorar e a me perguntar o que o teria levado aquilo, ele tinha se medicado, não consigo entender.

 — Medicado?

 — Sim, Samuel é diagnosticado com esquizofrenia, estava controlada a um bom tempo e por isso confiei em deixa-lo sozinho, nunca imaginei que algo assim iria acontecer.

 — A policia revistou a casa tentando entender como o corpo de alguém enforcado sumiu, não encontraram nada que desse alguma pista, mas não havia remédio em nenhuma das capsulas.

 — Impossível, eu me certifiquei de que eram suficientes até a minha volta, e agora? Só aceito que meu filho teve um ataque e acabou se matando e que seu corpo sumiu repentinamente? É o trabalho de vocês fazer algo. 

 — Se acalme, iremos continuar investigando, vá para casa agora e entraremos em contato quando descobrirmos algo novo, se precisar de algo não sinta receio de nos pedir.

 Fim do Interrogatório.

     Voltei até minha casa, agora sozinha, sem meu filho para me fazer companhia, tentei acender a luz mas não funcionou, não acredito que isso foi queimar logo agora, a única coisa que me ajudava a enxergar era uma luz que vinha das escadas, a lâmpada do quarto dele estava acessa, teria eu esquecido de apaga-la?

     Não havia nada diferente de antes, comecei a arrumar o quarto, com um peso enorme no coração, como se eu não tivesse mais nada, quando levantei um de seus livros do chão notei algo incomum, havia sangue no carpete, como alguém que se enforcou jorra sangue?

     Uma brisa gelada entrou pela janela assoprando meu pescoço, virei minha cabeça e me assustei, grãos de areia caiam da janela, e ao longe ouvi um barulho arrepiante se aproximar. 



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