Seu medo

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Ao sul da Venezuela, antes dos bravos desvendarem os mares e tesouros, um clã de guerreiros tomava conta dos vilarejos. Seus integrantes tinham a missão de defender os moradores, as colheitas e os sábios, que traziam o equilíbrio espiritual para as vilas. Homens fortes e jovens era os lutadores que faziam parte desse clã. Os Sudefijas sempre foram os protetores daquela pequena aldeia e, como todo grupo, existiam rituais de passagem a serem cumpridos. O mais famoso era o de iniciação. Rapazes, ao completarem 19 anos, eram escoltados até uma floresta distante, onde encontrava-se uma caverna, após 4 dias de caminhada selva adentro. As lendas diziam que dentro desta caverna estavam os maiores perigos já vistos pelas civilizações. Diversos moços morreram ao entrarem para o clã, pois não conseguiram sair da caverna. O chefe dos guerreiros, Rotyui, sempre lembrava os meninos da aldeia o que enfrentariam quando chegassem à idade. Contava sua experiência, onde enfrentou um gigantesco animal, de 8 patas e dentes afiados como pedras pontiagudas. Suas garras eram grossas e podiam dilacerar humanos com um único golpe.

Pelukia, um dos futuros guerreiros, aguardava ansioso o dia de seu aniversário. Assim como outros do vilarejo, nascera na primavera, 4 dias depois do início da estação. Ao final de todo o ciclo das estações, os garotos que tinham 19 anos eram reunidos no centro da aldeia. Uma grande celebração era feita, com música, dança e comida e, ao cair da noite desse dia, eram encaminhados a uma gigantesca fogueira, onde Rotyui contava como foi adentrar a caverna e o que encontrou lá dentro. Já era primavera e já se passara 3 dias desde o início do desabrochar das flores. Logo seria o 4º, onde a festa aconteceria e, na manhã seguinte, Pelukia adentraria a floresta e, após a longa viagem de esclarecimento, a caverna. Os preparos do vilarejo já estavam quase prontos. Os pratos que seriam servidos à tarde já estavam preparados, a decoração – flechas e arcos exibidos ao redor da fogueira, para serem jogados ao fogo após o discurso de Rotyui – já estava posicionada. Até mesmo os rapazes estavam rodando ansiosos o centro da vila.

Não tardou a chegar o horário da festa. Dançaram, comeram, beberam, conversaram e logo Rotyui recrutou 9 rapazotes. Pelukia era um deles. Esse grupo, ao nascer do sol do dia seguinte seguiria viagem para a floresta. Seriam os próximos lutadores do clã Sudefijas. Nobres guerreiros, corajosos homens, que jamais se casariam, escolhidos a dedo na infância – onde eram treinados, para serem selecionados pelo próprio Rotyui. De 30 meninos treinados, no máximo 10 eram escolhidos para passarem pelo rito de iniciação. Desses 10, no máximo 4 saiam vivos da caverna. Os sábios da aldeia, ao ensinarem as crianças, contavam que aquela floresta era mágica e que os Grandes Espíritos a protegiam. Eles tomavam conta dos animais, plantas e pessoas que adentravam. Mas, a caverna era onde os espíritos maldosos escolheram para se esconderem.

Em uma luta grandiosa, que deu vida a todos os humanos, os espíritos guias se levantaram contra a tirania dos espíritos do caos, que assassinavam os animais para se alimentarem de seu medo - Os espíritos do caos não temiam nada, então usavam o medo dos indefesos como comida, como forma de obter energia para continuarem sua matança. - Travaram uma batalha que durou 94 dias – a estação inverno, onde nada cresce ou prospera. Ao final da guerra, os espíritos guias venceram, se tornando os Grandes Espíritos, responsáveis pela proteção de tudo que tem vida. Porém, alguns espíritos do caos conseguiram fugir e se esconder e, até mesmo, trazerem novos espíritos para a gangue. Aqueles que não enfrentavam seu pavor eram sentenciado a se tornar um espírito do caos.  A caverna, onde o rito acontecia, era sua morada. Todo aquele que adentrava o local era posto a teste. Cada um dos monstros que os guerreiros encontravam era um espírito do caos, que se disfarçava, expondo o maior medo de quem entrasse. Se um rapaz que teme cobras adentra-se, um espírito do caos incorporaria uma gigantesca cascavel, com ponta de chocalho e presas cheias de veneno. A tarefa de cada um do clã Sudefijas era enfrentar seu maior pavor, para provar a todos que conseguia derrotar tudo, inclusive o pânico de seu próprio coração.

Edição contosOnde histórias criam vida. Descubra agora