Wilni e Zelgle saíram do quarto, a garota permanecia chorando. Os outros olharam para Zelgle com certa pena no olhar, até mesmo Hylia, que sentia uma repulsa imensa quanto a ele parecia comovida com a situação. A única coisa esquisita naquilo tudo é que ele mesmo não conseguia se importar. Wilni foi até a porta, e apesar das lágrimas, ela se virou sorrindo para Zelgle:
—Eu irei avisar a todos na vila que você e seus... — deu uma pausa, procurando a palavra correta. — amigos não são ameaças. — falou, e então saiu.
Zelgle olhou a ação indiferente. Após a garota sair, todo o grupo redirecionou os olhares em sua direção. Não era necessário uma sequer palavra para todos entenderem o que estava acontecendo.
—Quem era ela? — inquiriu Kiere, apenas curiosa com a relação entre os dois.
—Uma amiga. Ela cuidava de mim e da minha mãe, quando ela ainda era viva. — respondeu Zelgle sem demonstrar qualquer tristeza.
—Sei... — falou a meio humana baixinho, normalmente ela não simpatizaria com a dor alheia, mas depois de ter sido salva pelo sujeito duas vezes, era normal, mesmo que não gostasse disso, ficar minimamente abalada com sua situação.
Já outras pessoas não se importavam tanto assim com o luto alheio. Hylia encarou Zelgle sem qualquer pena no olhar, após lembrar o que estavam fazendo, e que toda aquela jornada foi inútil.
—E então, o que faremos agora? — perguntou a princesa séria.
Zelgle a encarou inexpressivo.
—Hylia... — murmurou Lauren na direção da princesa tentando acalmá-la.
—Nada mudou. — falou Zelgle. —Vocês vão passar a noite aqui e quietos. Amanhã, e apenas amanhã, vou pensar no que fazer com o cristal. — Zelgle passou por todos, indo em direção à porta. — Tenham uma boa noite.
—Espera, só tem uma cama aqui... — constatou Tolfret.
—Há mais uma no andar de cima.
—Mas somos em seis! — trovejou Hylia.
—Não dou a mínima. — respondeu Zelgle friamente, e então bateu a porta com força, fazendo poeira cair do teto.
Hylia inspirou, expirou, suspirou e bufou. Não conseguia entender o que se passava na cabeça daquele maldito, não sabia se estava apenas os enganando, mas não poderia fazer nada contra ele, não enquanto ele tivesse aquele cristal em mãos. Zelgle deixou a casa e olhou na direção do vilarejo. Simplesmente não conseguia acreditar que já vivera ali, era quase como ter um déjà vu, porém, sem a sensação de se relembrar de algo. Ele olhou um pouco mais ao longe e viu Wilni falando com um homem alto e de barba grisalha. Deveria estar entre os cinquenta anos de idade, tinha um grande machado em mãos, provavelmente sua ferramenta de trabalho. Encarava Zelgle de relance, por cima do ombro de Wilni, que falava tranquilamente, tentando esclarecer as coisas. Após um minuto, Wilni caminhava na direção de Zelgle, e o homem ia em outra, mas olhando para trás, como se estivesse o avisando Zelgle com o olhar.
—Chrisson. Eu lembro dele. — falou Zelgle para Wilni, que se aproximava. — Continua a mesma ótima pessoa desde que eu sai?
—Sim. — sorriu Wilni, com o sarcasmo. — O mesmo doce de sempre. Ele é o novo chefe agora.
Zelgle ouviu a garota falar e a observou enquanto ela se sentava no primeiro degrau da escada de sua casa. Se sentou junto a ela.

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O Arauto dos Mortos (revisão em breve)
FantasyEvarost é um mundo onde tudo é possível. Desde magia à espécies não humanas, e nesse mundo, os dois impérios mais poderosos entraram em guerra, levando o equilíbrio do mundo ao completo caos. De um lado, o Império Rikiat, conhecido por sua cultura d...