Capítulo um

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Entro na galeria do celular e ao ver uma foto nossa sinto um aperto no peito e tenho a sensação de que uma corda está enforcando meu pescoço, é uma das piores sensações do mundo.
Já completaram dois meses da morte de Carlos, mas parece que foi ontem.
Todos os dias me pergunto o porque, de ter sido dessa maneira, porque aquele carro estava indo tão rápido. Um garoto de 18 anos perdeu a vida por causa de um bêbado desgraçado que dirigia acima da velocidade, isso não é justo. Deixei de acreditar em tudo o que é bom desde esse dia, agora tudo se tornou apenas escuridão.

Vou até a janela e olho ao redor, é surreal tantos prédios, são Paulo é maior que Minas Gerais. Mas nem tanto, apenas estamos em um lugar movimentado aqui. Em Belo Horizonte sempre vivemos em um bairro pequeno e uma casa ainda menor, era pequena para cinco pessoas, mas ficou em um bom tamanho a um ano atrás quando papai se separou de mamãe e saiu de casa levando junto meus dois irmãos, e foi ai que tudo começou a dar errado. Já aqui em São Paulo mamãe preferiu um apartamento, no quarto andar em um condomínio gigante, talvez seja por isso a diferença. Eu não queria vir, mas fui arrastada, mamãe acha que se eu conhecer pessoas novas vou esquecer de Carlos, mas isso nunca vai acontecer, não quero conhecer ninguém, amar ninguém, me relacionar com ninguém. Vai ser ele, apenas ele, para sempre ele.

- Vamos Bárbara, você não pode se atrasar em seu primeiro dia na nova escola. - grita mamãe da cozinha enquanto saio do quarto.
- Ta bom dona Flaviana. - Digo e me sento em sua frente na mesa da cozinha.
- Ei. - Diz ela e segura minha mão acariciando-a. - Sei que você não quer, mas precisa. Pode ter certeza que ele não quer que você se torne uma pessoas angustiada, ele quer te ver feliz. Mesmo que com outra pessoa, já que ele não está mais aqui.
- Porquê? - Pergunto e solto minha mão para secar as lágrimas que não contive. - Porquê tinha que ser assim? - Ela já está cansada dessa pergunta, mas eu só queria uma resposta. Que ela nunca será capaz de responder. Mas não consigo me controlar.
- Você vai conhecer alguém. Talvez não hoje, talvez não amanhã. Mas alguém que te amará tanto quanto Carlos, ou até mais. Alguém que te apoiará em tudo e estará contigo em todos os momentos. Você merece uma pessoa assim e a encontrará, e quando a encontrar, você saberá. E a amará como nunca pensou que seria capaz.
Essas palavras foram fortes, não quero alguém para substituir Carlos mas também não quero ficar sozinha para o resto da vida então apenas faço que sim com a cabeça e volto para o quarto.
Quando me olho no espelho sinto uma dor no peito. Meu rosto está pálido, os olhos estão vermelhos. Meus cabelos são a única coisa que salva em minha aparência.
Visto uma blusa preta e uma calça jeans, suspiro fundo e saio.

Sinto um frio na barriga ao passar pelo corredor repleto de adolescentes.
Estou tentando ser o mais forte possivel, por mamãe. Ver como estou perdida a deixa sem chão, e esse é um dos poucos motivos pelos quais estou tentando seguir em frente.
Há um banco de espera para entrar na sala do diretor e graças a Deus ele está vazio. Mamãe bate algumas vezes na porta e logo após entramos.
- Olá, Bárbara. Seja bem vinda a escola Reiden. Bom dia dona Flaviana. Sou o diretor Richard. - Diz ele comprimentando a mim e logo depois a minha mãe com um aperto de mão. - Estamos no meio do semestre, então não é muito comum novos alunos. Mas terá todo o suporte para seu último ano. Vocês eram de BH, certo? Sem querer ser intrometido mas, teve um motivo pivô para a mudança?
Fico um pouco desconfortável e ambos percebem então respiro fundo e digo:
- É, vou esperar ali fora, tudo bem?
Minha mãe faz que sim e logo que saio da sala ouço que voltaram a conversar.
Quando saio vejo que um garoto está ocupando o banco. Então sento na outra ponta.
O garoto me olha de cima a baixo mas não diz nada, apenas sorri. Sem forças para retribuir apenas abaixo a cabeça.
- Aluna nova essa época do ano? - O garoto tenta puxar assunto, não quero conversar mas não estou afim de parecer uma idiota.
- É, acho que sim. - Respondo forçando um sorriso e olho para ele. Que tem o rosto em uma circunferência perfeita, os olhos castanhos fixados aos meus. Os cabelos pretos estão em um topete, mas não muito grande. Ele é realmente muito lindo.
- Deixa eu adivinhar, seus pais compraram alguma empresa por aqui e foi obrigada a se mudar? - Pergunta ele franziando a testa. Acho que esse é o tipo de coisa que se espera de uma pessoa que chega do nada em uma escola privada. Mas mamãe quis assim, então ok.
- Na verdade somos apenas eu e minha mãe, e não, não tem empresa nenhuma.
- Ah entendi.
- E você o que está fazendo aqui? - a primeira aula já começou e ele concerteza não está chegando agora na escola.
- Uma discussão com um babaca.  - Diz ele de modo sarcástico. - Acho que não sou o aluno mais amado da escola.
Mamãe sai da sala do diretor e acena com a cabeça para que eu caminhe atrás dela.
- Ei. - Me chama o garoto assim que me levanto e começo a andar. - Qual seu nome?
- Me chamo Bárbara. - Digo e continuo andando.

Uma nova chance - BabictorOnde histórias criam vida. Descubra agora