I'm sorry

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"Você se encontra em minha porta
Assim como todas as vezes anteriores
Você usa sua melhor desculpa
Mas eu estava lá para te ver partir
E todas as vezes que te deixei entrar
Só para você partir de novo" ¹

Kim Taehyung fechou os dedos trêmulos sobre o aparelho celular, segurando-o com força contra a orelha. O ar preso nos pulmões, a garganta sendo rasgada a cada soluço que o rapaz insistia em segurar, enquanto o som da chamada ecoava do outro lado da linha. Sem respostas.

Apoiou a mão livre no muro de um prédio qualquer, em busca de equilíbrio. As pernas cansadas pareciam prestes a ceder.

Estava embriagado.

O álcool desperto em suas veias lhe adormecia os sentidos e aflorava os sentimentos reprimidos até então. Entre eles, a saudade de Yoongi. Ferida mal cicatrizada que cutucava vez ou outra, abrindo-a somente para se certificar de que ele ainda estava gravado dentro de si.

Doía, céus como doía, mas era melhor do que deixar que as lembranças do homem que amava se esvaíssem de sua memória. Queria mantê-las por perto, mesmo que não fossem tão doces quanto antes.

"Este número encontra-se indisponível no momento". A voz robótica soou do outro lado da linha.

Mas Taehyung não se importava, então discou o número no visor novamente, apertando as vistas embaçadas para ter certeza de que não estava ligando para outra pessoa em plena madrugada.

Os olhos marejados, queimando, demonstravam o arrependimento que sentia por estar se rendendo àquilo mais uma vez. Por estar se deixando levar por um sentimento que já não tinha lugar para ser nutrido, mas que crescia no limbo de sua consciência, ignorando completamente a realidade. Realidade na qual Min Yoongi e Kim Taehyung não eram mais um casal.

O rapaz parou por um momento e deixou o corpo ser acolhido pela sarjeta, sentando-se desajeitadamente.

Apoiando o celular entre o ombro e a lateral do rosto, pescou um cigarro do maço amassado que trazia no bolso traseiro da calça junto ao isqueiro que havia ganhado de presente do Min e, segurando-o com os lábios pálidos, acendeu e tragou. O gosto amargo lhe invadindo a boca e agarrando-se à sua língua, fazendo-o lembrar de como Yoongi odiava seu fumo barato e o fedor que emanava dele.

Deixou um riso triste escapar, permitindo-se afundar nos dias que precisava fumar na janela do apartamento do mais velho para não encher o ambiente com a fumaça incômoda. Yoongi até mesmo comprou um cinzeiro bonito, de vidro, para que ele não derrubasse as cinzas, e o deixou sobre o parapeito. No qual, às vezes, durante o verão, ele se sentava e contava ao namorado sobre os poemas que havia escrito.

O jovem Kim ainda guardava na memória a imagem de Yoongi, ali, contra as luzes da cidade, rindo confortavelmente com os pés distantes do chão. Naquela época, Taehyung ainda tinha o costume de se aproximar do corpo menor somente para erguê-lo com os braços e sair carregando-o até o quarto, onde passava horas declarando seu amor através de beijos apaixonados. Eram dias bons e quentes, que sua mente não lhe dava o luxo de esquecer.

Ela não o perdoava. De forma alguma. E por isso continuava conduzindo-o até o passado, lembrando-o de cada mínimo detalhe. Fazendo-o voltar repetidamente à visão das mãos bonitas, dos olhos pequenos, do sorriso curto que mostrava as gengivas de Yoongi sempre que seus lábios se partiam demais. Especialmente, à maneira que ele deitava na cama com os braços abertos e resmungava sobre seus dias longos. Mas ela também o recordava dos medos, das lágrimas e das crises. De forma até mesmo cruel, das semanas em que o apartamento ficava silencioso e Min fechava-se para o mundo, mantendo-se em uma bolha impenetrável que fazia Taehyung questionar seus próprios sentimentos.

"Este número está programado para não receber ligações". A chamada sequer chegou a ser completada e o rapaz precisou conter o impulso de atirar o aparelho contra o asfalto. Ao invés disso, esmurrou a calçada na qual se apoiava, juntando os joelhos contra o peito enquanto derramava o choro que mantinha preso há semanas.

Precisava parar. Esquecer. Deixar para trás o passado, os sentimentos, todo o fardo que não sabia nomear.

Precisava parar de chorar. Sabia que sim.

Porque a culpa também estava lá, sentada ao seu lado, rindo copiosamente. Encarregando-se de apontar-lhe todos os erros que havia cometido. Expondo sua covardia. Trazendo à tona o que nele havia de pior.

As palavras, aquelas malditas palavras, foram proferidas por sua boca. E elas não voltavam, mesmo que ele quisesse engoli-las de novo e de novo, somente para não ter Yoongi quebrando atrás de suas pálpebras todas as vezes que recostasse a cabeça no travesseiro.

O que sentia poderia ser chamado de arrependimento? Questionava, em momentos de reflexão, se não passava de egoísmo continuar perseguindo alguém em busca de perdão. Procurando no outro a saída de seu próprio inferno.

Mas, como ainda estava bêbado, esses não foram pensamentos para o qual deu razão.

De forma que não hesitou, por um segundo sequer, antes de discar o número mais uma vez, implorando aos céus que fosse atendido.

Yoongi, assim como nas tentativas anteriores, não respondeu. Apenas observou a tela do celular brilhar, exibindo o rosto do Kim, até que ela se apagasse completamente. Permitindo que a ligação caísse na caixa postal e permanecesse lá, perdida, entre todos os nomes e números que preenchiam seu histórico de chamadas.

Ele continuaria optando pelo silêncio, mesmo que doesse. Pelo tempo necessário, calaria seu coração.

A rejeição seria seu escudo. Até que recuperasse as partes que perdeu, até que Taehyung se mostrasse capaz de amar.

1. The Last Time. Taylor Swift feat. Gary Lightbody. 2012.

Notas da autora: Oi gente, tudo bem com vocês? Espero que sim. Para ser sincera esse não é um dos meus melhores textos, mas prometi escrevê-lo como uma comemoração por Todas as Coisas que (não) Aconteceram Naquela Barraca ter passado o número de 100 visualizações. O shipp foi escolhido pela Anna no meu twitter em uma publicação que deixei aberta e, caso vocês queiram me acompanhar por lá, é só entrar em contato comigo por aqui. 

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Missed Call | TaegiOnde histórias criam vida. Descubra agora