Eu só preciso que você me salve. Sei que vou me arrebentar a qualquer momento. Estou a beira do caos e sinto o vazio me puxando para mais longe. Nunca estive em terras tão inóspitas.
Você costumava ser meu para-quedas, mas agora sei que só restaram minhas asas de algodão. Mas vou pular mesmo assim. Vou pular na minha desordem e apenas esperar que você esteja lá, como sempre esteve. Eu sinto o fim falando ao meu ouvido que pode sentir o meu cheiro. Posso ver em meus olhos todo o descompasso de uma vida inteira. Eu já sinto em minha pele os vermes a consumindo.
Talvez eu já tenha morrido a muito tempo. Não tenho o mesmo coração batendo. A única coisa que me da certeza de que não estou morto (quando a dúvida arde) é a infelicidade de pensar em você. Mortos não se doem com saudade ou se ferem com lembranças.
Eu só preciso que você me salve. Eu só preciso que você me abrace. Espero que esteja bem atrás de mim quando eu me entregar. Não se preocupe. Eu ainda estarei sorrindo em sua direção.
Tenho arrastado a muito tempo minhas correntes e um saco de pedras. Sinto as ondas me chamarem. Elas chamam o meu nome, e estão em prantos. Você me cegou para as cores. Sinto saudade de enxergar o branco de seus dentes e sentir o seu cheiro de cigarro e angústia. Só consigo enxergar a neblina fria misturada a fumaça de seus tragos. E estão se perdendo no espaço.
Eu ouço a sua voz me chamar de longe. Vem de um lugar distante. Posso ouvir você me dizendo que seu corpo seria minha morada até não houver mais vida nos meus pulmões. Até meus olhos não conseguirem te enxergar. Talvez finalmente tenha chegado esse momento. Uma parte de mim já deixou a vida a um bom tempo. O que restou foram os destroços de um naufrágio. Agora sou apenas um barquinho de papel afogado, que velejava em um mar em prantos.
Eu só peço que esteja ao meu lado quando não houver mais nada. Por favor, esteja comigo e me guie quando tudo que sobrar for a escuridão e a presença fria de sua ausência.