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"Me acostumei a estar ao seu lado, a ter sua presença completando a minha durante as noites escuras. Me acostumei ao seu calor, a sua respiração pesada, aos teus olhos cansados e seu cheiro de cigarro. Me acostumei com o seu toque macio, seu jeito inconsequente e inconstante, a sua voz mansa e rouca que me animava todas as noites.
Não estou conseguindo me acostumar a não ter você comigo. Não estou me acostumando a saudade. Eu não consigo dormir. Mas também não consigo continuar acordado enquanto tudo o que penso é você.
Me desfiz em pedaços quânticos na esperança de me encaixar em todo o seu corpo, quebrado de um uma outra vida e preenche-lo, curá-lo, mas você apenas foi embora levando o melhor de mim. Você foi embora sem olhar pra trás no momento mais difícil e sombrio, no único momento em que tudo o que você tinha que fazer era me abraçar e dizer que tudo estava bem, que tudo ficaria bem.
Quando você foi embora, me disse que um dia te esqueceria assim como você havia me esquecido. Prometeu que nunca mentiu ou mentiria pra mim. Confio em você! Mas não entendo. Você foi embora, mas continua partindo. Continua se aproximando do limite de distância, mas nunca ultrapassa. Você pode ter ido embora, mas nunca partiu. Seu amor me custou tudo.
Então eu quem fui embora. Mas eu fui embora quando a única vontade que eu tinha era ficar. Eu fui embora quando a única coisa que havia sobrado era eu. Eu e meu amor sem destinatário.
..."
Sentado de frente ao lago, Rafael lia a última parte da carta amassada. Tudo que havia restado de Lucas. Com o olhar perdido e uma respiração quase imperceptível, deixou que o pedaço de folha voasse de duas mãos indo de encontro ao esquecimento, as palavras desapareciam com o papel se desfazendo na água. Não havia mais nada, mas rafael sabia que nunca esqueceria. As lembranças ainda estavam vivas, e as derradeiras palavras escritas ainda ardiam seu peito.
"Você dizia que me amava mais do que eu podia imaginar.
Eu imaginei que, ao menos, você fosse ficar ."
