Five

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A relação dela com comida é complicada. Mas todos os remédios, todas as coisas que ela precisava agora, eram encontrados nisso.

Bom, era isso ou viver de vitaminas em comprimido.

Viemos do hospital com ela parecendo cansada, e eu, ainda preocupado.

Entrando no apartamento dela, estava tudo exatamente como ela deixou.

- eu.. preciso dormir - a voz dela transparecia o quão esgotada estava. - fica comigo? Por favor.

- É claro que sim, amor. Eu fico o quanto precisar.

- Obrigada - ela colocou a franja atrás da orelha em um gesto rápido - Agora preciso de um banho, todo aquele hospital e tudo mais me deixa... - sai apenas um barulho de brrr da boca dela e então ela sai direto para o banheiro.

Eu queria conseguir erradicar todos esses problemas. Retirar todo o medo e sentimentos ruins que há dentro dela. Tenho tentado há 8 anos, acho que evoluímos, até. Ainda estamos aqui, tenho orgulho de nós e de como conseguimos passar por tudo.

- Meu bem? - a voz dela chega a mim e faz com que todos os pensamentos sumam.

- oi oi amor

- Ai, que bom, você ainda tá aqui - ela ri, aliviada. É engraçado como ainda não nos acostumamos a estar tão perto.

- Eu disse que sempre estaria

Vi o maior sorriso que ela conseguia dar em meio ao cansaço, direcionado a mim e então indo vestir uma roupa leve.

Passa minutos e ela vem, com o pijama já no corpo e me chamando para ir, ficar com ela.

Eu nunca vou deixar de dizer o quão surreal isso tudo é.

Ela se deita e eu me sento ao seu lado, pronto para velar o seu sono e a proteger, de seja o que for.

Na cama, ela se aconchega e deita no meu colo. Rindo, ela coloca minha mão na sua cabeça pedindo um carinho.

E daí que ela tem quase 24 anos, ela ainda consegue ser um bebê fofinho.

A observo fechar os olhos devagar e cair num sono, provavelmente cheio de sonhos, ela é sonhadora.

*
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5 da manhã. Percebo tarde que caí em sono profundo também, olho para o lado e ela já não está na cama. Me levanto em um pulo quando ouço barulho de coisas caindo.

"Merda" penso.

Ando em passos lentos até a cozinha e vejo a garota de cabelo bagunçado e sorriso, fazendo um café da manhã

- Bom dia, meu solzinho - esse apelido me deixa feliz.

- bom dia desastradinha, a essa hora e você já deixa coisas caírem?

Ela balança a cabeça e ri em afirmação

- Poxa, é o meu talento matinal

E rindo, ela coloca as panquecas em seus respectivos pratos, e aponta a todos os recheios que ela arrumou nesse meio tempo

- temos manjericão, queijo... - me perdi no meio de toda a explicação, olhando para ela.

- Ei! Acorda - levo um tapa me fazendo voltar a realidade e esfregar o braço. Porra, ela é forte - E vai comer agora

Ela me olha com cara de brava e "me intimida"

- Tudo bem, tudo bem... Tô indo

- Obrigada, moço bonito. E vou ir direto para os doces - Ela ri enquanto bota mel e chocolate por cima da panqueca, e faz barulhinhos com a boca.

Eu poderia observar isso o dia todo.

- Você vai ir pra casa hoje? - ela me olha com aquela carinha de gato de botas

- Eu vou sim, preciso ir trabalhar hoje, amor - ela fez um muxoxo - mas prometo que vou ficar com você da hora que chegar até quando você quiser

- Obrigada - seus dedos se juntam aos meus no canto da mesa - Também preciso ir hoje, já não fui ontem e as meninas estão completamente bravas comigo, e com razão já.

- Cuidado - peço. - e coma direitinho durante o dia, teu celular tem todos os alarmes dos remédios que você precisa. Eu vou cobrar.

- Tudo bem, pai - ela ri e termina rapidamente de comer, assim como eu - A gente poderia voltar a dormir... Você só precisa trabalhar às 9, não é?

Assinto e nos dirigimos ao quarto dela, de novo, mas no fim, ela me leva a varanda.

E assim, vejo o por do sol com aquela que eu escolhi amar.


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⏰ Última atualização: Nov 02, 2020 ⏰

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