I.
E lá vamos nós de novo.
Mal chego na sala de conferências e já enxergo Mark de cabeça baixa, sentado em uma poltrona afastada, na fileira de cadeiras mais distante da discussão acalorada que acontece no local, enquanto o dedo desliza pelo touchscreen de seu iPhone, furiosamente. Ele para um instante, digita algo como se sua vida dependesse daquilo e move os lábios como se apenas ler em pensamento não fosse suficiente para assimilar as informações naquela telinha minúscula. Eu nem preciso me aproximar para saber que ele, mais uma vez, está fazendo um teste de compatibilidade de signos.
É sempre assim.
– Boa noite, João Bidu – murmuro ao me aproximar, sentando na poltrona ao lado, que ele gentilmente se deu ao trabalho de manter guardada para mim, usando sua mochila. – Qual a boa de hoje? Eu deveria usar rosa ou amarelo?
– Ai, cala a boca, Gaga! – Reclama, seguido de um muxoxo quase fofo, a insinuação de um bico pairando em seus lábios por mais um tempo, enquanto seus olhos seguem fixos na tela de seu celular. – ...o excesso de críticas. Tentem pegar leve. Viu só? Eu sabia.
– Hã? – Pergunto meio lento, pensando se devo prestar atenção no debate cansativo entre os candidatos à nova chapa estudantil do campus ou voltar para a ladainha de sempre de Mark.
– O Youngjae. – Mark fala, finalmente levantando os olhos do aparelho em mãos, para me olhar. Então ele sorri, erguendo as sobrancelhas numa daquelas suas expressões que quase diz: agora tudo faz sentido. – O maldito Choi Sonso Youngjae que insistiu em quebrar com toda a lógica que estabelecemos de início. Virgem com Virgem só dá certo se ambos se empenham. A amizade era fácil, caramba. Pra quê mexer no que estava bom?
Eu só reviro os olhos enquanto ele continua seguindo o mesmo raciocínio infundado e cheio de baboseiras. Com o Mark era assim, ou você acredita veemente nessas drogas de astrologia e se torna uma alma gêmea dele, ou faz como eu, ignora toda a merda e apenas se acostuma, por que no fundo de tudo isso, Mark Tuan é um cara legal. Vale a pena, sabe?
II.
2 anos antes, calourada do Departamento de
Humanas, Universidade Nacional de Seul.
– Chega junto, molecão. – O tailandês magrelo acenou para mim, seu inglês quase impecável agora soava embolado, talvez por culpa do álcool. Seus braços longos estavam envoltos de outros dois caras, um de cada lado, quando ele jogou a cabeça para trás outra vez, insistindo em me convidar a aproximar mais de sua rodinha de novos amigos.
Eram todos calouros aqui, como esse garoto já tinha feito tanta amizade numa única noite? Mas, pensando bem, faz sentido quando lembro que foi fácil enfrentar a primeira semana de aulas e ajustes em um campus novo, graças a Bambam. A única parte difícil mesmo foi tentar falar seu nome completo, nos primeiros dois dias. E ele sempre explodia numa risada alta ao me ver falhar miseravelmente. No terceiro dia, apenas acertamos que, assim como faziam na Tailândia, eu o chamaria pelo apelido e tudo seria mais fácil para ambos.
– Galera, esse é o Wang Jia-Er... – disse, hesitando um pouco na última sílaba, me lançando um olhar estranho, que eu penso ter sido questionador. Então apenas assenti, notando que sua pronúncia finalmente estava melhorando. – Ele acabou de ser transferido de Hong Kong.
– Coitado do bonitão, mal chegou e já encontrou a cobra mais asquerosa do lugar. – Um dos caras que estava sob os braços de Bambam se manifestou, antes mesmo que eu pudesse abrir os lábios para saudá-los. Era tão alto quando o tailandês e eu só percebi isso quando ele ajeitou a postura, escapando do braço do amigo para dar um passo em minha direção, ignorando parcialmente o meu próprio espaço pessoal ao inclinar seu rosto na direção do meu – Me chamo Yugyeom, muito prazer.
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Match, Unmatch!
RomanceMark Tuan descrevia a si mesmo como apenas um entusiasta da astrologia, e até então, tudo bem. O que tirava Jackson do sério era a ironia por trás da lógica de cada combinação de signos. [Friends to Lovers] História concluída. Avisos: Tem smut sim...