Maya conhece a faculdade (parte dois).

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    — Oi, Maya — ele disse.
    — Oi, Lucas.
    Meu coração saiu pra fora. Senti duas mãos nas minhas costas e me virei de lado até perceber que eram as mãos de Lia e de Amy. Suspirei de alívio ao perceber que elas estavam me tocando para evitar que eu caísse a qualquer momento. Era reconfortante saber que alguém estava ao meu lado quando eu mais fosse precisar.
    — Maya, você quer que a gente traga alguma coisa pra você? Acho que você tem algumas coisas para resolver — disse Amy, afagando o meu braço.
    Engoli seco e assenti, quase tropeçando em meus próprios pés.
    Lia respirou fundo e puxou a amiga para fora do corredor, desaparecendo entre os outros alunos ali presentes.
    Me escorei não porta no quarto, olhando para as minhas botas. Levei uma mecha de cabelo para trás da orelha e fiquei analisando o silêncio ensurdecedor. Como? Como todos podiam estar ali. Quando eu mais precisei de cada um deles, eles não estavam por perto — mas agora, prestes a seguir a minha vida finalmente feliz, finalmente pensando em mim, eles estavam. Todos.
    — Eu gostaria muito de perguntar a você, Maya, o nome das suas novas amigas. Mas acho que não é uma boa hora, não é? — encarei Zay como se eu fosse uma felina selvagem e ele a minha presa prestes a cair na armadilha. Ele entendeu o recado. Ainda com o mesmo senso de humor.
    — Já que ninguém além do Lucas e da Maya falaram "oi" e o Zay só falou besteira — disse Farkle, me forçando involuntariamente a encara-lo — eu vou arriscar e perguntar... Oi, pessoal. Como estão?
    Nenhum dos seis parecia confortável com a situação, mas Riley resolveu quebrar o silêncio também:
    — Oi, pêssego — ela se virou pra mim. Um sorriso fraco inundou os seus lábios. Ela estendeu os braços e veio em minha direção. Não importa o que tivesse acontecido, eu não recusaria um abraço dela. Nunca.
    Senti o cheiro do perfume familiar outra vez. Os braços de Riley me envolveram em um abraço inseguro, mas tranquilo. Não parecia ser a minha melhor amiga, mas ao menos ela estava ali, bem. Eu esperava que estivesse.
    Nos separamos depois de alguns segundos e olhei dentro de seus olhos, tentando ler quem era aquela nova Riley na minha frente.
    — Oi, docinho — nós duas sorrimos e ela levantou o anel.
    Meu olhar foi para outra direção.
    — Raio — disse Riley.
    Ignorei e brinquei com o anel que Shawn havia me dado.
    — Me desculpa, Riley. Eu não sabia que ainda continuaria usando o anel depois de tanto tempo — disse, da forma mais sincera que eu encontrei.
    Ela não falou nada, apenas se afastou e voltou para a porta do quarto em que ela havia saído.
    — Então... O que vieram fazer aqui? Por mais que seja óbvio — disse — essa parte do prédio é do dormitório feminino.
    Farkle foi quem se pronunciou quanto a isso:
    — Não nesse ano, na verdade — eu o encarei confusa. Não estava só confusa, estava irritada também.
    — Como é? — perguntou Isadora, pela primeira vez falando alguma coisa. Até então, a que menos demonstrava qualquer sentimento também pareceu hesitar.
    — Acontece que eles estavam com superlotação nos dormitórios esse ano, e acabaram confundindo na hora de dividir. Tudo ficou misturado, e como a maioria dos alunos já tem dezoito anos, bem, eles não se importaram em deixar assim. Já estava tarde para tentar mudar todo mundo de quarto e nos últimos dias, vários jovens já tinham se instalado — respondeu Farkle, como sempre tendo uma resposta pronta — ou quase sempre.
    — Como eles confundiram isso? Não me parece muito simples — disse Lucas, e eu virei o rosto para outra direção.
    — Trote — foi Riley quem respondeu, para a surpresa de todos. — Meu tio Josh disse que uns amigos contaram para ele que estavam ansiosos pelo trote que fariam na universidade. Eu não sabia que seria assim, só imaginei que seria realmente grande. Parece que souberam deixar um legado.
    — Um legado tem que ser bom, Riley — disse Lucas, completando. — Não uma idiotice dessas.
    — Quer mesmo falar sobre idiotices, Huckleberry? — quando percebi, eu já estava na frente dele, com os braços cruzados e com o rosto próximo. Ele me encarou, nervoso.
    Lucas procurou as palavras certas e eu arqueei a sobrancelha.
    — Maya, não...
    — Harr-ruuuurh! — os olhos dele se encontraram com os meus por um breve momento.
    Lucas abriu a boca para falar alguma coisa, mas recuou.
    — É, parece que algumas coisas nunca mudam — disse Zay. Seu tom havia sido baixo, mas todos pudemos escutar.
    Me afastei de Lucas e caminhei devagar até Zay. Ele estava com o rosto mais definido, alguns músculos a mais e por mais que eu não tivesse nada contra ele, não estava muito feliz para aguentar piadinhas vindo de outra pessoa.
    Arqueei uma de minhas sobrancelhas e soltei uma risada não tão agradável. Olhei bem no fundo dos olhos dele e senti minhas narinas se moverem. Mal reparei que estava quase rangendo os dentes.
     — Tem razão, Zay. — disse, ainda calma. — Mas sabe o que mais — me aproximei dele, encostando meus braços no peito dele — não deveria mudar?
    A essa altura ele me encarava nervoso. Nenhum dos outros falou nada.
    — Maya... — Riley tentou me chamar, mas apenas ignorei.
    — O-o que? — perguntou Zay, nervoso.
    — Os amigos. — quando cuspi as palavras no rosto no rosto de Zay, me virei para cada um dos outros que estavam ali. — Amigos não se deixam de lado. Amigos não deveriam mudar. Amizades — dei ênfase no amizades — não deveriam acabar só por causa de caprichos dos outros.
    — Maya, não acho que essa seja a melhor hora pra isso — disse Farkle, mais baixo do que Zay.
    Eu me virei pra ele, sem controlar as lágrimas que estavam começando a cair.
    — Nunca parece ser uma boa hora para se falar algumas verdades na cara dos seus... o que for que vocês sejam agora — deixei os braços caírem ao lado do corpo e enxuguei uma lágrima insistente.
    Ninguém mais ousou falar nada, e eu saí dali. Smarkle, com toda dificuldade, abriu um pequeno sorriso, tímido é culpado, e tocou o meu braço antes de me deixar ir. Não tive coragem de olhar para trás e não estava afim de fazê-lo também.
    Quando sai do campus para encontrar as meninas, uma brisa do fim do verão me atingiu. As minhas lágrimas arderam um pouco, mas eu abri um sorriso involuntário.
    Não importa as situações, eu pelo menos os tinha encontrado mais uma vez.

Eighteen - Lucaya.Onde histórias criam vida. Descubra agora