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~•~•~

Dani

— Sim. — a voz de Edmund ecoou na sala.

— Danielle Clayton, você aceita Edmund como seu legítimo esposo? — O juiz perguntou e ele me olhou profundamente nos olhos.

— É Você, sou eu, somos nós. — ouvi uma voz ecoar.

Inicialmente, aquela voz frase tão familiar pareceu ecoar por de trás de mim, quase como um sussurro no meu ouvido, fazendo com que eu olhasse para trás e visse o nada. A igreja vazia, sem pessoas ao nosso redor assistindo nossa cerimônia, um silêncio e melancolia como um velório. Então eu percebi; ela não vinha de trás. A voz ecoava dentro de mim, como se algo bradasse furiosamente na tentativa de se libertar.

Quando virei meu olhar mais uma vez para Edmund, quase saltei ao ver sua feição mudando. Traços masculinos transitavam para uma forma feminina, os cabelos negros molhados caindo sobre uma roupa branca; a pele branca e absolutamente branca, com seus detalhes apagados. Sem um rosto, somente o branco de sua pele. No entanto, eu sabia que ela estava olhando diretamente nos meus olhos, até entrar no meu corpo e deixasse tudo frio.

Então eu acordei.

Acordei assustada, pulando da cama assim que abri meus olhos. Senti minhas mãos tremerem e a respiração ficar alta, enquanto circulava o olhar pelo quarto, pouco atordoada.

— Ei, Poppins... — Jamie me puxou para perto dela. — Está tudo bem. Foi só um pesadelo. — olhei para os olhos dela em busca da paz que talvez eu estivesse começando a encontrar.

— Eu... eu ...

— Eu sei. Você sonhou com ele e com ela.

— Como você?

— Você falou o nome dele chorando e depois começou a pedir mais tempo para ela, Poppins.

— Eu sei que está próximo. — eu respondi preocupada. Eu sentia que quando aquele momento chegasse, Jamie correria perigo. E eu não seria egoísta a ponto de deixá-la em risco. — Ela vai vir me buscar, Jamie. Eu estou tão cansada. Estou cansada desses sonhos horríveis. — ela segurou minhas mãos e me olhou.

— Meu amor. — ela beijou minhas mãos. — lembra do conselho que deu ao Miles?

— Qual deles? Ao longo desses anos tenho dado tantos conselhos. — falei e ela sorriu.

— Sobre ter alguém com quem você possa estar cansado. Eu sou esse seu alguém e você pode se sentir cansada comigo. Eu estou aqui. E, amor, já se passaram anos e tudo está bem.

— Mas eu a sinto, Jamie, eu sinto! — falei querendo chorar e ela me puxou mais para si, dando-me um abraço. Aqueles poucos segundos eu sentia tudo ficar calmo e tranquilo, era quase como se eu pudesse ter um pouco de paz. — Ela está quieta, despertando aos poucos...

— Amor, nós tivemos todos esses anos juntas e sabe eu não enjoei de nada disso. Adoro nossa vida e agora conseguimos nossa união no cartório. Aos poucos, um dia de cada vez tudo tem se encaminhado para o melhor. Vamos continuar assim... Um dia de cada vez, okay? — Jamie falou e naquele minuto Flora e Miles entram pela porta, correndo e pulando na cama, nos derrubando. 

— Bom dia. — Flora me agarrou e me encheu de beijos. Eles vieram morar com a gente há um pouco mais de 8 anos.

Dois anos depois que saímos de Bly, ficamos sabendo que Henry não conseguiu se manter longe das bebidas e as crianças não queriam ficar com ele. Foi quando ele nos procurou e nos entregou a guarda deles. De início confesso que foi difícil nos adaptarmos, mas agora estava tudo bem. Flora ajudava na floricultura e Miles estava estudando música. Eles estavam enormes, e a cada dia se tornavam mais responsáveis.

— Jamie. — Miles a chamou, ele tinha um pouco mais de resistência a nos chamar de mãe, mas não ligávamos. Sabíamos que ele nos amava e nós também amávamos muito ele. De vez em quando Flora nos chamava de mãe, pois nós nos tornamos as mães adotivas deles. — Queria te mostrar aquele nosso negócio. — Ele falou e Jamie me deu um beijo na testa, antes de olhar para Flora.

— Eu vou ficar aqui agarrada nela até ela se sentir melhor.

— Obrigada, amor. — Jamie falou e saiu do quarto com o Miles. Flora, então, me agarrou e me fez deitar com ela.

Fiquei fazendo cafune nos cabelos castanhos dela.

— Mãe.

— Sim, querida.

— Às vezes eu sonho com aquele dia.

— Qual dia? — Perguntei sem saber ao certo.

— O dia que você me tirou dos braços dela. Estávamos no lago e prefiro fingir que era tudo um sonho ruim, mas eu sei o que você fez.

— Querida isso é...

— Mãe não fala que é coisa da minha cabeça. Eu sei que eu era uma criança. Eu tinha apenas sete anos, mas eu me lembro de sentir o espirito da Becca em mim. Eu conversava sempre com ela e no dia em que a Dama veio me buscar, ela disse que eu não precisava sentir a dor se eu a deixasse entrar de vez. E eu fiz isso. Foi quando eu parei de ver você, mas eu ouvi quando você repetiu para dama o mesmo que eu repeti minutos antes. " É você, sou eu, somos nós " — Ver Flora repetindo aquelas palavras me gelou a alma. Eu acho que tinha medo que talvez a dama a tomasse novamente, sentisse aquilo como um convite. Afinal, todos esses anos Flora nunca tocou nesse assunto.

— Querida, esqueça isso. — falei tentando encerrar o assunto.

— Mãe, eu fiquei todos esses anos com medo de que a hora chegasse. E os anos foram se passando, e nós vivemos bem e felizes... E eu adoro nossa família. Eu amo você e amo a Jamie, e não quero ficar sem nenhuma de vocês. E eu tenho rezado muito, mas ultimamente eu tenho olhando para água em busca de ver ela.

— Por que você quer vê-la, Flora? — perguntei preocupada.

— Eu precisava falar com ela. Eu precisava pedir que ela desista de levar você. — A voz de Flora ficava cada vez mais chorosa, e ela me apertava mais em nosso abraço. — Já perdi pessoas demais e não quero perder você também.

— Amor, olha pra mim. — Eu pedi e Flora me olhava com seus olhos marejados. — Temos que viver um dia de cada vez.

— Não quero isso mãe. Eu sempre ouço a Jamie falar isso com a maior calma do mundo, mas eu não consigo. Eu não quero viver preocupada em acordar qualquer dia e ter que ir atrás de você em Bly e te encontrar no fundo daquele lago. Nem ela quer isso... Quero apenas ter a tranquilidade de que vou ver vocês casarem, que você vai conhecer meus namorados e que vai controlar a Jamie para que ela não atire em nenhum deles. — Dei risada. — Quero casar e ter vocês duas lá comigo, entende?

— Amor, vamos viver tudo isso ok?

— Mãe...

— Ok? — Ela fez que sim com a cabeça e se aconchegou mais a mim.

Claro que eu tinha medo, mas Jamie estava certa. Eu devia viver um dia de cada vez e eu não podia deixar de viver só porque uma hora tudo podia mudar. Afinal, todos estamos sujeitos ao destino. Ninguém nasceu para ficar aqui para sempre, por isso todos podiam morrer a qualquer momento, e só iria restar o que vivemos e aproveitamos. Eu às vezes invejava toda a calma que Jamie tinha para lidar com aquela situação, pois por mais que eu tentasse uma hora o desespero me dominava.

Give Me LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora