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~•~•~•~

Dani





Sem dúvidas aqueles momentos faziam tudo valer apena, os cafés da manhã falantes, os almoços em família, os piqueniques. De certa forma todas coisas não tão boas me levaram a esse momento.

Se eu não tivesse tido coragem de terminar com Edmund eu nunca seria feliz desta maneira, eu não teria tudo; apenas teria um casamento sem amor, sem amizade, sem nada.

Apenas seria mais uma dessas mulher se perguntando quanto tempo ainda vai aguentar viva ao lado de um homem que ela não ama. E hoje finalmente eu podia dizer que havia superado tudo aquilo, e havia superado o que ele fez em minha vida, e desde que sai de Bly nunca mais o vi, talvez ele tivesse finalmente encontrado seu caminho e descansado.

Jamie tocou minha mão, eu provavelmente devia estar aérea. Sorri ao olhar ela.

— Tudo bem? — ela me perguntou puxando a cadeira dela mais para perto, Flora e Miles discutiam alguma coisa enquanto comiam, e ela me deu um beijo no rosto.

— Sim, eu só estava pensando em umas coisas.

— Coisas boas ? — perguntou me segurando minha mão, Jamie era sempre carinhosa, sempre beijava minha mão, fazia carinhos, eu tinha medo que isso acabasse, mais ao longo dos anos ela só foi ficando mais e mais carinhosa e eu adorava isso nela.

— Coisas ótimas.

— Prefiro assim amor. — Ela sorriu e voltou a falar com as crianças. — mas então cachorro ou gato ?

— Cachorro. — os dois responderam juntos. E me olharam, eu sempre saia desse assunto, não sei porque, talvez fosse a questão de não termos um quintal, ou o medo de fazer planos a longo prazo. Jamie me olhou naquele momento com um olhar de criança pidona, e juntou as mãos em súplica junto com os dois, e eu não tive outra opção a não ser dar risada e concordar.

— Com tanto que vocês se responsabilizem em cuidar, dar banho, levar para passear, podemos ter um cachorro.

— É sério? — Flora perguntou sem acreditar no que eu estava dizendo.

— Sim é sério.

— Vamos mesmo ter um cachorro ? — Miles falou empolgado.

— sim. — falei e Flora comemorou e Miles veio me abraçar e beijar.

— Vocês são as melhores mães do mundo. — ele saiu correndo para se arrumar seguido de Flora. Acho que aquela era uma das primeiras vezes que ele se referia a nós como mães dele, e isso era gostoso de se ouvir.

— Bom, eu vou com eles ao abrigo, e depois vou ao mercadão das flores. Preciso comprar algumas sementes.

— Eu vou arrumar algumas coisas em casa enquanto isso. — Falei me levantando e ela veio me abraçando me empurrando na parede, e sorriu com aquele ar de sedução dela que sempre me fazia sorrir também.

— Depois combinei com o Owen dele pegar as crianças as 17, e aí vamos ter o resto da noite só nos duas, teremos a casa só para nós. — Ela me beijou e quando foi se afastar puxei a novamente para outro beijo.

— Vou adorar. — Falei e então ela foi se trocar e eu fui arrumar as coisas e lavar a louça do café, ajeitei tudo. Sempre que eu ia chegar perto da pia, meu corpo meio que travava, era como se fosse uma espécie de instinto de defesa.

Enxi a pia para enxaguar a louça, e eu meio que evitava olhar a água, eu tinha medo de procurar meu reflexo e só encontrar ela, eu sempre ficava nervosa, tensa. Jamie saiu com as crianças logo em seguida, e eu fiquei ali tomando coragem para terminar a louça. Sentia meu corpo inteiro ficar trêmulo, minhas mãos ficavam geladas e logo começavam a suar, respirava de maneira nervosa, mas logo fui adiante e evitada olhar a água. Seguia fazendo todo o processo o mais rápido possível e parecia que a cada segundo minha respiração se tornava mais urgente e que um tipo de desperto tomava conta de mim, conforme eu molhava a mão a sensação da água fria do lago voltava ao meu corpo, eu me lembrava do Pânico e do desespero de quando ela estava com Flora nos braços, eu sentia meu peito disparar, eu tentava apenas terminar os pratos, e quando fui soltar a água presa na pia, eu olhei para baixo, e senti a mão dela tocando a minha, me apertando com força, eu entrei em total desespero tentando soltar minha mão do fundo da pia, eu não conseguia gritar, e foi quando senti alguém atrás de mim, senti o ar pairando perto de minha orelha, "É você, sou eu, somos nós", a voz fúnebre invadia meus ouvidos arrepiando todo meu corpo, e naquele minuto ela soltou minha mão e eu caí sentada na cozinha. Meu corpo inteiro tremia sem controle, eu estava em choque, tentava me acalmar, sem muito sucesso, olhava em volta com medo que eu poderia ver.

Olhei para o meu braço, e nele haviam cinco dedos marcados, roxos, não era loucura minha, ela estava ali, a hora estava chegando.

Comecei a chorar, eu não tinha muita noção do que fiz quando pronunciei aquelas palavras, eu queria salvar Flora e qualquer jeito, e acabei me condenando, claro que eu não me arrependia de salvar ela, mas eu não queria perder minha família, mas também sabia o quão perigoso era ficar perto deles com ela dentro de mim, uma hora ela ia tomar o controle. E com certeza nada de bom aconteceria ali, eu sabia o que eu tinha que fazer, mas me faltava coragem para abandonar tudo que tanto desejei para voltar a Bly e deixar que o que tinha que acontecer acontecesse logo.

Demorei alguns minutos para me levantar, mas logo o fiz, arrumei a casa e troquei de blusa para esconder as marcas que ficaram em meu braço. Me sentei na varanda com um livro nas mãos e comecei a ler, hoje não abriríamos a floricultura, fiquei ali sentada lendo, e logo vi mais adiante Jamie vindo com as crianças, os três conversavam e sorriam, e Miles trazia um cachorrinho nós braços feliz da vida, sem duvidas era a melhor sensação olhar para eles e ver os três feliz.

Eles vinham andando e próximo aonde eles passaram havia um outdoor de espelhos, e pude ver o reflexo dela olhando eles, e vi nitidamente sua mão esticada atravessando os três, e depois ela me olhou antes de sumir, e aquele sentimento de vazio dentro de mim que eu não sentia a tantos anos voltou. Fui tirada de meus pensamentos de desespero com o barulho da porta se abrindo, pisquei algumas vezes e limpei meu rosto, respirei fundo afim de disfarçar. Me levantei e fui até a sala, Miles veio na mesma hora empolgado me mostrar o cachorro.

— Ainda não escolhemos o nome dele, queríamos escolher junto com você. — Ele falou colocando o peludo no chão, e ele veio correndo para perto de mim, e ficou em pé nas duas patas traseira meio que arranhando minhas pernas, então me abaixei e peguei ele, o pequeno era uma gracinha, totalmente peludo em um tom meio dourado talvez bege, ele me lambeu o rosto. Jamie veio para perto e me abraçou por trás.

— Ele não é tão pequeno como eu esperava, mas quem sabe futuramente não podemos comprar uma casa maior, com quintal, e aqui ser apenas a floricultura. — ela falou e depois beijou meu pescoço.

— Eu adoraria uma casa com um quintal enorme, com uma árvore e um balanço. — Flora completou.

— Poderíamos jogar futebol no quintal, e podíamos ensinar ele a pegar coisas e trazer de volta. — Eu estava tentando ficar, mas era como se todas as minhas forças estivessem sendo direcionadas a outras coisas, eu sentia como se aqueles planos fossem acontecerem mas sem me incluir neles. — eu apenas sorri enquanto eles falavam.

— E você amor, não tem nenhum desejo ?— Jamie questionou meu silêncio.

— Apenas estar com vocês. — Claramente Jamie já havia percebido que eu estava estranha, mas o que eu poderia fazer. — Mas então quais as opções de nomes para esse garotão.

— Mãe Jamie é boa com nomes e histórias, lembro de quando eu era menor, e ela me contava sobre a história da Deusa das flores chamada Flora.

— O que acham de Thor ? O poderoso Deus do trovão? — Jamie falou agarrada a mim, e eu coloquei o pequeno no chão, que saiu correndo para conhecer a casa. Enquanto isso Miles e Flora se entre olharam.

— Thor é um bom nome. — Eles falaram e for atrás do cachorro, Jamie me fez virar para ela, colocou meu cabelo para trás e me fez olhar pra ela.

— Amor, esquece isso, vamos ter todo tempo do mundo. — ela falou e eu puxei a manga da blusa mostrando o roxo em meu braço, ela olhou assustada.— o que foi isso ? Como se machucou assim?

— Foi ela, eu estava lavando a louça e ela me segurou. — Jamie me olhou e eu já começava a chorar. — Eu não quero, mas parece que outra vez eu estou saindo da minha cabeça e ela está entrando, as vezes parece que eu vou sumir. — ela me abraçou tentando me acalmar.

— Ei fica calma, eu vou lavar a louça de agora em diante ok? Você nem gosta mesmo de lavar louça.


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