Capítulo 3

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 Sesshoumaru POV

O calor dos seus dedos acima do meu quimono, pressionando-os a fim de se segurar ao tecido, como se por acaso fosse um perigo sair de meus braços... O cheiro bom de jasmim que saía de seus cabelos que balançavam contra ao vento e o próprio perfume que havia em sua pele, lembrando o frescor de sementes de erva doce... Todas essas sensações faziam com que este Sesshoumaru ficasse pensativo.
Nunca houvera no mundo alguém que pudesse me fazer pensar que odores são mais do que realmente eles são. No entanto, quando estes partiam de Rin, eles tomavam proporções e significados totalmente diferenciados se fossem comparados aos cheiros ordinários de qualquer campo de flores ou de árvores frutíferas.  
Igualmente a beleza de seus traços. Já havia visualizado muitas fêmeas e por mais que essas tivessem, cada uma, sua particularidade, seja um tom de pele, cabelo ou cor de olhos, nenhuma delas podia ser comparada ao agrado que me era apenas observar Rin em um mísero segundo. 
Um segundo a observando me bastava. Preenchia-me inteiro. Era como se apenas o fato de Rin existir, completasse as necessidades do meu dia a dia. 
Demorei muito tempo para entender essa situação que me encontrava. Entretanto, ao vê-la crescer, um dia depois do outro, amadureceu também a ideia de que um dia, a criança que eu permiti que me seguisse, pudesse se tornar a bela e única mulher que agora era. 
Estávamos nos aproximando de um ponto alto daquele vale. O céu estava alaranjado e me lembrou inevitavelmente do quimono que ela tanto usava quando criança. Me perguntei em pensamento se eu lhe havia dado aquele quimono. Eu tinha esse costume agora, mas desse em específico, não me recordava de tê-la presenteado.  Se bem que, ela provavelmente o pegou em um dos momentos que eu não estava por perto e a deixava com Jaken. 
Na realidade, eu havia decidido presenteá-la com os quimonos ou vestido para confecção deles, justamente para que ela tivesse uma parte de mim. 
Ts! Realmente, eu havia me deixado amolecer com passar dos anos, mas... 
- “Deixar uma parte de mim com ela...” – pensei nisso e me dei conta em seguida de que havíamos chegado perto daquele despenhadeiro. 
- Sesshoumaru-sama, que rio lindo! – ela disse ao observar o rio cristalino repleto de peixes que cortava o solo bem a nossa esquerda. Mas, sua face estava um tanto corada. Seria o efeito do laranja que pintava as nuvens do céu naquele momento do dia?
- Rin. – apenas disse isso, soltando-a delicadamente e deixando com que seus pés tocassem o chão de pedra. 
Neste pequeno momento, senti-me paralisado outra vez.
A cor do pôr do sol deixava-a radiante. Mais brilhante que o bronze polido ou o ouro. Seus amendoados olhos me fitavam de uma forma expressiva e eu deixei que meus lábios se entreabrissem para que o ar entrasse com facilidade. 
O vento passou através de nós e soprou novamente os seus longos fios escuros, fazendo o perfume de jasmim, misturada a doce fragrância dela, percorresse o caminho até o meu olfato apurado a sentisse com perfeição e nitidez. 
- O que... O que foi? – ela não desviou seus olhos e eu fiquei em silêncio. 
Estava ali a razão da minha recente decisão. Uma das poucas decisões difíceis que eu tive que tomar em toda minha longa vida!
Eu havia desistido de muita coisa, inclusive me tornando um andarilho para não me preocupar com os afazeres dos quais minha mãe pedia que eu fizesse parte. 
Mas dessa decisão, eu sempre teria certeza de ter acertado ao escolher. 
Rin. Eu a tinha escolhido. 

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Rin POV

Estava calado, porém com um olhar que eu nunca havia fitado antes em seus dourados e belos olhos. O seu olhar parecia quente, ou fora somente o efeito das cores âmbares do céu? 
Eu engoli em seco e respirei fundo, tomando coragem para perguntar mais uma vez o que havia acontecido. Sesshoumaru definitivamente estava tal como uma estátua como antes. 
- Sesshou... 
Antes de terminar de pronunciar o seu nome, ele tocou o meu rosto com delicadeza, fechando os seus lábios e ficando com o mesmo olhar aquecido. Mais de mil borboletas invadiram a boca do meu estômago, deixando-me com uma sensação gelada e gostosa por ali. Seu polegar direito apertou suavemente a minha bochecha e mesmo em meio ao silêncio que ainda reinou por mais um tempo, eu só podia escutar o meu próprio pulso do meu coração que estava saltando freneticamente, de forma com que o ar fosse se esvaindo de mim e eu ficasse ainda mais amolecida. Eu queria me aproximar e abraçá-lo, mas minhas pernas pareciam bambus que se balançavam com o vento. 
- Rin. – arregalei os olhos com a tamanha proximidade dele. Sesshoumaru deu somente um passo até mim, mas foi o suficiente para que os tecidos de nossas roupas se tocassem. – Preciso que tome uma decisão. 
- “Precisa que eu tome uma decisão?” – repeti sua frase como uma incógnita. – “O que ele precisa que eu decida?” – entreabri os lábios e tentei responder algo – D-diga. – minha voz soou menos que um ruído, mais baixa que a respiração de uma formiguinha. Sorte que ele ouvia muito bem, por que agora eu estava começando a tremer e a voz falharia em um gaguejar muito constrangedor.
- Você gosta deste lugar? – seus olhos desviaram-se para o lado que o sol sumia. Agora os tons estavam mais avermelhados, misturados a tons de azul, que mesclados criavam o tom de roxo que haviam em suas vestes e no meu quimono. 
- De estar no vilarejo? 
- Sim. – seus olhos voltaram a me fitar. 
- Bom, eu gosto muito daqui! Aqui estão os meus amigos e também, aprendi muito com a vovó Kaede. – “No entanto...” – esperei ele responder algo.
- Entendo. – fechou seus olhos e respirou calmamente.  Será que eu havia respondido algo errado?
- No entanto... – ele moveu suas pálpebras, revelando os orbes iluminados. – Desde que... Eu tenha você por perto... – murmurei – Quer dizer! Eu... Ahm... – acabei me atrapalhando com as palavras. 

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Sesshoumaru POV

Era adorável até em seus momentos onde as palavras se emaranhavam na ponta de sua língua. Se eu falasse mais também e deixasse-me tão vulnerável sobre meus sentimentos como ela, logicamente eu também teria esses nós em minha fala. Mas, quando ela fazia isso, não achava algo constrangedor e sim gracioso. Mesmo sem que ela percebesse, seus sentimentos estavam ali! Expostos em cada gaguejar e suspiro. 
Eu já havia notado que poderia haver uma recíproca do meu sentimento recém descoberto, mas às vezes eu temia que isso fosse o que os humanos chamam de ‘laço fraterno’ ou simplesmente, amizade. Se este fosse o caso, eu aceitaria a escolha dela. Por que se apenas eu pudesse lhe observar viver sua vida, já me bastaria. Apesar de que eu duvidava que ficaria confortável em uma situação em que ela tivesse um outro humano ou youkai em sua vida como parceiro. Talvez o verme simplesmente não sobrevivesse em um único encontro. Um acontecimento trivial, eu acredito.
No entanto, em poucas situações, hoje analisadas com calma, percebendo a mudança do seu cheiro e sua face corada, o resultado dessa soma não poderia ser apenas... Amizade. Não hoje em dia. Antigamente quando ela era apenas uma criança, sim. Porém, hoje, Rin é uma jovem prestes a atingir sua maior idade, dona de seus próprios conceitos e escolhas.
- Eu... – respirou fundo – Eu adoraria qualquer coisa, caso simplesmente continuasse perto de mim, Sesshoumaru-sama. – suas bochechas coraram mais e ela soltou todo o ar do seu peito, descarregando o fluxo do ar e o que parecia que há muito ela queria falar. 
- Rin... – engoli em seco de modo sutil e dei mais um curto passo. A minha outra mão também tocou a sua face e o resultado desse ato foi um apertar nas pálpebras daquela doce humana. – É o que quer? – “Talvez sair daqui... Não seja o melhor para ela.” – dúvidas sobre a morada perto do Castelo me arrebataram; entretanto quando ela abriu os olhos e simplesmente assentiu, eu tive minha mente esclarecida, pois ela realmente gostava da vida com aqueles humanos, mas ela também deixava claro que queria que eu convivesse com ela. – Certo. 
Em meio há tantos pensamentos que passavam-se em minha mente, durante o anoitecer que destacava a ascensão da Lua no altar dos Céus, contornada por algumas pouquíssimas nuvens, Rin me surpreendeu, colocando suas mãos pequenas e leves sobre as minhas. Estávamos perto o suficiente para nossas respirações se misturarem e o que sentia só por estar tão próximo assim dela, deixava este Sesshoumaru inteiramente encantado. 
- Sesshoumaru-sama. -  Ela disse meu nome e ficou quieta por alguns instantes. Não sabia ao certo o que ela iria falar, mas fiquei tentado a interrompê-la de uma forma que eu jamais havia feito com ninguém. 
Olhando-a profundamente, deixei que a ponta do meu nariz encostasse ao dela. Rin fechou os olhos novamente e eu hesitei em prosseguir de repente. Era nova e instigante a sensação de estar somente trocando o meu fôlego com ela tão de perto. 
As mãos dela saíram de cima das minhas e eu pensei em me afastar, mas Rin como sempre me surpreendia. 

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Rin POV

Reuni toda a coragem que havia dentro do meu coração e em meus braços. Eu já queria há muito tempo um mísero momento com ele.
Seria ousado demais... Tentar aproximar-me até cessar todo esse espaço vazio entre nós? Eu estava de olhos fechados, não veria sua cara de indignação quando assim o fizesse. Sesshoumaru-sama poderia até se enraivecer, visto que nunca lidou bem com humanos. Porém, o que eu poderia perder realmente se pelo menos... Tentasse? Bom, eu já tinha certeza que o amava. Mas, e quanto à ele?
Minhas mãos saíram de cima das suas e logo repousaram acima de seus ombros. Eu não abria os olhos. Temia sua face. Temia que me repudiasse. Meus lábios tremeram e meus olhos tão breve se tornaram quentes como em uma febre, ameaçando expurgar em lágrimas o temor de que ele não correspondesse os meus sentimentos. 
Eu tinha sobrevivido a muitas coisas, mas não sei se me manteria de pé caso ele me negasse ao menos isso... O que eu estava para fazer naquele exato momento.
Com a ponta de cada dedo sobre a gola de seu quimono imponente, deixei que o tato de minhas mãos escorregassem até enlaçarem vagamente o seu pescoço. O fato de que ele estava absurdamente imóvel me deixava tensa, mas não havia mais volta agora! Elevei-me na ponta dos pés e ergui levemente meu queixo, deixando com que o espaço cessasse; o ar sumisse, o mundo parasse e... Com que os nossos lábios finalmente se encontrassem. Se unindo pela primeira vez. 
Eu havia realmente o beijado! Beijado a fonte dos meus sentimentos mais profundos! Felizmente, Sesshoumaru permaneceu comigo como eu tanto sonhei que pudesse acontecer. Mas, ainda permanecia imóvel.
- "Talvez... Só, talvez! Ele corresponda ao que eu sinto!" - ainda havia insegurança no que eu tinha feito, no entanto... Ouvi um suave murmúrio:
- Rin... - e então, seus lábios se moveram sobre os meus e agora eu me controlava para não chorar de alegria! Aquilo era real? Não era uma ilusão criada pela minha mente fértil? Não. Era verdade mesmo!
Eu estava recebendo um beijo dele... De Sesshoumaru! 

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Continua...
 

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