Ceifadora Escarlate

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Ruby bate na porta duas vezes.

- General Ironwood – e entra na sala sem esperar por permissão.

O General da Coalizão de Remnant ainda não consegue acreditar. Seu melhor grupo de assassinos fora completamente dizimado, e por um bando de monges antiquados?

Ok, ele sabe que não foi exatamente isso. Leu o relatório, mas o que leu nele é absurdo. Seus melhores espiões haviam confirmado que a verdadeira identidade da Deusa do Poder era uma humana, nascida numa família rural de uma aldeia afastada. Deuses são pura fantasia da mente humana, não é à toa que são tão comuns nas histórias mais antigas e se tornam cada vez mais raros conforme o avanço da tecnologia e da ciência. Qualquer relato minimamente importante envolvendo deuses desapareceu nos últimos 100 ou 200 anos, e nenhum deles pode ser confirmado como verdadeiro.
- Precisa de algo, General Ironwood?

A caçadora-assassina se senta diante da mesa de Ironwood. Ele havia mandado chamá-la após a leitura do relatório.
- Como estão suas feridas? – o general pergunta num tom calmo. Ruby assente.
- Vou me recuperar rápido –Ruby responde, distraidamente passando uma das mãos pela lateral do abdômen, onde as garras-espadas daquela mulher haviam causado três cortes longos, ainda que, felizmente, superficiais. Ironwood assente. Não quer demonstrar, mas sente pressa para passar logo ao assunto principal.
- Então, essa mulher dos olhos de duas cores.
- Sim.
- Você afirmou em seu relatório que não tem dúvidas de que ela é sobre-humana – Ruby assente – tem certeza de que não está imaginando coisas, srta. Rose?

Ironwood acompanhou o desenvolvimento de sua caçadora desde a época em que ela era uma jovem prodígio no primeiro ano da Academia. Sabe da mente criativa que costumava ter.

E sabe também dos seus talentos finamente polidos nesses 16 anos como caçadora profissional, 10 deles no seu posto atual nas operações secretas.
- Não imaginei, senhor – ela assegura – ela sobreviveu a pelo menos três tiros na cabeça. Se transformou num tipo de leão gigantesco que emanava uma aura tão poderosa que parecia ter uma cidade inteira dentro daquele corpo.
- E então?
- Eu falei no relatório sobre a leoa gigante, senhor – murmura Ruby – usei toda a minha munição para explodi-la por dentro e consegui fugir, mas ainda dava para sentir que ela estava viva. Não é possível que ser humano algum sobreviva aos ferimentos que ela sobreviveu, senhor.
- Quanto à sua teoria de ela ser Catra, a Deusa dos Gatos...
- ELA É! – guincha Ruby – tudo faz sentido! Preste atenção: foi no templo de She-Ra, confere! Era uma Magicat, confere! Um olho de cada cor, confere!
- Os Magicats já estão extintos há gerações – replica Ironwood, revirando os olhos – e as lendas sobre os deuses não passam disso: lendas. Os deuses não existem realmente, srta. Rose, e não há vergonha em admitir derrota. Tivemos azar. Subestimamos o poder dos servos daquela usurpadora. Não cometeremos o mesmo erro de novo – general Ironwood suspira – um novo time será montado para você. Até lá, descanse.

Decepcionada, Ruby Rose se levanta, suspirando.
- Sim, senhor.

Ela não é capaz de explicar a razão de ter pensado essas coisas. Desde que conheceu o general Ironwood, ele sempre foi muito firme nessa opinião de que os deuses não existem. Ruby se lembra vagamente de que, em algum momento da sua vida, amava histórias. É mais uma sensação do que uma lembrança, na verdade. Histórias a fazem se sentir bem. Ela não consegue se lembrar que tipo de histórias costumava ouvir antes das operações especiais, e não há nada em suas memórias que indique que realmente ouvia algo, mas algo no fundo do seu âmago grita que sim. Ela não sabe que razão poderia ter tido para amá-las tanto, mas depois daquela sua batalha com a mulher dos olhos bicolores, algo se reacendeu na sua mente. Ela se lembrava de já ter lido sobre uma deusa que batia com aquela descrição na sua distante infância. Algum livrinho jogado no fundo daquele seu baú de velharias, provavelmente. Ironwood havia recomendado que não mexesse muito nele, a não ser que fosse extremamente importante.

Após a Morte de Um PanteãoOnde histórias criam vida. Descubra agora