Unexpected visit.

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Quinta-feira, o inveterado dia que indicara o início de mais um desenlace semanal, nada tão atrativo quanto o recesso quando ainda se frequenta o colegial, por exemplo. A brisa fresca invadira minhas narinas, eu diria oxigênio livre de impurezas, se não fosse pelo fato de que estivera em um ambiente urbano, completamente remodelado por seres humanos deploráveis.

Amargo, esse era o sabor primário da fumaça que viera daquela maldita droga lícita, a qual eu utilizara constantemente, como naquele instante. Meus pulmões eram tudo, menos vigorosos. O odor permanecera completamente impregnado em minha residência, dês do memorável e irrevogável verão estudantil, no qual eu quis impressionar Zoe com minhas decisões estúpidas, que daquela vez, haviam ultrapassado o próprio ápice. O cigarro nunca me transmitira apetite por si só, entretanto, diversos púberes utilizavam sem hesitação alguma na época, e acabei me tornando um deles. O vício me consumira desde então, me encontrara inteiramente induzido pela nicotina sorvida cotidianamente, sem exceções. Não existira mais expectativas para o tão sonhado futuro, eu me via extraviado, ou talvez, insano; jamais houvera uma definição correta sobre esse estado deprimente, mas, posso confirmar que me aprofundava cada vez mais na desconsolação, como em um oceano perpétuo.

A exígua fresta me permitira analisar novamente a via. Me recordo de ser pontuais seis da noite, no entanto, o Céu ainda abrigava lucidez, oscilando entre tons laranjas e azuis; a alameda era aclarada pela iluminação artificial dos postes amarelos. Era perceptível o quão a geração se tornara cada vez mais hostil com o passar dos anos, não haviam párvulos regressando às suas residências como no pretérito, aquilo e outras incalculáveis razões me faziam crer na teoria do: sim, eu nascera na época errada.

A estúpida busca pela perfeição, por mais ilógico que demonstrara ser, faziam diversas pessoas oferecerem tudo de si na tentativa de obterem algo ilusório, inexistente. A manipulação das mídias foram cada vez mais evoluídas para danosas influências, estou mencionando tamanho absurdo aqui, pois, Maggie sempre fora uma vítima, mesmo negando quando possível; seus argumentos eram desastrosos, nunca realmente cabíveis para esse determinado contexto. A mulher-feita equilibrava o balanço de madeira maciça para que não houvesse vaivém. Em sua miúda varanda, não existiam mobílias além do "brinquedo infantil", o qual ela aparentava ter vultoso apreço. Sua compleição física e face esbanjavam alterações hediondas, contudo, sua beleza interna era uma das coisas que prevaleciam, eu admirava-a, e por mais que não pronunciara (o que virou extremamente inusitado), todos mostravam-se cientes de suas doações exorbitantes à causas realmente primordiais. Traguei uma última vez o entorpecente, espalhando as cinzas no apoio da fenestra, sentindo o remorso percorrer rigorosamente meu ser, o arrependimento me levara automaticamente ao desânimo novamente, exemplificativamente, enquanto eu estivera fumarando aquilo, a mágoa desvanecera, mas, ao seu desfecho, os danos regressavam mais embaraçosos, aparentando dificuldade de serem despachados, se é que achara-se uma forma de resolução para o que nem sequer tivera uma definição. Vedei a visão do interior da moradia, erguendo meu corpo em seguida; em minhas mãos, agora se encontrara o livrete, que algum dia, fora um diário, recheado de peripécias fúteis, como adultérios testemunhados, chamegos farsantes ou meus dramas que acabaram finalizando por completo as folhas da pobre caderneta. Dois exatos toques na porta de madeira maciça, aquilo já fora mais do que suficiente para retirar minha concentração na caligrafia ignóbil. Ao dar abertura na que exigira, me fiz perplexo. Era a tal Maggie. Embora fosse costumeiro vizinhos darem ida às moradias da localidade, a citada jamais visitara indivíduos, e eu certamente não era uma exclusão desses.

- Uh, olá? - Iniciei, na tentativa de quebrar a barreira que permanecia intacta entre nós, a quietude. 

Seus lábios desuniam e cerravam, como se buscasse um retorno.

- Lucas, esse é o seu nome? - Finalmente enunciou.

Confirmei assentindo morosamente, permitindo um sorriso simplista surgir, o que despertou felícia apenas pelo seu olhar, não compreendi.

- Quer alguma coisa? Eu não sei lidar muito bem com visitas inesperadas, então, se eu for ignorante, desculpe. - Revelei, friccionando minha própria nuca.

- Sair, dar uma volta. - Franziu o cenho, cismática. - É isso que vocês fazem, não é? 

- Vocês? Quem? - Um ponto de interrogação invadiu-me, conquanto, com sua apreensão evidente, autorizei fluir. - Para onde pretende ir?

- Aonde quer ir? - Questionou, excedendo inquietação, como se cogitasse a passeata à um longo tempo, e, o receio de rejeição pudera ter causado isso, visto que, não transportávamos vínculos. 

Não pude cogitar um local específico, pois, a estranheza de jornadear com um incógnito não autorizara.

- Eu não conheço você, não tenho noção se é confiável, então, fica 'pra outro dia. - Sua expressão fora transformada em amargura, os sinais de entusiasmo ausentaram-se. Com vagarosidade, iniciei a fechadura da entrada, até a outra colocar sua botina para causar impedimento.

- É assim que as pessoas se conhecem, não é? Como fazem isso, se não assim? - A fala saíra paulatina, entregando sua ansiedade crescente. E a verdade, é que nem mesmo eu soubera respondê-la.

- Eu não faço ideia, fazer amigos já virou algo inimaginável. - Arfei pesado. - O que acha de apenas conversarmos? Não necessariamente sair. Ah, e se quer socializar, saiba que estou longe de ser uma boa opção.

A mulher me oferecera um amplo sorriso, e, ofertei passagem para acesso à estância, que não era esbelta, no entanto, não esboçou relevância no quesito, muito pelo oposto, já que fizera questão de enaltecer até os detalhes mais ínfimos. Apenas observadora, foi o que consegui concluir ali.

Lemon boyOnde histórias criam vida. Descubra agora