Cinco minutos mais tarde, após tentarem - sem sucesso - deixar as emoções de lado para melhor se concentrarem na análise da cena, Ágatha e Iori partiram para a residência do falecido Jonas em seus carros. Duas viaturas os acompanharam, temendo que a notícia de alguma forma já estivesse se espalhado pela cidade e eles precisassem conter moradores curiosos que bisbilhotassem.
Mas a chegada foi tranquila. Não encontraram nenhum vizinho espiando pelas janelas. Era cedo e a brisa fria do amanhecer ainda estava presente. Logo as pessoas sairiam para trabalhar e encontrariam carros da polícia em seu bairro. Não seria agradável dispersá-las.
O Policial Fidelis abriu a porta da casa e entrou primeiro. O que por fora parecia uma construção singela, por dentro se transformava no verdadeiro símbolo da riqueza do jovem rapaz. Sempre disseram que ele não era de se gabar pelos bens que detinha. Essa casa era a prova disso. Seu exterior simples não refletia a beleza de seu interior quase luxuoso. Ali estavam vários móveis e objetos aparentemente bem caros: uma grande televisão, um sofá que de longe se percebia a maciez, quadros prateados e brilhantes pendurados nas paredes cor de marfim e... corpos. Dois corpos jogados em cima de bonitas poltronas azul celeste. Dois corpos inertes e sem vida, mas... sentados?
O ar parecia um pouco mais gelado agora. Mortos. Mortos e sentados. Como se estivessem batendo um papo sobre futebol e simplesmente caíssem em sono profundo. Então, como? O que teria acontecido? Seria...
- Suicídio pelo que parece. - Fidelis interrompeu os pensamentos confusos de Ágatha. - Achamos que tenha sido suicídio conjunto por meio de doses altas de alguma droga. Foi o que presumimos com uma rápida olhada. Mas ainda assim eles foram muito influentes para não ganharem uma boa investigação. Então, fiquem à vontade.
Iori foi na frente e se aproximou dos corpos. Estavam sentados um em frente ao outro quase tombando para o lado. Não havia sinais de brigas ou confrontos, nenhum machucado, as roupas estavam limpas. Eles estavam bebendo, isso era óbvio. Havia garrafas de cerveja ao lado deles. Jonas tinha um copo vazio encima de suas pernas. No chão, próximo ao pé de Renato, se encontrava cacos de vidro. Um liquido transparente escorria deles formando uma pequena poça no chão. Vodca talvez.
Mais a oeste da sala, Ágatha colocava suas luvas para tocar no que quer que precisasse. Não poderia se descuidar ao ponto de atrapalhar exames de DNA se fossem requeridos. Olhando ao redor e observando o cenário supostamente intacto, ela bateu os olhos em uma folha de caderno dobrada encima do aparador que se encontrava rente a parede. Não havia nada de especial naquele pedaço de papel, nem mesmo uma caneta aberta ao lado para indicar que havia sido escrito a pouco tempo. Mas algo chamou a atenção da Detetive Mendes, e ela foi ao seu alcance. Ao seu lado só havia uma mancha de tinta azul na madeira escura do móvel, parecia recente. Ela desamassou-o e viu poucas palavras e duas assinaturas. Os remetentes eram os empresários, mas o destinatário não estava declarado. Ela supôs, então, que não tinha nenhum específico e começou a ler.
- Iori, vem ver isso aqui. Encontrei uma carta.
- Eles deixaram uma carta? Pra quem? Nossa, cartas de suicídio estão ficando cada vez mais frequentes.
- Por que tem certeza de que foi suicídio? - Ágatha hesitou. - Esquece. Vem rápido aqui! - Iori chegou ao seu lado. - Aqui diz que eles estavam com problemas financeiros na empresa. Que estranho... Diz também que isso estava afetando-os mais do que podiam suportar e que tudo que tinham era aquele supermercado. Sem família por perto e sem nenhuma companheira, o trabalho tomou conta de toda a vida deles. Só eram lembrados pelo sucesso do estabelecimento, e se eles não conseguiam mais mantê-lo, não seriam capazes de viver felizes e satisfeitos.
- Uau, que visão pessimista para duas pessoas que começaram do nada e viraram os mais admirados da cidade. Deviam ter entendido que superariam essa fase difícil. Isso tudo é muito triste...
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Linhas de vingança
Mystery / ThrillerA vida de uma detetive muda de um dia para o outro quando duas mortes ocorrem em uma mesma noite. Ela e seu parceiro investigarão o que futuramente vira uma série de assassinatos, e tentarão apagar as interrogações presentes na cabeça aflita dos mor...