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rafael

— Bom dia, flor do dia.

O que recebo em troca são simples grunhidos de quem tá com uma preguiça gigantesca e não quer levantar.

— Amor, você tem que trabalhar. Vamo. — a balanço de um lado pro outro enquanto ela lentamente abre os olhos.

— Ok, você venceu. — finalmente Mari abre os olhos por completo, se espichando na cama toda e quase me acertando no rosto.

— Que ótimo. O café já tá na mesa. — sorrio tranquilo, dando um selinho nela enquanto levanto.

Passaram-se um ano e meio desde que eu e Mari nos casamos. Continuamos no mesmo prédio, o mesmo apartamento, a mesma vida, exceto pelo fato de que a Mari conseguiu um emprego mais decente do que numa padaria.

Não que trabalhar em padarias seja problema.

A vida a dois é mais simples do que parece, mas também requer sua atenção. É tudo mil maravilhas até as primeiras discussões começarem e vocês terem que agir com maturidade suficiente pra não desgastar o relacionamento em três meses.

A Bia e o Gustavo, já não moram mais no antigo apê da loirinha. Alugaram pra uma senhora qualquer, ou melhor, pros filhos dela, que a colocaram lá com uma cuidadora meia-boca pra não terem que lidar com a terceira idade.

Sobre essa senhora, que nem lembro o nome, não tenho muito o que dizer. Ela raramente sai de casa, e das vezes que a vi, ela pareceu boa demais pra estar abandonada num apartamento solitário com uma estranha. Já sobre a Sônia, não tenho certeza do quão bem ela toma conta daquela mulher. É meio antipática e transmite certa falsidade, que por vezes me preocupam.

A vida a dois é complicada.

— Planos pra hoje? — ela me pergunta, de boca cheia, enquanto confere algo no celular.

— Bom, os meninos precisam ir pro petshop, já estão com os pelos maiores que o cabelo da Rapunzel — dou risada, observando Marley e Eredin no canto da sala. — E sobre mim, acho que o de sempre, vou ficar por aqui e ver no que posso ser útil pra casa.

bom. Se der passa no mercado, por favor. — ela continuava falando sem olhar pra mim, comendo enquanto não tirava a atenção do aparelho.

Suspiro fundo e termino minha refeição, ao passo que ela faz o mesmo, e sai apressada pela porta, me dando um selinho quase imperceptível, e sem sequer despedir dos lobinhos.

A vida mudou. E a Mari também. Às vezes mal reconheço ela. Anda tão séria, apressada, mal me dá atenção e pros cachorrinhos então, piorou. Eu ainda amo ela e sei que ela me ama também, mas é difícil ficar desse jeito. Dificilmente ela tem tempo pra nós.

As poucas horas livres que tem, prefere streamar  do que realmente descansar e passar um tempo em família.

Gosto de ter apresentado "esse mundo" pra ela, começou participando das minhas lives e agora já tem o próprio canal. Mas acho que ultimamente tem sido mais um empecilho do que um hobbie saudável.

A vida a dois é complicada. Mas as vezes vale a pena.

HEAVEN N' HELL | rafael langeOnde histórias criam vida. Descubra agora