Lagos Verdes e Águas Azuis

Capítulo Único

O tempo estava passando devagar e o calor desagradável dessa estação impedia o príncipe de se levantar pra realizar seu rotineiro ofício, não devia passar de 6 da manhã nesse domingo, mas o sol já tinha tirado seu shidi da cama.

Quan Yizhen deve ter saído pra caçar e não estava nos arredores, então ele se espreguiçou com pesar e vestiu seu roupão externo. Yin Yu agora morava a um tempo em uma casinha simples que ele e Yizhen construíram com madeira de bambu e cipó num momento que ele cedeu aos pedidos incessantes de voltar com ele. Quando ele ouviu o outro garoto dizer isso, ele considerou que o levaria de volta para a Corte Celestial para ser absolvido do seu banimento, mesmo que tivesse noção que nunca o aceitariam, ele concordou em ir apenas pra satisfazer o desejo do menino.

Nunca pensaria que na verdade estavam indo para as montanhas no oeste, bem perto de muitas fontes de água, onde Qi Ying apontou para um espaço na floresta e disse com olhos animados: "Eu e Shixiong vamos morar aqui."

Foi assim que eles se estabeleceram lá a mais de 10 anos, que na verdade passaram como um mês.

Todo dia Yin Yu iria se levantar e colocar água pra esquentar no pequeno fogão, e depois iria molhar seu punhado quase infinito de plantinhas, com sorte iria passar rápido e o Deus Marcial só voltaria a noite pra jantar. Quando Yizhen ia para a Corte Celestial, Yin Yu chegava a ficar uma semana ou mais sem o ver, que era o caso de agora, esse menino voltou na madrugada e se deitou ao seu lado sem nem tirar as botas, sumindo logo antes do sol raiar.

Nos fundos da casa tinha uma hortinha que vendo de longe parecia uma extensão das árvores, mas Yin Yu cuidou de fazer um cercado baixo e uma plaquinha indicando quais são medicinais e quais são pra comida, ainda tinha um coração pequeno em cada uma, arte de uma certa pessoa.

O fantasma não pensava muito sobre nada, também não importava se ele estava com tédio ou não, agora mesmo ele já tinha feito o almoço e estava sentado em algum canto do quarto lendo um pergaminho, preguiçosamente absolvido nos contos humanos até que sentiu a luz da janela tremular.

"Sua mania de me observar da janela não vai acabar?" Ele olhou para o garoto empoleirado ali.

"Shixiong, você está ocupado?"

"Não realmente." Yin Yu enrolou o pergaminho e o colocou embaixo da mesa.

"Vamos no lago pescar." O alto menino continuou na janela mesmo depois do seu Shixiong se aproximar dele e tirar as folhas do seu cabelo.

Qi Ying aproveitou que estava vendo Yin Yu depois de um longo tempo e lhe deu um beijo carinhoso no espaço entre as sobrancelhas, sorrindo depois de ver o outro passar a mão e segurar sua bochecha pra também acariciar seu rosto com os lábios.

"Vamos." O ex deus falou, saindo do quarto. Ele foi pegar alguns bolinhos de fruta pra levar, e depois pegou um balde vazio que achou no jardim. "Você não vai levar uma vara?"

"Não preciso." Yizhen veio logo atrás, radiante como sempre enquanto pegava o pano com a comida.

Como Yin Yu já morava ali a dez anos, ele conhecia toda a floresta e os rios dela, e pelo caminho tomado, já sabia qual era a lagoa que o mais novo tinha citado, os dois começaram a caminhar lado a lado, passando pela toca de alguns esquilos recém chegados. Depois de menos de uma milha, uma mão agarrou a sua e entrelaçou seus dedos, balançando pra frente e pra trás alegremente.

"Uma trilha de ladrilhos de jade, um amor que vem a porta e bate, 100 mil anos mergulhado no Rio Amarelo mas com um passe ela me tirou do sério."

Qi Ying parecia bem feliz em recitar alguns versos que nem ao menos rimavam, querendo colocar sentido em suas palavras como se fosse um grande poeta. Yin Yu estava prestando pouca atenção no canto melodioso da criança, mas não deixou de sorrir da tentativa.