Azul

Capítulo 2

Quando entrei na escola chamei a atenção de todos,mas não me importei. Já estava acostumado com o assédio,era o capitão do time de futebol,afinal de contas e nunca tive problemas em me relacionar com as pessoas, então sempre conheci todo mundo.

Quando as pessoas pensam no capitão do time de futebol elas imaginam o cara arrogante e babaca,mas eu não era assim. Todos falavam comigo de igual para igual,nunca gostei dessa história de "ser popular". Claro que andar com algumas pessoas era bem difícil, afinal ninguém quer ser visto com o o viadinho ou com a gorda cheia de espinhas,mas nunca tive o menor problema em cumprimentar qualquer pessoa. Me sentia um cara ótimo-e até mesmo misericordioso- por isso.

A escola,assim como a cidade,era pequena e simples. Os armários cinzas ficavam nas laterais dos corredores, as portas das salas eram vermelhas e dentro sempre haviam carteiras marrons,uma mesa média para o professor e o quadro negro.

Após pegar meus livros e passar na diretoria para entregar algumas cópias dos meus exames fui para a sala de aula,onde o professor de história já falava sobre a matéria.

Assim que entrei recebi atenção dos demais,mas nada que tenha atrapalhado a aula.

O professor me deu um aceno de cabeça como boas vindas e retribui o gesto com um sorriso quase imperceptível. Fui para meu lugar que continuava vazio desde meu afastamento.

Tirando os breves desejos de melhoras e os tímidos desejos de " boas vindas" de algumas pessoas o dia correu normal e,logo após o almoço, fui na quadra da escola assistir o treino do time junior.

Normalmente as escolas só têm um time,já que isso dá bastante trabalho e gastos,mas na minha os alunos sempre foram incentivados a fazerem parte do esporte desde cedo.

Me lembro que assim que entrei no time junior falei para o treinador que seria um técnico como ele quando crescesse.

Todd me disse com uma voz firme que eu não deveria ter esse objetivo. Ele via grandes coisas pra mim e eu não poderia me contentar apenas com treinador de time de alguma escola.

Os anos passaram, Todd perdeu bastante cabelo e ganhou um pouco de barriga,mas ainda era um treinador espetacular e mantinha a certeza de que eu tinha futuro no esporte.

Quando cheguei na quadra ele estava dando ordens ao time e,ao me ver,deixou que eles tomassem o rumo do treino e veio falar comigo.

-Pensei que fosse terminar o ano em casa,rapaz-ele disse alto enquanto se aproximava e abria os braços para um breve abraço

-Se fizesse isso ia ter que aguentar mais um ano te aturando e não queremos isso-falei, rindo

Todd era um cara um pouco mais baixo que eu,branco,com uma careca igual ovo,vivia com roupa esportiva e um sorriso amarelado por conta do cigarro.

Ele havia jogado por pouco tempo,mas se machucou e teve que parar. Quando me machuquei num dos treinos ele foi um dos os primeiros a aparecer no hospital e só foi embora ao ter certeza de que meu joelho voltaria ao normal. Ele,também,me ajudou a conseguir uma entrevista para uma das melhores faculdades do país ao falar com a diretora. O velho era quase um segundo pai.

Conversamos um pouco sobre o time junior e perguntei como o meu próprio estava se saindo. Aparentemente, estávamos conseguindo nos virar,mas podíamos chegar mais longe.

Ao avisar que no dia seguinte iria voltar a treinar Todd me deu uma dura e disse que só me aceitaria de volta quando todas as sessões de fisioterapia acabassem.

Acabei concordando, mas pedi para acompanhar os treinos e ele concordou.

Duas semanas. Duas semanas para o fim das duas sessões e eu estaria de volta. Duas semanas.