Capítulo 1

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Estávamos em agosto,no meio do ano e eu havia ficado um tempo longe da escola por conta de um pequeno acidente no treino de futebol.Minha perna esquerda estava machucada e no começo havia ficado bem feia, porém com o passar do tempo estava melhorando e a cicatriz quase não aparecia.

Naquele momento o que, realmente, me preocupava eram as provas perdidas, afinal se eu não passasse de ano e terminasse o colegial, então nenhuma faculdade me aceitaria. Mas no fundo eu sabia que a diretora, Sra.Geller,iria ajudar o capitão do time de futebol sem nenhuma objeção.

Naquele dia eu voltaria para a escola e tentaria voltar a treinar.Acordei cedo e logo ouvi mamãe batendo na porta,perguntando se eu já havia acordado.

-Sim!Já vou tomar café-gritei para a porta

Terminei de calçar os sapatos , peguei minha mochila e fui em direção a sala.

Papai e meu irmão, Charlie, já estavam sentados.A cena era a mesma de todos os dias:papai na ponta da mesa,lendo seu jornal, meu irmão comendo como se não houvesse amanhã e mamãe quieta,para não atrapalhar a leitura de meu pai .

Me sentei ao lado de Charlie e dei um tímido bom dia.Papai soltou um resmungo, que poderia ser entendido como "bom dia,filho".

Ele era ex-militar,então sempre foi muito sério-para não dizer seco-e guiou nossa família com mãos de ferro,porém sabíamos que por trás daqueles óculos quadrados e enormes e dos resmungos constantes papai nos amava e nós a ele.

Enquanto comia meus ovos imaginei a cena de minha formatura.Minha bela namorada,Candice, fazendo seu discurso,meus pais e meu irmão na primeira fileira,sem tirarem os olhos de mim, o treinador Todd me entregando meu diploma e então, finalmente,eu estaria jogando meu chapéu de formando pra cima junto com meus amigos.A imagem perfeita me fez sorrir.

-Espero que essa animação seja por estar voltando às aulas,maninho.

Charlie era sete anos mais velho que eu e,mesmo assim,parecia uma criança. Ele conseguiu chamar a atenção de meus pais e mamãe resolveu se pronunciar.

-Phillip,será que é uma boa ideia você dirigir? Sua perna ainda não está completamente boa.

Cheguei a abrir a boca para responder, mas fui interrompido por meu pai.

-Ele está ótimo, Jennifer.Só espero que meu carro volte inteiro hoje e que eu não precise gastar mais com hospital-dito isto ele tomou um bom gole de seu café e voltou para o jornal

-Jackie,ele parece estar bem, mas as sessões de fisioterapia ainda não acabaram- mamãe quase nunca interrompia ou discordava de meu pai,mas se alguém podia fazer isso,mesmo em poucas ocasiões, esse alguém era ela.

Papai tirou os óculos, dobrou o jornal e o colocou em cima da mesa.

-Que eu saiba,minha querida,faltam apenas duas sessões e o médico já o liberou, inclusive, para treinar.

Mamãe o olhou séria e eu pude ver que eles iriam discutir.Minha mãe quase nunca confrontava meu pai para evitar dores de cabeça, mas se resolvesse partir para cima,então ninguém podia separar a briga.

-Meninos,não está na hora de vocês saírem?-ela perguntou, sem tirar os olhos de meu pai

Charlie e eu nos levantamos ao mesmo tempo,peguei as chaves do carro que estava na mesa que ficava perto da porta e olhei para mamãe como um pedido de permissão.

-Vai devagar e toma cuidado-ela disse e se levantou,como se fosse tirar os pratos.

Quando eu e meu irmão chegamos no carro pudemos ouvir os dois brigando e trocando acusações por papai ser tão irresponsável por me deixar dirigir e mamãe tão protetora,me tratando como uma criança.

Charlie começou a rir e eu também, isso porque nós sabíamos que aquela briga não daria em nada e quando chegássemos em casa ,mais tarde,estaria tudo na mais perfeita paz.

Deixei meu irmão na lanchonete em que trabalhava e dirigi em direção a escola.

Charlie, apesar de infantil,era um bom homem,que infelizmente,não teve muita sorte.Ele nunca conseguiu uma bolsa na faculdade e meus pais não poderiam pagar para ele,então teve de se contentar com um emprego como o de atendente de loja especializada em frango frito, o Chicken's Cool(existe algo pior que o nome desse lugar?Sim,trabalhar nesse lugar).O dinheiro não era o suficiente para se sustentar, então ele continuou morando comigo e nossos pais.Sua única namorada foi para a cidade grande e nunca mais deu notícias.Vez ou outra sinto que meu irmão tem esperanças de que ela volte.

Quando nós dois éramos crianças planejávamos morar em Nova Iorque e sair do interior,voltaríamos para o interior apenas no natal,para matar as saudades.Nós dois amávamos aquele lugar, afinal,havíamos crescido lá, mas a cidade grande havia sido feita para nós dois.

Infelizmente, Charlie não havia conseguido, mas eu iria.Minha bolsa de estudos já estava,praticamente, em minhas mãos e logo logo eu estaria estudando e jogando futebol em Nova Iorque.Se tudo corresse bem eu até poderia levar Charlie para lá depois de um tempo.

Cheguei na escola e vi que meus colegas me esperavam na porta e faziam zona como h estacionei o carro,Candice veio para perto do carro e me deu um beijo imenso quando saí do veículo.

Abracei alguns colegas de time,mesmo os tendo visto no meu tempo fora da escola.

Fomos juntos para dentro e,naquele momento,eu soube que minha vida ainda não era perfeita, mas poderia se tornar.

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