Cidade de Corvan Hills — Em algum lugar na Europa
Megan
Algo nele me intrigava, não era só o jeito como agia quando estava sozinho, mas também como conseguia o que queria em um simples estalar de dedos. Não era um novato, quando eu cheguei a esse colégio ele já causava burburinhos. Desde que me recordo sempre escutei de todas as estudantes sobre como ele mexia com o consciente delas sem mesmo proferir uma única palavra. Seus olhos eram profundos, misteriosos, me instigavam e me deixavam cada vez mais interessada sobre quem ele era. William Enzor. Ou William para todos que estudam aqui ou pessoas de fora.
Esse cara se assemelhava a um bruxo, pois por onde passava, não importava se havia mulheres sozinhas, acompanhadas, casadas, ou até mesmo mais velhas, as atenções iam diretamente para ele como algum tipo de magnetismo. Sua beleza lembrava até mesmo um pecado: cabelos escuros, olhos da cor de uma pedra ônix, corpo atlético demais para um mero estudante e alto. Tudo isso atraía o foco de todos como se estivessem hipnotizados. Sua voz quando cantava durante um dos shows de talentos do colégio mostrou que era a perdição, rouca e afinada, o suficiente para qualquer uma cair aos seus pés implorando por ele, chorando feito um bebê. Mas sempre era a mesma coisa: ele não respondia uma palavra, apenas acenava para elas e saía andando como se nada tivesse acontecido, quebrando alguns corações pelo caminho, recebendo lágrimas e muita raiva delas.
Ele era um total segredo por aqui, tentei encontrar seus arquivos, mas... Nada. Todos pareciam ter desaparecido como num passe de mágica, assim como qualquer informação sobre seus amigos – descobri que eram sete no total, mas somente dois estudavam e conviviam com ele diariamente: Jackson King e Tyler Miller. Por sorte, fiz algumas pesquisas que deram resultados, não totalmente satisfatórios, mas o suficiente. Suas aparências eram perfeitamente simétricas como à dele, não importava como se encontravam – se sérios, sorridentes, ou simplesmente quietos. Atraíam a atenção das estudantes, recebendo um tipo de ódio dos demais alunos e que os vissem como um tipo de concorrência desleal, já que não precisava de muito para todas de amores por eles.
— Megan? Megan? Megan! — Acordei quando ouvi a voz desesperada ecoando em meus ouvidos. — Pensando no William novamente? — Virei depressa e encontrei Jasmine com as sobrancelhas arqueadas.
— Ele é um mistério. Isso me intriga — sussurrei escondendo minha expressão consternada em minhas mãos. Ela suspirou e negou meio conformada. Vinha sendo assim desde a primeira vez em que perguntei a Jasmine sobre William. Minha intromissão esmurrando na porta pronta para investigar e descobrir coisas que não eram da conta dela. — Não acha toda essa situação com William muito estranha ou até mesmo suspeita? — continuei com minha velha desconfiança.
— Até mesmo as câmeras não conseguiram encontrar algum suspeito, elas quebraram, lembra-se quando a própria diretora veio até nós informando sobre o tal ocorrido? — Ela segurou meu pulso me instigando olhá-la. — Eles não têm cara de ser amigáveis, Megan. Fique longe desses três. — alertou, encarando-me diretamente.
— Eu não consigo — bufei esfregando minhas palmas juntas. — Minha ansiedade me força a tentar descobrir mais sobre eles, principalmente William. Algo a respeito desse aluno instiga meu lado detetive a níveis que até eu mesma desconhecia. Acha que gosto de investigar esse menino e dar sempre com a cara em uma parede nova de concreto, ficando sem respostas? Claro que não, mas não consigo parar, Jas. — Levei os dedos ao cabelo, bagunçando-o, pouco me importando se alguém iria ver ou achar estranho.
— Ok, Sherlock Holmes. Todos aqui nesse colégio os odeiam, até mesmo os de fora, mas por que acha que não mexem com os três? Eles têm medo, Megan — ela contou tendo meus olhos focados nos dela. — Isso aí, eles têm alguma coisa que põe medo até mesmo no pior bad boy do mundo. Isso porque eles não brigam com ninguém, mas todos assimilar que o perigo exala dos poros daqueles três. Não pode ser pequeno nem leve, se até mesmo Jason Porter tem medo deles. O cara é um valentão de primeira linha, deixa valentões de outros lugares e filmes se comportando crianças mimadas porque eles perderam um brinquedo, isso é estranho e suspeito — pontuou erguendo o indicador provando ter razão.
— Nossa. — Murmurei focando minha atenção para frente e vi os três entrarem quietos, com expressões preocupadas. Os olhos de William cruzaram com os meus e permaneceram daquela maneira por um longo tempo. Eu ouvia a voz da minha amiga, mas não prestava atenção no assunto. Perdi-me completamente naquela imensidão escura tão profunda. Eu parecia presa. William era o predador e eu a caça, enquanto ele minuciosamente analisava os detalhes para atacar. Senti uma bofetada na nuca, eu girei encarando Jasmine. Um tanto chocada, massageei o lugar do tabefe.
— Por que isso? — questionei brava. Ela bufou e colocou minhas bochechas entre suas mãos. — Você está apertando minhas bochechas e dói, Jasmine — resmunguei com a voz um tanto estranha por ter um bico.
— Você não me escutava. Pois permanecia muito ocupada presa ao William. — Corei por ter sido pega. — Ouça-me com atenção, Megan. Tem qualquer coisa errada com esses três, eles têm um tipo de bruxaria para enfeitiçar as moças indefesas, não importa a idade, e vejo que William usou a dele para te fisgar. Não caia nesse feitiço, irmãzinha, porque quando ele acaba tudo o que resta são lágrimas e coração partido, nunca do lado do William — lembrou-me, recebendo de mim um suspiro como resposta.
— Não teve sucesso — tentei convencê-la, mas ela apenas revirou os olhos. — Eu apenas o encarei — cochichei abaixando a cabeça. — Até onde eu saiba, não é pecado espiar, Jasmine, até porque o cara é gato demais para ser despercebido. — Dei de ombros não me importando muito.
— É assim que todas se apaixonam e acabam desoladas no final — bufou virando para frente. — Eu apenas vou te avisar, Megan. Evite ao máximo observar William. Ele tem algo um tanto estranho, e pode ser arriscado, não sei se é meu sexto sentido ou apenas coisas da minha percepção, mas o assegurado morreu de velho — finalizou causando minha risada com sua frase.
Jas viu que o Senhor Mendes vinha entrando por isso ficou quieta. Suas palavras martelaram em minha consciência durante toda a lição, o aviso sobre William ser duvidoso me parecia mesmo convicto, só que eu custava a acreditar. Mas ainda queria descobrir o que esses três escondiam e como conseguiam ter todas aos seus pés.
— Megan? — Acordei vendo meu professor me observando. — Preste atenção na explicação sim?
— Desculpe-me professor — pedi um tanto envergonhada por ter sido pega com a longe da sala, Jasmine me assistiu e negou exibindo um sorriso de canto. Ergui meus ombros, logo voltei a copiar a lição que ele terminava. Mas os pensamentos me rondavam e distraíam toda hora.
[...]
Quando o sinal do intervalo tocou, vi Jasmine se levantar e me chamar, mas precisava pegar meus fones. Ela foi à frente. Fiquei de costas para a porta revirando minha mochila procurando aquele maldito negócio.
— Procurando isso aqui? — Arrepiei-me quando escutei aquela voz. Virei-me lentamente e vi William ostentar meu fone branco.
— C-Como o achou? — interroguei claramente nervosa.
— No chão. — Piscou. Então, quando fui pegá-lo, ele tocou em meu pulso, aproximou-se, deixando sua respiração bater na minha cara. — Por que tanto me espiava mais cedo? Curiosa sobre mim? — questionou sussurrando. Observei-o nos e senti uma sensação estranha.
— N-Não sei, eu só olhei — respondi desviando a atenção, pois me lembrei do aviso de Jasmine. Nunca o encare diretamente. — Não mata analisar as pessoas de vez em quando — debochei o vendo sorrir suavemente. E, caramba, até sua risada era bonita.
— Por que não me analisa agora? — indagou capturando meu queixo com delicadeza para olhá-lo. — Você me teme Megan? — Sondou convencido. Estreitei os olhos o fitando com determinação.
— Não — eu afirmei e ele demonstrou surpresa, afinal arqueou uma sobrancelha.
— Não mesmo? — indagou mais uma vez tentando me convencer que eu talvez devesse temê-lo, só não sei o motivo. — Eu acho que está.
— Que bom que a vida não é feita de acho não é? — Fui firme, por mais que por dentro eu parecesse um tanto tensa. Aquela proximidade era perigosa demais, eu sabia disso, mas minhas pernas pareciam paralisadas, não consegui me mover para empurrá-lo. — Agora pode me devolver o fone, por favor? — pedi educada. Ele riu baixo, então colocou meu cabelo atrás da orelha, foi até meu ouvido e suspirou causando uma lufada de ar quente bater contra a minha pele, ocasionando os mais diversos tipos de arrepios. Eu prendi o fôlego fechando os dedos com força, tentando não pular em William. Mas ele não tornava as coisas muito fáceis.
— Muito corajosa, sabia? — sussurrou. — Qualquer uma no seu lugar teria me beijado ou até mesmo fugido há muito tempo. — Voltou a me encarar, dessa vez mais perto. — Gosto da sua firmeza. — afirmou alternando a atenção entre meus olhos e boca
— Não sou tão idiota ao ponto de te beijar para ser rejeitada logo depois. — William revelou um sorriso, agora mostrando seus dentes perfeitos e brancos. — E não sou como as outras, William. A única coisa que quero agora é te bater bem forte para lembrar que a Terra não gira ao seu redor. Você não é o centro do mundo, meu querido — pontuei cruzando os braços, o que o deixou bem surpresa e risonho.
— Não temos certeza que eu te rejeitaria depois. — Sua afirmação acendeu coisas dentro de mim as fazendo reagir de uma forma na qual eu não queria. — Mas... Não gostaria de tentar? — Nossas bocas se encontravam a milímetros, só um impulso que eu o beijaria, ou vice-versa. Fiquei parada o observando, William analisava cada detalhe do meu rosto e estatura, aparentava querer guardar a imagem como uma fotografia.
— Tentar o quê? Tocar-te ou te bater? Porque eu estou muito tentada a aceitar a segunda opção — contra-ataquei o vendo gargalhar ainda mais. — Sai — pedi espalmando as mãos em seu peito e o empurrando, mas Will envolveu suavemente meu pulso. Contemplei aquilo, mordendo o lábio. — William.
— E se eu não quiser? — Suas provocações iriam me deixar doida, não só de raiva, mas de excitação também. Ele tinha mesmo dezoito anos?
— Vou gritar — ameacei o vendo sorrir de canto.
— Calma, Megan, eu só vim aqui para conversar — pontuou estreitando o olhar. — Eu não vou te colocar no ombro e sair como um homem das cavernas — cochichou quase colando nossas bocas. Reuni esforços e desviei, saindo dali andando o mais rápido que pude, antes que eu voltasse e agarrasse aquele idiota.
Quando vi que ele não me seguia, parei encostando-me à parede e escorregando até sentar-me no chão. Passei a palma na testa tentando acalmar tudo dentro de mim que ainda reagia ao William mesmo este estando longe. Fechei os olhos com vigor lembrando segundos atrás quando ele quase me tocou ali mesmo na sala. Respirei profundamente, procurando um pouco de controle, e acabei levantando-me ainda meio tonta e indo até o refeitório. Lá encontrei Jasmine sentada com Patrícia e quando me viram ambas franziram as testas.
— Por que você parece tão pálida, Megan? — Patrícia questionou preocupada. Neguei sentando-me ao lado de Jas.
— Nada demais, só uma tontura. — Inventei algo, pois se contasse o que aconteceu na sala, tenho confiança de que Jasmine me mataria. William apareceu não muito tempo depois, também fingindo que não havia nada fora do lugar. — Vou ficar bem — menti sabendo que atuava muito bem.
— Tem certeza, Megan? — Jas questionou querendo respostas. Assenti sorrindo de canto para ela.
— E nesse caso... Sobre o que vocês falavam? — sondei mudando de assunto. Elas logo me colocaram a par e descobri que falavam sobre William e os outros dois. Meu corpo arrepiou quando escutei seu nome, mas permaneci normal para que elas não suspeitassem. Entrei no papo assimilando o que Patrícia dizia. Ela também tinha essa curiosidade de saber sobre eles. De repente, eu notei e vi uma desconhecida andando em direção ao refeitório. Ela foi até os rapazes e todos a observavam sem entender nada, afinal, ela não estudava aqui.
Ficou de frente à mesa de William e espalmou as mãos ali, murmurando alguma coisa para eles, só que não descobri o quê. Eles se olharam, por isso se ergueram. Vi William me encarando antes de finalmente ir. A desconhecida acompanhou sua visão e pude ver um arranhado feio em sua bochecha. Estreitou os seus orbes, assim empurrou-o partindo também dali com Jackson e Tyler.
— O que foi aquilo? — investiguei não entendendo. Ambas negaram tão perdidas quanto eu.
— Isso foi tão estranho para você como para nós — Jasmine retrucou meio perplexa. — Vocês... viram o arranhão no rosto dela? — sussurrou mexendo o corpo como se lhe percorresse um arrepio.
— Vimos — Patrícia respondeu por mim e eu apenas confirmei.
Notei que aquele “mistério” era o assunto do refeitório, assim como do colégio. Eles pareciam ainda mais populares, as meninas começaram do nada a odiar aquela que veio buscá-los mesmo sem conhecê-la. Ela não aparentava ser namorada de nenhum deles, ou teria tratado qualquer dos três como alguém compromissado, não é?
Assim que voltamos para a sala reparei que meu fone foi colocado em cima da mesa. Franzi o cenho lembrando que tinha deixado com William quando fugi. Peguei-o e guardei antes que Jasmine visse e interrogasse por que demorei tanto se ele ficou em minha vista o tempo todo. Vislumbrei onde William esteve sentado antes e os lugares dele e seus amigos se encontravam vazios. Se eu estranhei? Claro. Afinal, nada tinha sentido. Minha cabeça parecia rodar ao redor de William e de descobrir tudo sobre ele.
Eu escutava a voz da professora, mas minha mente percorria novamente até aquele garoto e em como ele foi capaz de mexer profundamente comigo em apenas alguns instantes a sós. Nunca senti algo tão forte e intenso como há minutos. William era misterioso, só que ao mesmo tempo eu queria saber como ele conseguia isso. Nem que eu precisasse investigar tudo aquilo a fundo.
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Híbrido
Romance[DEGUSTAÇÃO] [Adquira o ebook completo na Amazon] [Link no perfil] O planeta tem mais segredos do que se possa imaginar. Megan não fazia ideia de algo assim quando ficou intrigada sobre William Enzor e tentou de todos os jeitos investigar quem era a...