Conheci uma mulher que vivia presa em correntes. Ela habitava um quarto escuro e gelado, era assustador! Ao entrar, perguntei:
- Por quê está aqui, acorrentada?
Ela me respondeu:
- Você sabe que é a única que me vê aqui?
- A única? Ninguém te vê?
Pensei que pudesse estar delirando, então ela respondeu:
- Ninguém quer ver.
- Quem é você?
- Quem você acha que eu sou?
- Bem, eu não sei....por isso estou perguntando! Não está com medo, nem com dor? Não sente o frio?
- Você sente?
- Eu sinto medo!
Ela riu, ela parecia o tempo todo estar zombando de mim.
- Por que está rindo?
- Porque eu já gritei muito para sair daqui e ninguém me escutou.
- Por que não continua gritando?
- Como veio parar aqui?
- Eu não sei, eu não vi! Parece que deixei muitas coisas passarem, não percebi...
- Não quis perceber, não é?
- Eu não quis saber do que seriam os rumos, não sabia que escolhendo um caminho, chegaria até aqui...
Ela riu novamente! Era um lugar desconfortável, não havia nada além da mulher acorrentada. Não havia luz, não havia nada! os sentimentos bons pareciam ter desaparecido de mim. Eu sentia apenas medo, angústia, agonia e desespero.
- Pois bem, vou embora assim que tirar você dessas correntes! - Falei.
- Não tem como sair. Você não entende? Você não vai sair!
- Como não, se eu entrei?
Olhei para trás e vi a porta fechada! Eu entrei em pânico, corri até lá e percebi que ela havia sido trancada por fora! Bati, bati, bati e ninguém abriu. Gritei, gritei, gritei, gritei... até a voz sumir, e então, cansei de gritar.
A aparência dela se transformou ainda mais, agora estava completamente bizarra: me olhava com um olhar de quem queria devorar e ria de forma medonha como se gostasse de ter me visto gritar. Sinto medo, agora, ao descrevê-la! Estou no quarto com ela há mais tempo do que poderia imaginar. Eu ainda não sei quem ela é, ainda não sei como fui tão estúpida de vir parar aqui! Quando percebi, eu também estava acorrentada!
