𝙳𝚊𝚒𝚕𝚢 𝙳𝚎𝚖𝚘𝚗𝚜

11 2 0
                                    

"Um dia eu vi o diabo" Disse Catrina à mãe. "Ele tinha olhos azuis e usava uma gravata borboleta."

"Deixe de mentiras,Catri. Deus não gosta disso." A menina não estava satisfeita com a resposta da mãe. "Mas eu não estou mentindo,mãe. Eu de verdade vi. Eu juro." A mãe sem poder fazer nada,mas surpreendida com a imaginação da pequena de seis anos,decidiu apenas consentir e pôr a coberta sobre a filha. "Tudo bem,querida. Caso você veja o diabo novamente,me chame. Quero ter uma conversa séria com ele " . " Eu acho que ele não quer conversar com você. Ele disse que você é má"  A mãe engoliu em seco a resposta . "E por que ele disse isso?" . "Ele disse que você coloca balinhas más no suco do vovô."

A mãe por um momento tremeu. O Diabo. Quem estava falando aquilo para a doce Catrina? Ninguém mais sabia disso,exceto a própria mãe.

"Catrina,me escute bem. Quando ele vir falar com você não ouça e chame a mamãe,okay?". "Certo,mãe".

A mãe ainda embevecida com toda situação decidiu por fim deitar-se. O que não foi o caso de Catrina,a qual ficou sentada olhando para janela que sofria ferozes batidas dos galhos da macieira.

" Sr.Diabo...É você?". O vento soprou mais e a janela se abriu. As folhas da macieira voavam pelo quarto como um redemoinho,enquanto os galhos do lado de fora se despedaçavam. " Eu sei que é você. Não precisa ter medo,ela já foi". Como se saísse da sarjeta um assobio estarrecedor se rebatia nas paredes causando eco. E como num sonho nada lúcido,uma figura materializou-se sentada na janela.

"Eu pensei que não vinha hoje,Sr.Diabo. Eu tenho tantas coisas para te contar." . A figura cresceu tomando a forma de um homem. Alto. Branco. Gravata bagunçada. Olhos azuis.

" Desculpe-me,pequena. Mas o trabalho é árduo assim como a jornada,mas sua presença bruni meu dia como um metalúrgico bruni o ouro." . Catrina riu. Achava engraçado as palavras complexas e com significado até então desconhecido para ela. " Você nunca me contou com o que trabalha "   "Bem...Como posso explicar..."  . Sentou-se ao lado da menina e , então  encetou a explicação. " No mundo já muitas pessoas más que acabam se dando bem mas quando morrem elas não vão para um lugar bom,vão para um lugar ruim como elas. E eu sou encarregado de tortur-,digo conscientizá-las de seus atos errôneos e puni-las devidamente,entendeu?" . Ela franziu a os olhos na tentativa de ligar a explicação do "homem". "Acho que sim...Então você pune pessoas más...Então você é bom!"  "Admiro que pense assim. Não são todos que tencionam esse assunto como você ".

A garota sorriu. " É por isso que nos damos bem.Mas minha mãe disse para não falar com você" . O Diabo contorceu a face,como alguém que engoliu algo muito amargo. "Ah. Ela disse?" . Catrina fez que sim . "Catri,eu vejo coisas que ninguém mais vê. Eu vejo a alma das pessoas. E a da sua mãe é suja e cruel. Eu não sei como alguém tão puro nasceu de uma completa vadia."  . "Sr.Diabo,mas nossas mães não eram para serem boazinhas?"  "Nem todas são,a minha não foi comigo,me machucou,assim como a sua faz com as pessoas e fará com você. Por isso tenho que tirar-te daqui."
"Aonda vai me levar?E o que é vadia?" . O Diabo arrependeu-se de suas palavras baixas com a menina,mas ainda assim não havia mentido sobre quem era sua mãe. " Já ouviu falar de Londres?Lá é lindo...E...Vadia é um nome para mulheres muito más."

A garota cogitou o convite do Diabo. Ela teria que sair de casa. Ela nunca havia saído. Sua mãe dizia que lá fora havia pessoas muito ruins. Mas dentro de sua casa havia piores.

"Eu topo."

O Diabo sorriu. Poderiam falar o que quisessem dele. Que era cruel,maquiavélico,torturador,filho da puta,mas não suportava uma ação violenta,mínima que fosse contra uma criança. E isso ele via na casa de Catrina.

A mãe era um prostituta drogada. O avô que morava há alguns anos com ela era um pedofilo nojento que sempre a molestava,que aliás era drogado pela sua mãe todas as noites para não ter aue aturar reclamações. O pai havia se suicidado após saber da gravidez da mãe. O padrasto batia na garota sem razão,apenas descontando sua infeliz vida.

E o próprio Diabo não suportava aquela família. Na verdade ele não suportava a sociedade. A sociedade que sempre o viu como o errado.Que sempre botava a culpa nele por problemas privativos. Cansado de ser o vilão da história sem enredo. Sem prólogo. Sem nada.

E nas crianças viu a esperança do mundo. As tirava de famílias doentes e cuidava.

Diabo,o nome o qual pesava sobre si por milênios,agora era nada mais que letras vazias,até por que,que culpa tinha pelos atos desgraçados de humanos egoístas?

E mais uma vez,deitou a criança em seu colo e desapareceu como uma sombra no escuro.

______________________________

Votem e comentem,quero saber o que acharam.


𝙳𝚎𝚖𝚘𝚗𝚜 𝚊𝚛𝚎 𝚊𝚕𝚜𝚘 𝙰𝚗𝚐𝚎𝚕𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora