Capítulo 15

349 51 33
                                    

Preparem-se para um misto de emoções. Boa leitura!

...

Ron vestia uma jaqueta de camurça por cima de uma camisa de malha, jeans velho e botas desgastadas. A mesma roupa com a qual saiu para levar seu filho para a escola mais cedo.

Ele não era um homem vaidoso. Isso era claro. Fazia tempo que não sabia o que era entrar em uma loja para comprar roupas para si. Era sempre para o Matt, que crescia rapidamente e, às vezes, para Ray e Ryan. Mas, nos últimos dois anos, tinha sido particularmente difícil se permitir a tal extravagância. Orientou os irmãos a cuidar bem do que vestiam, pois não haveria como adquirir novas peças.

Ficava aflito de ver o filho usando roupas pequenas demais para seu corpo, mas Matt nunca reclamou. O jeito foi comprar peças maiores para que durassem mais, e Laura costurava as antigas, remendando-as para que pudessem ser reutilizadas.

O fazendeiro odiava isso. Odiava não conseguir dar uma vida digna à família. Estava longe da fartura da qual pode desfrutar durante sua infância e parte da adolescência, e sabia que os tempos de glória não voltariam nunca mais. Nas circunstâncias atuais, até o mínimo era conseguido com muito suor e esforço.

Criar os irmãos não foi uma tarefa fácil, mas Ron fazia o melhor que podia. No início, ele ainda tia o padrinho Francisco, que o ajudou tremendamente a se ajustar no papel de provedor da família. Quando Benjamin faleceu, oito meses após a morte de Anna, Ron já era um adolescente, mas seus irmãos tinham apenas cinco anos. Era muito para uma criança processar. Francisco foi o responsável por anunciar a morte do patriarca dos Craig para os gêmeos. Laura também foi fundamental nesse processo, sendo a rocha de Ron em seu momento mais vulnerável e triste.

Seis anos depois, a família teve de lidar com outra perda: a do próprio Francisco, que sofrera um mal súbito enquanto trabalhava. A ambulância chegou em poucos minutos, mas o homem já estava morto. Naquele momento, Ron viu Laura, uma mulher tão alegre e forte, desmoronar. Nick ficara transtornado, embora evitasse mostrar isso para sua fragilizada mãe. Fora Ron quem tomara as providências para o funeral do padrinho.

O funeral fora marcado pela tristeza e dor. Muita dor. Assim como Anna e Benjamin Craig, Francisco Xavier era um membro estimado da comunidade, e o tipo de pessoa que tinha o poder de deixar qualquer um à vontade. Assim como a esposa, era muito perceptivo e fazia com que se abrissem com ele de forma muito natural.

Nessa cerimônia, Billy Winehouse sequer aparecera. Apesar de ter ressentimentos em relação aos Craig, o velho respeitava Francisco. Fora que, se desse outro vexame, como fizera nos funerais de Anna e Benjamin, era bem capaz de ser preso e até expulso da cidade.

Quando tudo terminara, os Craig e os Xavier voltaram para casa, só para serem recepcionados por um representante do banco de Montpelier, que estava parado na entrada da fazenda. Ele prestou suas condolências à família, mas não havia outro jeito. Entregara a Ron – que àquela altura, tinha idade o suficiente para resolver qualquer assunto legal e financeiro relacionado aos bens deixados pelos pais – uma carta em que explicava que o terreno havia sido hipotecado para pagar os custos da hospitalização e do tratamento de Anna, algo que Benjamin falhara em fazer, deixando as dívidas se acumularem.

Ninguém sabia daquilo. Laura e Nick ficaram além de chocados, mas Ron... ficara anestesiado. Inexpressivo. Apenas lera a carta rapidamente, agradeceu ao advogado por avisá-los e disse que iria ao banco resolver o assunto.

O advogado insistira em conversar um pouco mais sobre a questão, mas Laura perdera o controle, e por pouco não agredira o homem, – Ron e Nick a seguraram –dizendo que ele era um insensível por ter escolhido o pior momento para procurá-los e que era um monstro sedento por dinheiro. O homem se desculpou profusamente, disse que esperaria pelo retorno do responsável pela propriedade e foi embora.

Labirinto - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora