003. SURPRESA

502 36 14
                                    

Quando eu caí em realidade, já faziam alguns meses. Mais especificamente, 8 meses e 15 dias.

Aquela coisa toda de que ele já nem passava pela minha cabeça não durou muito, tenho que admitir. Algumas pequenas coisas ainda me lembravam dele, mas nada que me deixasse morrendo de saudade; era só minha memória fazendo seu trabalho.

Nesse meio tempo, troquei de emprego. Pedi demissão no escritório da concessionária no Centro e fui trabalhar num restaurante super chique, mais perto de casa. Apesar de ser só a garçonete, era um bom salário, até porque era um bistrô daqueles bem refinados.

Não era cansativo como no escritório, pelo contrário, era até bem confortável. O ambiente era aconchegante, todos os clientes, ou pelo menos a maioria, eram extremamente educados, e o chefe da cozinha era super legal também. Sem papelada, sem chefe me cobrando. Tranquilinho.

Até que a vida resolveu testar a minha sanidade.

Vi um casal chegar ao longe, e sentar-se numa mesa mais à entrada, de frente para a vidraça. Era uma sexta-feira fresca, um clima adorável.

Logo tratei de ir até ambos, que já follheavam o cardápio.

─ Bem-vindos ao Le Parisien. Qual será o pedido? ─ perguntei, como de costume, enquanto abria meu caderninho.

E foi só aí que eu dirigi o olhar pros dois e me dei conta.

─ Bianca?

Engoli em seco.

─ Pedro. ─ apenas desviei o olhar ao chão, assentindo com a cabeça.

─ De onde você conhece essa aí? ─ a que o acompanhava me olhou de cima a baixo, com desprezo.

─ Estudamos juntos na adolescência. ─ me pronunciei de imediato, quando percebi o desconforto de Pedro. ─ Quanto tempo!

─ Pois é...

─ Ah, tudo bem. Já pode ir anotando o pedido, queridinha. ─ a garota se intrometeu, querendo me expulsar logo dali.

[...]

─ Cíntia, por favor, entrega esse pedido pra eles, não quero voltar naquela mesa.

Eu tava quase implorando de joelhos pra minha colega de trabalho servir o casalzinho mais infeliz que eu já tinha visto.

─ Mas o que têm aqueles dois, Bia? Cê tá parecendo uma maluca.

─ Aquele ali é o meu ex. E, provavelmente, a namorada nova dele. ─ senti meu estômago embrulhar ao apontar para os dois.

─ Ah...tudo bem, eu cubro essa pra você até eles irem embora. ─ sorriu, me abraçando.

Ainda não éramos extremamente íntimas, mas Cíntia era de longe a mais simpática dos funcionários ali.

SMILE | pedro orochiOnde histórias criam vida. Descubra agora