Capítulo 5

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Quando acordei, sentia dores por todo o meu corpo. Esperava encontrar Tobio ao meu lado na cama, mas não havia mais o calor do corpo dele ou os sons dos estalos suaves do fogo na lareira, apenas a brisa gélida do começo da alvorada e um quarto que me era familiar até demais. Em algum momento voltei a dormir e quando acordei outra vez em meus aposentos, a senhorita Alisa me olhava com preocupação.

— Shouyou! — ela sorriu, assim que viu que estava acordando. — Venha, Natsu! Veja, ele está acordado!

A pequena Natsu pulou em minha cama. Não era comum vê-la chorando, era preciso algo muito grave acontecer. Mas podia ver como seu rosto estava molhado por rastros de lágrimas e inchado, denunciando que não era de agora que ela se desmanchava em pranto.

— Shouyou!

Retribui o abraço de minha irmã mais nova enquanto tentava entender o que estava acontecendo. Meio sem jeito, ignorando a dor aguda que subia por meu quadril, me esforcei sentar na cama.

Logo atrás das duas, Lev também parecia atento a qualquer movimento meu.

— Estávamos todos muito preocupados, Shouyou — foi a senhorita Alisa quem disse. — Como está se sentindo?

Sentia dores por todo corpo. Mas, ao lembrar do motivo para estar com aquelas dores, não consegui falar coisa alguma. Na noite passada, dormi com um rapaz. Não apenas um rapaz, mas Tobio, a besta amaldiçoada que assombrava nossa fazenda há semanas.

— Estou bem — respondi simplesmente.

O olhar de Alisa pesou, como se ela soubesse que eu estava mentindo.

— Pensávamos que você não voltaria mais... — foi Lev quem disse.

— Shouyou — Natsu me chamou, com a mesma voz quebrada, como se fosse voltar a chorar a qualquer momento. — Você foi atacado pela besta?

Olhei para o curativo bem feito em meu braço. A marca de garras estava ali, assim como sentia arderem as marcas por minhas pernas e cintura. Se eles cuidaram de meus ferimentos, depois de tudo o que aconteceu, certamente sabiam que havia encontrado a tal criatura. Depois que desapareci, com o incêndio, deviam estar pensando que, se não morri com o fogo, a besta teria me levado, e quando surgi outra vez com todas aquelas marcas, estava confirmando a teoria de que realmente encontrei o ser feroz. O que não conseguia ser explicado analisando todos aqueles fatos, era como eu estava vivo depois de encontrá-la.

— Eu derrotei a besta — disse.

O peso da preocupação deu lugar a curiosidade.

— Como? — Lev perguntou.

Mas Natsu apenas afundou mais o rosto em nosso abraço.

— Eu não gosto que você se arrisque. Estava com medo.

Apertei ainda mais minha irmã em um abraço. Se eu morresse, mesmo tendo Alisa, Natsu ficaria solitária. Ao ver todos ali e sabendo que a besta foi mesmo derrotada, não consegui não sentir o contentamento transbordando por meu peito. Eu estou vivo e consegui proteger a todos. Tudo acabou bem.

A lembrança do olhar marcante de Tobio surgiu em minha mente. Até ele foi protegido. A maldição foi quebrada. Pensar em tudo isso me fez sorrir. Mas me fez sentir também um aperto no peito. Onde está Tobio?

— Como eu voltei para casa? — perguntei enfim.

Os irmãos Haiba trocaram um olhar.

— O mestre Kageyama trouxe você até aqui — Alisa disse.

Aquilo me pegou desprevenido.

— Kageyama?

— Ele pediu para ser avisado quando você acordasse... Lev, pode avisar?

Big bad wolfOnde histórias criam vida. Descubra agora