Era exatamente 15:06 de uma segunda-feira nublada e levemente deprimente quando eu percebi que você não sairia da minha cabeça por bem. Então, eu teria que te forçar para fora. Foi quando, vendo as folhas mortas que coloriam o meu quintal em uma casa pequena em uma cidade ainda mais pequena, finalmente notei que era preciso te colocar no papel. É assim, afinal, que me livro de tudo, não? É o que faço quando, em uma madrugada solitária e silenciosa, sinto o desespero brotando tão fundo em mim que quero gritar. É o que faço quando a euforia e a alegria são grandes demais para não serem compartilhadas e não há ninguém ao meu lado.
Perguntei-me qual seria a melhor forma de te transmitir para o papel. Pensei em um livro sobre a nossa história, mas então lembrei que não tínhamos história o suficiente para isso. Talvez um pequeno conto sobre nossos melhores momentos? Mas cada pequeno espaço de tempo era tão especial ao seu lado. Como eu poderia escolher apenas um? Talvez o pedido de namoro pudesse ser o início, mas o instante em que nos conhecemos não foi tão importante quanto? Desviando todas as opções que não dariam certo, finalmente decidi o que escrever.
Uma carta. Não para você, mas para tudo o que fomos e vivemos um dia.
Não quero falar sobre a forma como meu coração batia mais rápido toda vez que você sorria, nem como o suor não era capaz de nos fazer desentrelaçar nossos dedos. Não preciso falar sobre isso, porque você estava lá, também viveu cada sentimento e ação. Ao invés, quero falar sobre as dúvidas, as incertezas, os medos. Quero te explicar coisas que você não seria capaz de entender sozinho.
Bem, então...
Querida pessoa que participou do meu passado, quando nos conhecemos éramos jovens demais para dar certo. Sentimos tudo muito intensamente em um período de tempo muito curto. E agora, quase seis anos depois do dia em que te vi pela última vez, você ainda está marcado tão profundamente em quem sou que me pergunto quem seria se algo tivesse sido diferente. Se não tivéssemos nos conhecido, eu ainda seria uma romântica incurável? Se não tivéssemos terminado naquele dia, eu teria aprendido a me amar um pouco mais? Você era o único que acalmava minhas inseguranças.
Mas agora já se passou tanto tempo que me pergunto se você era, de fato, tão especial quanto me lembro. Você realmente ria com tanto gosto das minhas piadas ruins e esperava com tanta expectativa pelos meus beijos?
Às vezes, quando não estou conseguindo dormir, fico com medo do tempo estar prejudicando minha memória e toda a nossa história não passar de mentiras que conto para mim mesma. Não sei como me sentiria se descobrisse que não tivemos o significado que achei que tínhamos.
Mas apesar de tudo o que éramos um para o outro – o que você era para mim – ainda fui eu quem terminou, não? Fui eu que, mesmo com o coração acelerado e o clichê da borboleta no estômago, decidi colocar um fim em tudo. Que foi covarde o suficiente para nem ao menos olhar nos seus olhos enquanto dizia e foi embora sem processar a expressão em seu rosto. Se eu tivesse tido a coragem de olhar para trás, onde estaríamos hoje?
Não sei, porém, se você entenderia caso eu tentasse explicar o porquê de eu ter terminado, quando, aparentemente não havia motivos para isso. Você seria capaz de compreender se eu dissesse que tinha medo de não ser o suficiente – porque você era tão adorável, e eu, o que era? –, de ser trocada, porque eu sabia de tantas outras garotas mais bonitas que gostavam de você, e eu era um nada perto delas?
Como eu poderia saber naquela época, tão imatura e assustada, que você não queria nenhuma delas? Como a minha insegurança poderia me deixar ver o fato que você não me via da mesma maneira que eu? Como poderia acreditar que você gostava das minhas teorias malucas e da vergonha que eu sentia antes de te beijar? Tinha alguma forma de eu acreditar em todas as suas promessas?
Então, te deixei, com a certeza de que você merecia alguém melhor. Quando você não namorou ou ficou com qualquer outra garota e insistiu que gostava de mim, que queria voltar, simplesmente não entendi o que estava acontecendo. Por quê? O que eu tinha que te fazia insistir?
O meu coração ainda batia tão rápido quando estava por perto que, naquele dia, não consegui dizer nada. Só te beijei. Só tentei deixar minhas inseguranças de lado, prometendo a mim mesma que eu não deixaria mais ela me afetar. Mas como eu poderia controlá-la?
Um mês depois, eu terminei de novo. Você era incrível e nunca me julgou. Eu só precisava focar no meu relacionamento comigo mesma. Como eu conseguia te amar tão intensamente e me contentar apenas com as migalhas que guardei para mim? Se eu era digna do seu amor, por que não era digna do meu?
Foi necessário. Só me arrependo de não ter dito tudo no momento em que falei que queria terminar. Acabei com você duas vezes e em ambas te deixei sem explicação.
Só queria te dizer que te deixar não foi fácil. No dia seguinte eu já sentia tanto a sua falta que chorei enquanto preparava o almoço. Foi tão difícil que, mesmo hoje, quase seis anos depois, ainda me pergunto como estaríamos se eu não tivesse feito isso. Poderíamos ainda estar juntos ou, pelo menos, ser amigos? Seria bom ser sua amiga. Tem momentos em que me pergunto como você está e luto em uma guerra interna comigo mesma para não te procurar em alguma rede social.
Você ainda tem aquela alma amável e inteligente?
De qualquer forma, nós somos uma história terminada. Depois que terminamos pela segunda vez, foi difícil te ver feliz ao lado de outra pessoa. Hoje noto que até mesmo esses momentos foram precisos. Não foi confortável saber como você a conheceu ou como o relacionamento de vocês era tão leve, mas é a minha garantia atual que você havia superado e que, apesar de ter te magoado, não te prejudiquei de alguma forma.
Acho que não te superei ainda, porém fico feliz que você tenha seguido em frente. Desejo que esteja bem, mas espero que entenda a razão pela qual não vou procurar saber sobre você.
Com carinho,
A garota que fez parte do seu passado – e você provavelmente nem lembra.
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É isso. Se você leu até aqui, muito obrigada! Não esqueça de me dizer suas opiniões. Estou sempre aberta para críticas construtivas :) me digam o que poderia melhorar.
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Sobre o que fomos
Historia CortaUma carta - não para você, mas para tudo aquilo que vivemos e fomos um dia.