Dead End

Mudanças

Pov - Dustin

Diante da monotonia da vida, em alguns momentos nos perguntamos se será tudo sempre assim. Se em algum momento vai ficar melhor ou pior. Num instante, a sua realidade pode mudar drasticamente, e basta que você saiba se adaptar à ela.

O único problema é que não há como prever determinados acontecimentos.

***

Era uma manhã de sábado, se bem me lembro. Becky estava com um notebook, analisando preços de diferentes cruzeiros, enquanto tomava seu café. Eu lia o jornal, como de costume.

- Ei, olha só - eu falo, mas não dou tanta bola se Becky está ouvindo - "Um surto de uma doença está se espalhando pela região sul da Angola. O patógeno tem uma ação semelhante à do vírus da raiva, entretanto, os pacientes se tornam muito mais agressivos..."

- Isso tá me lembrando o surto do Ebola em 2014.

- Acha que pode ser pior?

- Não, claro que não. Vão resolver isso logo, você vai ver. Agora olha aqui - ela vira o notebook para mim.

Uma foto de pessoas aparentemente bem felizes na piscina de um cruzeiro.

- De novo isso? Sabe quanto custa?

- Não vem com esse papo, a gente tá há alguns bons anos sem tirar umas férias dignas... Eu to cansada - e então vem se sentar no meu colo.

Conheço bem essa estratégia de persuasão dela.

- Eu sei que você também tá. Precisamos de um tempo só pra gente. Temos que sair um pouco dessa nossa rotina, fazer coisas diferentes.

Confesso que não sei falar não para ela. E por um lado Becky tem razão, precisamos fazer algo diferente do habitual.

- Tá, eu... eu vou falar com o Gary e ver se consigo alguém para ficar no meu lugar lá na oficina.

- É sério?

- Não tá bom pra você?

- O senhor mão de vaca topou? Isso é tudo muito novo pra mim. O mundo está parecendo outro agora.

Reviro os olhos e nós rimos juntos. Ela aproxima mais o rosto para me dar um beijo de agradecimento e jogo o jornal em cima da mesa. De canto de olho ainda vejo uma das páginas - a com a reportagem sobre o surto na Angola. A imagem que ilustrava a matéria era de uma figura sinistra com olhos esbranquiçados.

***

Algumas semanas mais tarde, fui para o cruzeiro com Becky. O sobrinho de Gary assumiu meu lugar na oficina. Tudo parecia bem... Parecia. Mas após algum tempo naquele cruzeiro, as coisas não seguiram tão boas como pensei que seria.

- Tem certeza que vai ficar aqui no quarto? Você queria tanto isso e vai ficar aqui? - perguntei, já um tanto desanimado.

- Talvez mais tarde, até meu enjoo passar. Eu também tenho que ligar para o Adryen, tem várias chamadas perdidas dele.

- Por que seu irmão se importa com você agora? Ele nunca ligou pra você antes.

- Você não... Ah, é ele - ela pega o celular, apressada. - Adryen? Oi, eu... O quê? Desligar? Mas você acabou de... Ei, o que está acontecendo aí? Esses barulhos. Isso é tiro? Adryen! Me responde!... Adryen!

- O que tá acontecendo?

- Droga, ele desligou - ela da um longo suspiro.

- Esquece isso. Vamos sair. Temos que aproveitar nossas férias.