PRESA POR ACASO 💢 JENLISA 💢

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Naquele exato momento a expressão de incredulidade no rosto de Jennie só não superava o vinco que se formara em sua testa, indicando a falta de apetite. A comida que havia sido posta em seu prato não era nojenta como costumavam dizer, por sorte, contudo, tampouco era aquelas mil maravilhas.

ㅡ Salada ou não? – A cozinheira voltou a repetir com sua expressão de tédio e Jennie acordou de seu transe.

ㅡ Ôh boneca, acho melhor escolher logo, estou com fome e não tenho o dia todo. – Uma mulher extremamente tatuada, com a cabeça raspada e com marcas que Jennie julgou ser onde os piercings ficavam, falou, sorrindo de forma cafajeste para Jennie, que assentiu e pediu salada, saindo dali às pressas para movimentar a fila.

Ela procurou uma mesa para se sentar, porém todas estavam ocupadas, o que lhe deixava somente uma opção: Conversar com outra detenta. Seus olhos procuraram algum rosto não tão assustador e então encontraram o mesmo par de olhos castanhos lhe encarando. Ela respirou fundo e caminhou até sua mesa.

ㅡ Será que eu posso...

ㅡ Não. Vaza! – A voz rouca foi firme, fria e seca, fazendo Jennie suspirar e assentir.

Ela franziu o cenho quando viu uma mão no alto acenando para ela desesperadamente. Deu uma olhada para trás e aos redores, se certificando de que era com ela mesmo e quando constatou que sim se aproximou.

ㅡ Olá, sente-se. – A voz meiga proferiu. Jennie atendeu seu pedido e se sentou, reparando que a garota era ruiva, sorridente e gentil. Pequenas sardas cobriam seu rosto e ela usava um uniforme marrom e branco, então não era novata. ㅡ Me chamo Margaret, mas pode me chamar de Maggie.

ㅡ Sou Jennie. – Ela disse um pouco cética devido a todo aquela gentileza e bom humor.

ㅡ Primeiro dia aqui e já tem várias de olho em você. Logo alguém te pega. – Jennie franziu o cenho.

ㅡ Alguém me pega? – Jennie perguntou confusa.

ㅡ Sim, demorei três meses para ser pega por alguém, mas duvido que você passe de uma semana.

ㅡ Em que sentido? – Jennie perguntou alheia ao que a garota dizia.

ㅡ Oh, é sua primeira vez presa? – A garota perguntou e Jennie assentiu. ㅡ Bem, as líderes dos bandos costumam pegar as novatas para serem suas parceiras sexuais. Elas te oferecem proteção em troca e outros benefícios, como comidas melhores do que as que nos dão aqui.

ㅡ Não estou interessada, obrigada. – Jennie disse, tentando comer uma folha de alface, que era a única coisa que sentiu vontade de comer. Maggie riu ao ouvir aquilo, levando uma mão até sua boca para abafar o som.

ㅡ Você é engraçada. – Disse e Jennie percebeu que sua voz era um pouco enjoativa. ㅡ Não é como se tivéssemos opção. Se não fizermos por vontade própria, uma hora ou outra alguém fará a força. – Jennie engoliu em seco. ㅡ Nem todas são assim, mas algumas... – A garota deixou sua frase morrer ao dar de ombros.

ㅡ Quem... quem é aquela? – Jennie perguntou, apontando com o queixo para a garota de olhos castanhos que ainda a fitava sem pudor.

ㅡ Lisa Manoban. Não deveríamos falar dela, ela é a líder absoluta.

ㅡ Ela não para de me olhar. É intimidador isso. – Jennie reclamou e a garota arregalou os olhos.

ㅡ Ela te olha? – Jennie assentiu. ㅡ Talvez você quebre o título dela de intacta.

ㅡ Intacta?

ㅡ Sim. Ela está aqui há quase três anos e se tornou a líder no primeiro ano, quando derrotou a antiga líder. – Falou baixo para ninguém mais ouvi-las. ㅡ Lisa jamais pegou alguma novata para ela.

ㅡ Por que ela está aqui? – Jennie não se conteve em perguntar, vendo a outra dar de ombros.

ㅡ Ninguém sabe ao certo. Umas dizem que ela matou três pessoas à sangue frio, outras dizem que esquartejou a ex-namorada, mas a verdade é que nunca saberemos, porque ninguém ousa perguntar. – Jennie assentiu e se calou.

Teriam que tomar banho em alguns minutos e logo voltar para a cela. "Cela," lá estava o novo medo de Jennie, afinal ela não sabia com quem dividiria o espaço.

ㅡ Está aqui por quê? – Maggie perguntou e Jennie se remexeu em seu acento.

ㅡ Um engano. – Maggie riu baixinho e assentiu.

ㅡ Todas dizemos isso, até o momento que nos conformamos em assumir nossa culpa. – Ela disse. ㅡ Do que foi acusada?

ㅡ Assassinato. – Disse seriamente.

ㅡ Uou, interessante. E quem você matou?

ㅡ Não matei ninguém. – Jennie disse firmemente e com a expressão de irritação em seu rosto.

ㅡ Quem te acusaram de matar? – A garota reformulou a pergunta.

ㅡ Meu irmão e de tentar matar minha mãe.

ㅡ Nossa. Quanto tempo pegou? – A garota perguntou curiosa.

ㅡ Vinte e dois anos.

ㅡ Bem, sua pena pode se reduzir para mais da metade disso se você se comportar. Eu mesma, peguei sete anos, estou aqui há dois anos e meio e saio no próximo semestre se manter a boa conduta.

ㅡ Minha pena implica em não ter direito à redução de pena por bom comportamento ou por pagamento de fiança. – Jennie explicou. ㅡ O que fez?

ㅡ Roubo de carro e presa em flagrante.

ㅡ Pegou tudo isso por roubo de carro?

ㅡ Eu não sabia que era do senador. – Jennie abriu a boca surpresa, mas aparentemente a garota estava acostumada com aquilo.

ㅡ Bem, logo sairá daqui então.  – Jennie disse, voltando a olhar para a garota de olhos castanhos. Ela sabia que deveria seguir o conselho da policial Jisoo, mas não entendia o porquê de ser tão observada.

ㅡ Sim. Reparei que tem três de olho em você. – Maggie disse. ㅡ Por sorte a minha não está.

ㅡ Não entendi.

ㅡ Às vezes elas trocam de parceiras e as antigas ficam desprotegidas novamente. Tem vezes que elas ficam com mais de uma parceira. Sabe a tatuada? – Jennie assentiu assim que viu que Maggie se referia à garota da fila. ㅡ Seu nome é Scarlett, mas a chamamos de Scar e acredite, não é pelo nome. – A garota revelou. ㅡ É porque a cada nova cicatriz ela faz uma nova tatuagem em cima.

ㅡ Oh. – Jennie disse levemente assustada.

ㅡ Ela parece estar de olho em você, mas não se preocupe. Ela só aparenta ser assustadora, é um doce de pessoa.

ㅡ Estou ficando assustada. – Jennie revelou, rindo fraco e a garota assentiu.

ㅡ Desculpe, não foi minha intenção. – Maggie disse, olhando para um ponto fixo atrás de Jennie antes de se levantar. ㅡ Preciso ir, minha mulher está me chamando. Até mais. – Disse e saiu, Jennie olhou para trás e viu uma garota negra, gorda, porém de riso fácil dando um selinho em Maggie.

Jennie suspirou amedrontada em seu interior. Em que furada sua mãe havia lhe metido desta vez?