Capítulo Único

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Yoongi acordou de supetão com um pulo na cama, o ar parecia rarefeito e escapava do seu pulmão como o diabo fugia da cruz. Não era a primeira vez e provavelmente não seria a última que ele sonhava com aquele desconhecido, ele estava lentamente tomando de todo e qualquer espaço vago que existia em sua mente.

Ofegante, Yoongi se levantou da cama enxugando o suor que escorria pelo lado do seu rosto. O cômodo parecia mais quente e abafado que o normal, mas era de se esperar já que estava no meio do verão - este que Yoongi não via a hora de acabar, era definitivamente a pior estação do ano. As sombras trêmulas dos galhos da árvore que alguns veteranos tinham plantado à alguns anos no quintal do dormitório dançavam na parede e a luz fria da lua iluminava apenas metade do seu quarto. Yoongi abriu as duas janelas na esperança de se sentir menos sufocado, os sonhos estavam ficando cada vez mais reais e vívidos. Ainda podia sentir o toque fantasma do homem de sorriso fácil.

Ele precisava pintar, desenhar, tocar, fazer qualquer coisa que o ajudasse a colocar para fora tudo o que estava sentindo, mesmo que ele mesmo não soubesse exatamente o que estava sentido. Era fácil se expressar através da arte. Sua arte era a essência de sua alma, sua forma pura e crua. Era ele.

E mesmo que não conseguisse expressar por meio de palavras tudo o que sentia quando o homem em seu sonho o abraçava, ou apenas sorria, sua arte faria isso por ele.

Já tinha ido em psicólogos e psiquiatras mas ainda assim não sentia que estavam fazendo alguma diferença. Ele estava realmente ficando louco. Como poderia estar se apaixonando por um sonho?

Nunca deixava ninguém entrar no seu dormitório, as pinturas e desenhos do desconhecido estavam espalhadas por todos os lados. Pra onde quer que olhasse teria um retrato ou até um esboço, o rosto em várias expressões diferentes, sorridente, sério, com as sobrancelhas arqueadas. A covinha na sua bochecha o deixava adorável enquanto sorria. Ah como estava ferrado.

Mas não conseguia resistir, nem tinha como. Quando ele lhe chamava de hyung de forma arrastada e preguiçosa Yoongi sentia como se fosse derreter, poderia se desfazer nos braços dele, ele não se importaria.

Procurou pelo quarto uma folha em branco e um lápis, mas essas coisas nunca estavam em falta no quarto de um artista. As palavras que o homem havia dito segundos antes de ele acordar ainda ecoavam na sua cabeça, como uma música chiclete que insistia em voltar sempre que ele tentava pensar em alguma outra coisa.

O eu te amo sussurrado enquanto o maior segurava seu rosto como se fosse a coisa mais preciosa da terra fazia com que todos os pelinhos de seu corpo se arrepiarem. E ele estava com medo. Medo de por algum motivo esquecer a voz encharcada de sentimento e carinho. Suas mãos tremiam levemente enquanto se movimentavam no papel, o rascunho de um desenho que o representava naquele momento nascendo pouco a pouco.

Era um desenho com traços simples e bruto. Na folha, estava ele abraçando o homem, o desenho não era realista, mas o traço não chegava na categoria do cartoon também, e era um dos desenhos mais belos e significativos que ele já fez durante esses dois anos que o homem vinha aparecendo para si. 

Com o coração retumbando dentro da sua caixa torácica ele guardou o desenho dentro da gaveta da pequena escrivaninha e caminhou lentamente até o teclado posto de frente para uma das janelas, talvez estivesse tarde demais para tocar algo, mas os estudantes do campus tinha o sono pesado e durante os dois anos que Yoongi morou lá ninguém nunca reclamou da sua música. Ele tocava quase todas as noites, sempre no mesmo horário.

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⏰ Última atualização: Dec 12, 2020 ⏰

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