Doce amargor

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Já se fazia um bom tempo que Leo trabalhava na cafeteria de Héstia. Ele adorava o lugar, o cheiro de café sendo preparado. Mas não gostava nenhum pouco dos que Hazel Levesque preparava, eram fortes demais para o seu gosto. O Valdez sempre reclamava quando provava do café da garota, ele adorava irrita-la.

Foi num frio final tarde, de uma quarta-feira, quando o sino-canadense apareceu pela primeira. Leo se lembrava bem daquele dia; de como as vidraças estavam embaçadas por conta do frio de como uma velha senhora cantarolava uma música no canto afastado do estabelecimento, enquanto bebericava o seu café e provava do seu bolo de coco. De como seus pelos se eriçaram quando o vento gélido atingiu o seu corpo, quando a porta da cafeteria fora aberta. Por uma Hazel sorridente, e um rapaz perfeitamente agasalho por um blusa arroxeada que lhe cobriam os músculos. Seu cabelo estava perfeitamente aparados num corte militar, seus olhos castanhos pareciam negros por causa da pupila dilatada. As bochechas rosadas, por conta do frio, era um charme a mais ao rapaz. E o Valdez o observou por alguns minutos a mais do que queria.

Hazel cochichou no ouvido do rapaz, que sorriu tímido, apontou em direção ao Valdez e acenou em seguida o rapaz fez o mesmo, e Leo logo em seguida.

Hazel fez com que o rapaz se sentasse e rumou para a cozinha. Frank ficaria ali, pelo resto da noite, enquanto a prima estaria no trabalho e ele a esperaria pacientemente. Enquanto o Valdez vez ou outra o atenderia, já que o mesmo estava sentado em uma das mesas que eram responsabilidade de Leo.


•×•


Semanas atrás Hazel havia lhe dito que seu primo e seus tios estavam se mudando. Ela não parava de falar sobre, e também, obviamente, do seu primo. Dizia sempre que ele era como um irmão para ela, e que eles eram bastante próximos, mas só se viam em datas comemorativas. O Valdez ouvia tudo atentamente.

Mas Leo não imaginou que Frank fosse chamar tanto a sua atenção. E nem que o rapaz fosse se mudar para a casa ao lado, que ficava entre a sua e a de Hazel. Essa parte a Levesque, aparentemente, esqueceu de avisar.

Eles quase sempre se esbarravam, tanto na rua - quando o sino-canadense estava correndo e o Valdez de saída -, quanto na cafeteria, pois quase todos os dias Frank Zhang marcava presença ali. Eles iam se conhecendo aos poucos

Leo adorava o observar, admirar, e quem sabe amar, em segredo. mas doía-lhe o peito. Doía não poder toca-lo, não poder beija-lo, senti-lo...

Ele observava de longe o oriental ler um livro, sentado em uma cadeira que parecia pequena demais para si. O rapaz era grande e corpulento demais para a sua idade. E quando sorria, seus olhos miúdos ficavam ainda mais menores e os cantinhos ainda mais puxados. Como ele fazia nesse exato momento enquanto balançava a mão em direção ao moreno. Que timidamente retribuiu o ato.

Era entranho para ele, sentir o que sentia sempre que via o rapaz, ainda mais o conhecendo há poucos meses.

É... Ele estava um tanto ferrado. Ou como algumas pessoas poderiam chamar: ‘apaixonado.’


•×•


Em uma certa tarde, o Valdez passou pela porta do estabelecimento com uma cara nada boa, recebendo alguns olhares de estranheza. Havia acabado de receber o seu salário, e descobriu que, por conta de um erro de um cálculo seu, ainda não daria para comprar a moto que ele tanto queria e desejava. Moto essa que fora motivo para ele procurar um emprego.

Estava irritado consigo mesmo.

O Valdez caminhou até a pracinha que ficava próximo a cafeteria. Não ficava assim tão longe do seu trabalho, ele sempre ia ali quando queria esfriar a cabeça. Era um dos poucos lugares que ele conseguia tal feito.

Café doceOnde histórias criam vida. Descubra agora