Cap. 1 - Os irmãos e o sonho

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"Okay, como eu saio daqui?"

O garoto sabia que estava com problemas, afinal, não era a primeira vez na qual presenciava uma vista medonha como esta.

— ...

Para começar, sua visão estava comprometida. Na real, não comprometida. Estava completamente cego. Um palmo a sua frente ainda estava distante demais para enxergar algo neste lugar inundado pela mais completa escuridão.

Seu corpo, flutuava neste espaço vazio, inerte, como um balão segurado por uma criança sentada num banco de shopping. Não sentia nada. Estímulos eram ineficazes, como se sequer o corpo existisse. Não sentia as mãos ou pés. O tempo passava sem passar, pois, dentro da escuridão, não havia referencial para determinar um horário, como a posição do sol ou um relógio. Também era difícil saber se respirava, apesar da certeza de estar vivo. E como ela sabia que estava vivo? Simples. É como o grande sábio da antiguidade dissera "Penso, logo existo".

Enquanto flutuava no "nada", em algum momento no qual não sabia dizer, uma luz se acendeu e propagou em meio à escuridão. As luzes pareciam iguais às de uma peça teatral, onde elas seguem o ator para mostrar ao público toda sua performance.

— ...

Sua retina, que até então pensava não existir ali, foi atacada de surpresa pelos holofotes, queimando o interior dos olhos e causando uma ardência insuportável. Foi como estar olhando para o sol. Uma dor extremamente excruciante. E nem gritar podia, pois não tinha cordas vocais para produzir sons.

E as luzes, focando o ator, miravam não em uma pessoa material, e sim em uma construção, um ser não vivo. A construção se assemelhava a um castelo. Não se sabia ao certo. Mas seu cérebro e seus olhos envoltos em dor processaram a imagem como um castelo.

Assim, as luzes focavam toda sua magnitude no suposto castelo, estilo medieval. Os homens no qual trabalharam na construção fizeram as muralhas em um formato de quadrado perfeito e as torres simetricamente colocadas na mesma posição, quase uma obra de arte.

Isso se não tivesse caindo aos pedaços.

O clima sombrio e até fantasmagórico que envolvia aquele lugar retirava qualquer boa impressão. Bem como a recepção pecava em vários pontos. Podiam, pelo menos, deixá-lo se mover livremente, pois nem isso era possível.

"Quem moraria em um castelo assim?", pensou. Mesmo que nos dias atuais castelos sejam só simbólicos ou pontos turísticos, com certeza estavam mais conservados e não compartilhavam o clima de tensão, fazendo todos os neurônios trabalharem esperando algum perigo iminente. Sentia que a qualquer momento aquela construção sinistra o devoraria. E ele odeia qualquer coisa envolvendo a palavra terror ou sinistro.

— ...?!

Enquanto esperava a eternidade no vazio infinito, uma força invisível começou a trabalhar dentro do seu ser. Não sabia o que era, mas estava puxando-o a contragosto para próximo do castelo.

"Ei... ei, ei, ei, ei, ei, ei!", gritava internamente. Aquilo era a última coisa que queria fazer – ser puxado para perto do castelo dos horrores.

Chegando a cinco palmos da entrada, a força parou seu corpo abruptamente, podendo sentir algo pela primeira vez desde o momento que apareceu ali, dor. Resmungava mentalmente pela dor que passava no corpo como uma corrente elétrica.

"Ai, ai... Era só o que me faltava...?"

Mas era só o começo do espetáculo.

Segundos depois, ouviu-se uma alavanca ser puxada. Com essa ação, barulhos de diversas engrenagens rodando sincronicamente, tendo a alavanca como mecanismo de início de todo o processo, puderam ser escutados, seguidas de correntes de ferro sendo desenroscadas de algum lugar, como linha saindo do rolo ao ser puxada.

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