TWO

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Kim Seokjin

Eu sempre tive uma visão diferente do mundo, como algo pacato, um lugar onde nós apenas estudamos e assim conseguimos um emprego, vivemos bem e felizes. Era essa a visão que eu possuía, a visão que meus pais me deram, uma farsa se me permite dizer. O mundo perfeito e fácil não existe e eu só o avistei 18 anos depois que me conheço como gente. A vida é muito mais dura do que todos podemos imaginar, é um purgatório que nos faz lutar pelo melhor. 

Ao olhar pela janela, vemos uma rua, talvez, uma praia, floresta, tanto faz; mas ao ver, parece que é apenas o lado de fora da sua casa, ninguém pensaria que um dragão de sete cabeças te atacaria quando você saísse, porém uma hora ou outra, o dragão aparecerá.

Sempre fui uma pessoa ingênua, não me culpo por isso, meus pais sempre me protegeram de tudo, sempre me acompanharam para todo lugar, sempre fizeram tudo por mim; mas agora eu sinto na pele as consequências, não consigo fazer nada sozinho, tive que descobrir por si só como é o verdadeiro mundo por fora da janela.

Eu me senti perdido.

Foi então que pensei em encontrar um emprego, e o qual consegui fora na cafeteria de meus pais. Fiquei relutante de início, mas enxerguei aquilo como uma oportunidade.

Kim's Coffee Roastery, um doce alojamento localizado na pequena cidade de Port Towsend, onde diversos casais aparecem, se aconchegando com o aroma de café e uma atmosfera reconfortante. 

Ao começar meu turno, fora muito difícil me acostumar, mas com o tempo criei um laço com o atendimento. Sorrir para os clientes, os ver satisfeitos com o pedido. Deveras reconfortante. Entre todas as pessoas que frequentam o local, algo me chamou a atenção, ou melhor, alguém. 

Diante de todo o aconchego, um garoto possuía um olhar tristonho. Seu semblante era sereno, um parlapatão. Ele parecia estar fora de si, tendo um conflito em seu âmago, tão distraído. Aquele garoto me despertou uma curiosidade inimaginável. 

Após aquele dia, ele passou a aparecer frequentemente, sentando sempre ao lado da janela e alternando os pedidos entre um mocha de chocolate e um cappuccino. Suas vindas responderam uma dúvida: estava à procura de um refúgio. 

Seus olhos amendoados exalavam uma mistura de alívio e angústia, pareciam estar ruando. Algo estava errado, isso era fato. 

Havia algo em meu ventre que queria que eu fosse conversar com ele, mas eu não conseguia. Parecia que eu ia atrapalhá-lo, não sei como explicar, e naquela tarde não fora diferente. Ele estava sentado no mesmo lugar de sempre com os olhos vagando pelo livreto. Era lindo de se ver, uma obra de arte. 

Já estava anoitecendo quando o garoto se levantou, indo em direção ao caixa para pagar pelo seu mocha. Aquela fora a primeira vez que trocamos olhares, suas orbes eram mais lindas de perto, brilhavam avassaladoramente. Uma visão única, perfeita para um quadro.

Foi então que pensei em falar com ele, meu cérebro se forçava a colocar palavras em minha boca, mas quando me dei conta, ele já havia partido. Um trovão fora ouvido junto ao vento que balançava as ramificações das árvores, logo começaria a chover. Chegue bem em casa, garoto amêndoa.

O outro casal presente na cafeteria logo se retirou com os sons intensificados dos trovões, sobrando apenas eu no local. A chuva se iniciou em seguida, forte. Ainda não era hora de fechar, mas ninguém seria louco o suficiente para sair durante o temporal, o que me deu brecha para aproveitar um café enquanto ouvia o som forte das gotas d'água caindo contra o chão.

Eu sempre gostei do som da chuva, é como uma terapia para mim. Reconfortante e ao mesmo tempo triste, mas poético. A chuva é como lágrimas, elas podem ser diferentes para cada pessoa, algumas são de tristeza e outras de alegria, saudades, raiva, enfim. Para mim, creio que são lágrimas de alívio, um enorme alívio de me desligar do mundo e ter apenas a atenção da chuva.

Um tempo havia se passado, creio que em volta de uma hora e meia, quando voltei para a realidade ao ouvir o som do pequeno sino da porta, alertando a chegada de alguém, e para minha surpresa, era o garoto amêndoa. Estava ensopado por conta da chuva, seus cabelos grudavam em sua testa, e seus olhos estavam vermelhos. Ele apareceu no meio da chuva, encharcado e com resquícios de lágrimas que foram escondidas pela água da chuva. 

— Ai, meu Deus! Vou pegar uma toalha para você. — Me dirigi rapidamente para um pequeno armário ao lado do banheiro, onde continha toalhas. — Aqui, pegue. Vou ligar o aquecedor e buscar algumas roupas.

Ele não havia dito uma palavra sequer e eu não o obrigaria a falar nada. Algo havia ocorrido, além dos olhos vermelhos, sua bochecha também estava. Quando voltei, dei um conjunto meu de moletom azul pastel para o mesmo e esperei até que ele terminasse de se trocar.

Ao retornar, sua cabeça se mantinha baixa, provavelmente estava com vergonha. Puxei um assento do balcão para ele se sentar.

— Quer beber algo? — Ele negou. — Nem um mocha ou um cappuccino? — Arqueei uma sobrancelha e o olhei divertido, ele levantou o olhar e deu um pequeno sorriso. Fofo.

U-um cappuccino, por favor. — Sua voz estava emaranhada e baixa. Então eu percebi, suas lágrimas são de dor.

— É 'pra já, chefe. — Brinquei fazendo uma pequena reverência, provocando uma risada gostosa vinda do outro.

Ao fazer um cappuccino, muita gente pensa que é apenas colocar o pó no leite quente, mas para mim é muito mais que isso. Eu possuo uma forma especial de fazer, olhando parece algo completamente comum, mas muda muito. Terminei de preparar a bebida e antes de dar para ele, desenhei uma carinha feliz no copinho.

— Obrigado.

Fiquei apoiado no balcão esperando ele terminar de tomar o cappuccino, eu não possuía o direito de perguntar o que havia acontecido, mas queria de alguma forma mostrar que eu estava disposto a ouvi-lo.  Ao terminar de beber, o lancei um olhar acolhedor, torcendo que ele entendesse.

— Err... Desculpa por ter aparecido de repente e obrigado novamente, Seokjin. — Meu cérebro deu uma pequena falha, ele sabia meu nome... Como ele sabia meu nome? —...jin?

— Ah, oi? Não precisa se desculpar, eu jamais te deixaria passar frio, também não sei o que aconteceu para estar chorando e... Aí santo Deus, eu falei de mais. Desculpa, desculpa, eu sei que não é da minha conta, mas caso você queira desabafar, eu esto—

— Calma, Seokjin. — Ele estava rindo e eu tinha certeza que minhas bochechas ficaram rubras. Ele é tão fofo. Sua risada cessou e ele deu um suspiro. — Antes de tudo, acho melhor eu me apresentar, certo? Me chamo Kim Taehyung, também sou coreano como você já deve ter percebido. É um prazer, Seokjin. 

— O prazer é todo meu, Taehyung. — Disse sorrindo, ainda um pouco envergonhado. 

Taehyung é uma boa pessoa e muito divertido. Passamos um tempo tendo uma conversa agradável, nos conhecendo e para minha alegria, ele gostou do apelido que eu havia dado quando não sabia seu nome, mas em momento algum ele citou sobre o que ocorreu para ele chegar na cafeteria naquele estado. 

— Seokjin. — De repente ele ficou sério e me olhou, segurando meu braço. — Vamos fugir! — Afirmou convicto, meus olhos se arregalaram. O que ele está dizendo?

Desculpa?

— Vamos fugir desta cidade, desta vida, de tudo. 

Há algo que eu possuo um grande interesse, se chama efeito borboleta. Ele consiste em escolhas que desencadeiam outras e um futuro diferente para cada uma. Caso eu não tivesse aceitado a proposta de Kim Taehyung, como seria o meu futuro?

🌧️

Hoiii, desculpem a demora. Aqui está mais um capítulo, espero que gostem ;P. Agora na visão do Jin e feliz aniversário para ele!! Abyss ficou tão perfeito, dêem amor a essa música 🥺.
Bom, cuidem da saúde de vocês, o covid está aumentando bastante.
E caso tenham chegado até aqui, obrigada❤️

The End of the Old Life [TaeJin]Onde histórias criam vida. Descubra agora