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HAVIA UMA NOVA loja do outro lado da rua, Remus percebeu.

Ele sabia disso porque há duas semanas atrás ele espiava pela janela da sala de estar do seu apartamento e via flores coloridas. Não havia mais flores nas janelas da loja, mas ainda havia cor.

Como sua curiosidade era uma bastarda que não o deixava em paz, Remus resolveu dar uma passada lá na primeira oportunidade que teve. A curiosidade matou o gato, uma vozinha que parecia muito com a sua amiga Alice disse na sua cabeça. É, mas a satisfação o trouxe de volta, Remus respondeu. Era algo estranho conversar com a sua própria consciência? Remus não sabia, mas ele ignorou esse pensamento enquanto entrava na nova loja.

Loja essa que, por mais que tivesse acabado de chegar, não parecia nem um pouco nova. Ela estava muito mais cheia do que quando era uma floricultura, com prateleiras e estantes ocupando cada centímetro de chão daquele espaço. Vinil. Todas as estantes estavam expondo vinis. Ele pegou um na mão e examinou.

Então era isso que a nova loja vendia. Interessante.

Remus esfregou as mãos uma na outra, limpando a poeira (como uma loja que não estava naquele lugar há nem duas semanas já poderia estar empoeirada??) quando ele sentiu uma presença ao seu lado.

━ Posso ajudar?

Remus olhou na direção da voz. Quem falava era um homem que parecia ter a sua idade. Ele tinha cabelos negros compridos e um começo de barba no queixo, também preta. O corpo dele parecia forte. Ele usava uma jaqueta de couro preto e jeans colados também pretos que eram de tirar o fôlego.

(não que isso tenha acontecido com Remus. claro que não.)

Mas o que mais chamou atenção de Remus foram os olhos do homem. Eles eram cinzas, como nuvens antes de uma tempestade. Eram maravilhosos, e Remus sentiu que podia se perder naquela profundidade para sempre.

Ele voltou para a realidade, percebendo que o homem estava o encarando e limpou a garganta.

━ Uhm... ━ ele estava prestes a negar e ir embora, quando uma ideia brotou na sua mente. Talvez ele pudesse passar mais tempo admiran- conversando com aquele homem. ━ Na verdade, eu estava querendo comprar um disco de vinil para a minha avó. Ela tem quase noventa anos, e gosta de coisas calmas... Você acha que poderia me indicar alguma coisa?

O homem parou por um momento e piscou surpreso, e Remus não pode deixar de notar que ele não parecia se encaixar direito naquele ambiente. Ele parecia alguém que preferiria mil vezes estar em um show de rock pesado, bebendo aos montes e flertando ao invés de uma loja de vinis. Remus se perguntou o que tinha trazido o homem até aquela situação.

O homem de jaqueta preta olhou em volta, e Remus percebeu que ele parecia meio confuso, senão perdido, e abriu um pequeno sorriso. O homem então deu de ombros e pegou o disco de vinil que estava em cima da pilha mais próxima, estendendo a mão e mostrando para Remus.

O envelope do disco era rosa claro e verde, com o nome "Sex Pistols" na capa. Remus franziu as sobrancelhas e inclinou a cabeça. Ele não era um especialista em música ou em discos de vinil, mas ele tinha certeza que uma banda de rock com "Sexo" no nome não era a melhor escolha para uma vovó ouvir. Ele não sabia porque o homem tinha lhe oferecido aquele disco.

━ Você... tem certeza? ━ ele disse, encarando o homem em questionamento.

O atendente fez uma careta, e depois respondeu.

━ É claro que tenho! ━ Remus não achava que ele estava falando a verdade. ━ Tipo, é vinil, todos os vinis são do mesmo tipo de música hippie não é? O quão ruim pode ser? ━ Ele terminou dando de ombros.

Remus soltou uma risada incrédula, olhando para o chão. E então ele deu um sorriso de lado, levantando uma sobrancelha e mostrou a capa do envelope para o homem. O atendente franziu o cenho enquanto lia e arregalou os olhos, sua boca se abriu um pouco e ele olhou para Remus de olhos arregalados.

Remus riu um pouco mais e cruzou os braços, estudando o homem na frente dele. Ele não tinha percebido que ele era mais baixo do que o Remus. O que não era muito difícil, porque Remus era bem alto, mas aquele homem era, na verdade, um pouco mais baixo do que a média das pessoas que Remus conhecia. Isso não fazia ele menos bonito, entretanto.

━ Há quanto tempo você trabalha com vinis? ━ Remus perguntou, genuinamente curioso.

O homem deu uma risadinha sem graça e olhou para baixo por alguns segundos, até que deu de ombros e olhou para Remus novamente, engolindo em seco.

━ Ok, hora da confissão. Nunca. Eu não trabalho aqui. ━ Remus franziu as sobrancelhas com aquela informação. ━ Quem trabalha aqui é Lily, uma das minhas amigas e namorada do meu melhor amigo. Só que nesse exato momento eles estão se pegando no fundo da loja... ━ ele fez um movimento vago com a mão, apontando para algum lugar atrás dele. ━ ... e aí eles me pediram para ficar vigiando se o chefe dela, ou se algum cliente chegasse, para eu chamar eles.

━ Mas então porque você veio me atender, ao invés de chamar ela? ━ Remus não estava entendendo direito o que estava acontecendo.

O homem deu um sorriso de lado e passou a mão nos cabelos, dando um passo para perto de Remus e o encarando profundamente. Remus olhou para ele, se perguntando se ele estava prestes a ser morto por um falso atendente de uma loja de vinis e engoliu em seco.

━ É porque, bem, eu te vi entrando... e eu não podia desperdiçar a oportunidade de flertar com alguém tão bonito não é mesmo?

Remus arregalou os olhos. Ele olhou para o rosto do homem à sua frente, e ele sorria abertamente. Remus desviou os olhos para o chão, envergonhado, e ele tinha certeza de que estava corando.

Se joga em cima desse gostoso, amigo! Disse a voz na sua cabeça que parecia a Alice, de novo.

Sai da minha cabeça, rapariga. Ele reclamou.

... eu vou planejar o casamento enquanto estou fora...

Remus franziu as sobrancelhas. Onde ele estava mesmo? Ah é, homem bonito flertando com ele. Ele olhou para frente de novo, e o homem o encarava, parecendo meio preocupado. Talvez ele estivesse preocupado que Remus não gostava da mesma fruta que ele, talvez ele estivesse preocupado porque Remus parecia que estava tendo um AVC, o que quer que fosse, foi rapidamente esquecido quando Remus limpou a garganta e encarou o homem, tentando parecer o menos estranho possível, e deu um sorriso envergonhado.

━ Eu... eu sou Remus. Lupin. ━ Ele limpou a garganta de novo. ━ Remus Lupin.

O falso atendente abriu um sorriso tão grande que Remus tinha certeza que podia ser visto do outro lado do mundo, e então colocou uma das mãos na cintura e olhou para Remus.

━ Oi, Remus Lupin. Eu sou Sirius Black.

Remus olhou para o falso atendente, que agora tinha um nome.

━ Como a estrela?

Sirius sorriu para ele.

━ Exatamente como a estrela. Eu acho que combina comigo. ━ Sirius deu uma piscadela para ele e Remus abriu um sorriso bobo. Cristo, ele deveria estar corando tanto. ━ E então Remus, será que essa estrela consegue o seu número?

Remus engoliu em seco, mas o sorriso nunca saiu do seu rosto, enquanto ele chegava perto, tirando uma caneta que ele sempre deixava em seu bolso.

━ É. ━ Remus respondeu. ━ Eu acho que consegue sim.

-god save the sex pistols (HARRY POTTER)Onde histórias criam vida. Descubra agora