1. Bergen Public Library

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          Era o seu terceiro casamento e apesar de saber como poderia acabar, Brenda se decepcionou novamente. Dava pra ouvir os vidros sendo estourados no chão, ela sabia que destruir os pertences do Charlie não ajudaria a recuperar o seu tempo perdido.

– Suas coisas já estão no carro? - me olhava como se não tivesse destruído a casa.

– Sim, pra onde vamos agora?

– Quero passar algumas semanas na casa do Fredy, até a gente comprar um lugar.

– Até você arranjar outro banana, trazer ele pra dentro de casa e a gente ter que sair porque você é sentimental demais para conviver em uma casa cheia de memórias.

– Ainda posso meter a mão na sua cara, com dezoito anos ou não.

– Por te dizer a verdade? Eu acho que não.

– Só cala essa boca e me deixa resolver isso. - acelerou o carro.

O Fredy era o tio mais sem noção da família e seria o único a receber minha mãe de braços abertos após o seu terceiro vacilo, o cheiro de cigarro e puta na casa era contagiante, pelo menos tinha um quarto pra mim.

– Bom dia amadas, a que devo o prazer de suas visitas? - ele tinha feito outra tatuagem e parecia uma mulher com o cabelo grande.

– Sai da frente, não ta vendo que estou com as mãos ocupadas? - A educação da minha mãe era uma inspiração.

– O que houve dessa vez Brenda? - perguntou disposto a ouvir sua novela.

DIA SEGUINTE:.

Colocando as malas no carro, Brenda decidiu ir para Bergen a segunda maior cidade da Noruega em destaque também por ser a cidade mais chuvosa da Europa. Empolgada ou não para essa mudança, no fundo eu sabia que não iríamos ficar lá por muito tempo.

– Vai gostar dessa cidade, tem Bibliotecas enormes e as melhores escolas.

– Uhu! Oba! Que animação!

– Ana é o seu último ano do ensino médio, por que não aproveita, arranja um namorado, vá nas festas, use drogas e essas coisas de jovem rebelde.

– Admiro seu incentivo materno, respeitoso e responsável.

– Ah por favor! Não me leve a sério, pelo menos não a parte das drogas.

– Ser focada nos estudos e planejada com a faculdade do ano que vem me torna sim uma filha rebelde, pelo menos pra o estilo de mãe que você é.

Ela riu, estava tentando me convencer de que dessa vez seria diferente.

O restaurante estava lotado, mas de qualquer forma o Daily Pot parecia uma ótima opção para duas pessoas famintas após uma viagem desagradável de carro.

Estava me servindo quando notei a curiosidade da minha mãe em uma jovem de cabelo colorido chamativo que estava com um grupo de pessoas em uma mesa de canto.

– o que achou do visual daquela menina? - perguntou Brenda.

– não está querendo pintar o cabelo dessa cor, certo? - perguntei encarando a jovem.

– Que foi? achou estranho?  Que novidade! - afirmou minha mãe.

– Recomendo um tratamento mental.

– Como se você não precisasse de um. - Brenda riu de mim e a garota me olhou.

HORAS DEPOIS:

– Você gostou mas não vai admitir não é? - perguntou Brenda ao mostrar a frente da casa.

– É que eu não costumo me apegar emocionalmente a casas, graças a você é claro.

– Pensa rápido! - disse após jogar um livro perto do meu rosto.

– Um livro de alto conhecimento? - perguntei sem entender após reconhecer o escritor australiano, Rhonda Byrn, o autor do  " o segredo".

– Hora de expandir a sua consciência Ana!

– Você fala como se entendesse do assunto. - comentei rindo de seu conselho.

– Falei com o diretor da escola Amalie Skram, amanhã pela manhã vamos falar com ele sobre a sua vaga. - disse colocando as malas na sala.

– Que bom, quero saber se falou sério sobre a biblioteca.

– Amanhã te levo para dar uma olhada, você cuida do resto? Estou exausta!

– Tudo bem.

– Boa noite filha!

Aquela chuva, aquele frio e para completar o meu conforto, o café forte e bem quente. estava tudo em seu devido lugar e me sentir em casa, era estranho a sensação de que realmente ficaria permanentemente naquela casa.

DIA SEGUINTE:

O diretor, o militar exigente e cheio de elegância, foi simpático e aceitou a minha entrada na escola, apesar de estar no meio do ano, meu histórico escolar com notas altas fez ele se sentir na obrigação de me recrutar, afinal ele ganharia os méritos com isto.

– Você pode começar semana que vem vamos organizar suas documentações. - disse a coordenadora feliz em me receber.

– Obrigada Sandra, espero poder acompanhar os conteúdos.

– Você vai, vou te passar os assuntos de prova da próxima semana.

– Até semana que vem então! - saímos da escola direto para a biblioteca de Bergen Public Library, a segunda maior biblioteca pública da Noruega.

O ambiente era calmo e tinha um cheiro maravilhoso, a minha mãe estava tentando me convencer a gostar de Bergen.

– Ana não é? Prazer eu me chamo Henrique, vamos estudar na mesma escola. - Henrique me cumprimentou e se sentou ao meu lado.

– Oi Henrique, você também
Está entrando no meio do ano? - perguntei aliviada por achar que não seria a única.

– Na verdade não, eu sou o filho da Sandra, a coordenadora, soube da sua chegada antes de todo mundo. - sorriu friamente.

– Ah sim, espero me adptar.

– Não é um bicho de sete cabeças, vai dar conta, qualquer coisa posso te ajudar.

– Obrigada!

– Até semana que vem Srta. Ana. - minha mãe chegou logo depois com os olhos arregalados.

– Estou esperando você perguntar. - comentei ao olhar sua reação.

– Que rapaz educado, o que conversaram? ‐ perguntou curiosa.

– Estamos marcando um encontro. - ironizei.

– não me faça criar falsas esperanças na sua vida amorosa. - respondeu Brenda.

– Poderia pedir o mesmo a você sobre este lugar, mas certamente você não pararia.

– Vamos ficar aqui, sei que você gostou de Bergen e daquele loirinho dos olhos azuis com um sorriso branco.

– me poupe. - ela sorriu.

Encontramos a garota de cabelos coloridos na seção de ficção científica.

– Que mundo pequeno! - comentou minha mãe.

– vamos! Chega de me convencer a gostar da cidade por conta da biblioteca. - disse levando minha mãe Brenda para almoçar.

A Lua Sobre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora