O quente lago gelado

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Ambos os rapazes chegaram a um canal. Era natural, não artificial, mas as margens eram suficientemente próximas para que, se eles gritassem, a voz se ouvisse do outro lado da água. Tudo era verde, menos a água, cor de cristal. Parecia fresca, como uma manhã em Inglaterra.

E realmente estava.

— Achei que ias gostar de vir aqui. É bem mais calmo, tem mais a ver contigo. – Sirius abriu um sorriso preocupado para o amigo, estendendo-lhe a mão para o ajudar a descer as últimas pedras escorregadias até à margem plana.

Remus aceitou a ajuda e desceu de encontro ao outro. Sirius preocupava-se sempre com o bem estar dele. Na verdade, com o bem estar de toda a gente à sua volta. Isso deixava-o irritado, quase tanto como o deixava tímido com tais atos ternos de apoio. O espaço era bem rural, não se via nenhum sinal de civilização na proximidade. Era tudo verde, tudo mato. E o rio passava calmo nas suas margens. O Sol já subia tímido e refletia os primeiros raios da manhã na água. Sirius descalçou as suas pesadas botas negras, sentou-se na margem e molhou os pés na água gélida do rio, convidando Remus a acompanhá-lo. O rapaz aproximou-se, no entando, manteve-se em pé ao lado do outro.

— Sirius, a água está gelada... Sai daí.

— Como qualquer rio em Inglaterra, Monny. Não sejas menina! – Sirius comentou enquanto puxou um atacador do sapato de Remus, rindo num tom de implicação.

Remus revirou os olhos em sinal de rendição, mas a sua mente viajou. O quão carente ele tinha de estar para que um simples desapertar de atacadores o deixasse naquele estado? Era irritante estar assim nas mãos de Sirius, que nem sabia que o controlava, mas podia pô-lo a fazer qualquer coisa. Remus tirou então os sapatos já desapertados pelo outro e acompanhou o outro no seu ato masoquista de molhar os pés naquela água gelada.

Oh, como estava gelada.

Remus gemeu quase de dor ao molhar os pés. Sirius não comentou, apenas se deitou de costas e começou a falar com o amigo.

— Lugar agradável?

— Bastante.

— Eu costumava vir ter com a minha mãe de férias quando vivia em Londres com o meu pai, este era um dos meus lugares favoritos de toda a Inglaterra. – Sirius introduziu um tema. Sirius só introduzia temas quando estava filosófico ou pensativo. Sim, iria começar uma seção de introespeção com Sirius Black.

Remus olhou para o colega que permanecia deitado e com um braço sobre os olhos, conhecendo o Sirius sabia que ele queria que ele desenvolvesse o assunto, então prosseguiu.

— Tens boas memórias das férias com a tua mãe? – Remus tentou acertar na pergunta que Sirius queria que ele fizesse.

— Mais ou menos. Ela passava as férias a dizer que eu devia ser menos rebelde e que eu não sabia cumprir com a minha função na família. A minha mãe sempre foi uma mulher tradicional, sabes? Uma coisa que nunca consegui entender. – Sirius parecia entretido a contar as suas histórias de vida.

Remus sabia da estranha relação que Sirius tinha com a mãe, que nunca aceitou a maneira de ser do filho. James sofreu muito quando teve de passar a viver com ela, especialmente depois de se ter assumido. Remus queria dizer alguma coisa, mas nada melhor que o silêncio saia. Afinal, o que é que ele podia dizer? Ele estava naquele colégio exatamente porque os pais o apanharam com a VHS errada... Ele não era um bom exemplo. Felizmente, não foi necessário, Sirius fez o favor de continuar.

— Mas era bom porque era sinal que estava de férias. E tinha amigos que só via quando estava cá, o que era fantástico! – Sirius referiu com entusiasmo, Remus percebeu do que Sirius queria falar.

Um lago gelado de InglaterraOnde histórias criam vida. Descubra agora