Capítulo 1

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    A Janela de vidro reflete meu rosto. Não hesito em sair daqui e admirar a vista de Paris, encantada com a vista maravilhosa que esta cidade transmite. Carros em alguns lados, pessoas conversando e comendo seus maravilhosos doces franceses. Casais se beijando, mostrando-me o mesmo de sempre.

Estou completamente sozinha.

Bem, acho que para alguém como eu, não é algo de se esperar. Meu nome é...

— Liana! — Ouço a voz de Jessy me chamando por trás daquela enorme porta de madeira. Reviro os olhos e suspiro. — Você está atrasada!

Sim, Jessy, eu estou atrasada. Obrigada por me lembrar isso a cada cinco segundos.

— Já estou indo.

— Há treze paparazzis lá embaixo. — Jessy diz, adentrando a sala furiosamente.

— Que novidade! — Ironizo, fechando as cortinas de cetim. Jessy cruza os braços, erguendo sua sobrancelha direita.

— Liana Johnson! — Ela pronuncia meu nome de forma carismática. — Você tem vinte e cinco anos, já não é mais criança.

— Quem me dera pudesse voltar naquele tempo. Ser adulta é... um saco! Ainda mais quando você é famosa.

Famosa? É isso que você ouviu. Sou uma das maiores atrizes desta década. Comecei a trabalhar com quinze anos, em comerciais de beleza, roupas, etc. Aos vinte posei para revistas famosas e americanas. Não, eu não sou uma americana. Nasci em Paris, cresci aqui até os dez anos, mas após a morte de minha mãe, papai decidiu se mudar para os Estados Unidos. Não foi uma decisão de última hora, já que papai pretendia embarcar rumo a terra americana nos próximos anos.

Como minha mãe consumiu um cancêr têrrivel, tivemos que adiantar nossa viagem. Cheguei aos dez anos, sem saber falar uma palavra em Inglês. O colégio era fácil, as amizades nem tanto. Depois que a lingua materna foi ficando para trás desenvolvi a língua inglesa rapidamente. Fiz faculdade de Cinema e Teatro, pois queria seguir a área por trás das câmeras. Papai sempre me apoiou em tudo, e esteve ao meu lado em momentos difíceis.

Tive meu primeiro namorado aos quatorze, mas nada demais para um amor de criança.
Aos quinze entrei no Ensino Médio, e foi aí que tudo virou de ponta cabeça. Primeiro amor, primeiro beijo, primeiro emprego, primeiras oportunidades. Sentia que poderia arrancar os fios de tanto estresse. Era jovem demais, sem cabeça para nada, e sem saber ao menos como me virar sozinha.

Aos dezessete, papai se casou com um mulher americana. Para minha surpresa, a mulher já tinha filhos. Duas meninas, dois anos mais novas que eu. No começo parecia tudo perfeito, mas depois de anos, a relação parecia intensa e áspera. Brigávamos de cinco a cinco minutos. Julia e Samantha, gêmeas. Cabelos ruivos e olhos verdes. Chamam a atenção por onde passa. Diria até que são mais bonitas do que eu.
Alta, loira, olhos castanhos e um corpo malhado devido as cobranças da vida de famosa. Acadêmia duas vezes por semana, alimentação saúdavel e uma rotina espetacular com a pele. Atraente, gentil, e sempre com os pensamentos nos outros. O que mais poderia querer?

Bem... talvez um relacionamento?

Exatamente. Vinte e cinco anos, atriz, famosa, solteira.

E você deve se perguntar, por quê não tenho um namorado?

Não que eu ache ruim estar solteira nessa idade. Eu poderia conhecer algum homem, sair e nos divertir, passar a noite juntos e só. Porém, os homens da minha idade são... como poderia dizer... Imbecis.
Não quero passar uma chata, mas a maioria dos homens que já me relacionei são extremamente machistas e sem um pingo de caráter. Então, não há nada melhor do que continuar sozinha pelas cidade romântica. Irônico, não é?

— Liana! — Jessy estala seus dedos em meu rosto.

— O que foi?

— Você parece estar em outro mundo. — Murmura, concentrada em minha reação.

— Estava apenas pensando. — Finalizo, ajeitando a postura na cadeira.

— Pronta para as entrevistas? — Jessy indaga.

— Definitivamente. — Respondo, confiante. — Como está? — Aponto para o blazer cor nude e a blusa branca por baixo da peça.

Jessy pisca e forma um joinha com a mão.
Deslizo os dedos pelo cabelo, ajeitando as madeixas levemente onduladas. Mordo o lábio inferior, pisco duas vezes, respiro fundo uma única vez. Odeio entrevistas.

As duas primeiras me causaram desconforto. Percebi olhares de alguns jornalistas, e perguntas totalmente inexplícaveis.

Estava a ponto de me levantar e sair correndo daquela sala com cheiro de Jasmin e ortelã, quando ouço duas batidas na porta. Jessy aproxima as sobrancelhas, estranhando a "visita" inesperada. Pelo combinado, eram apenas dois jornalistas por hora. Não três.
Jessy corre atender a porta, cumprimentando delicadamente quem sequer esteja por trás das madeixas ruivas de Jéssica.

— Olá... Senhor? — Jessy termina de falar, esperando o rapaz continuar.

— Daniel, Daniel Cameron. — O garoto a responde.

Ele adentra a sala. Veste roupas masculinas um tanto peculiares quanto aos outros jornalistas. Há um bloco em sua mão, uma caneta grudada em sua orelha e um celular entre seu bolso do palitó.

— Olá, Liana. Sou Daniel Cameron. — O rapaz diz, sentando-se em minha frente.

Cabelos loiros-escuros, mais ou menos com um metro e oitenta e um rosto de aparência agradável. Bem, diria mais que agradável. Tudo bem, ele é bonito.

— Muito bem. A senhorita já posou para a Gucci e Louis Vitton... E, ah, Prada. — Ele diz, olhando para o celular em suas mãos. — Como se sente sendo uma das maiores influências para as mulheres do mundo todo com um pouco de carísma e uma beleza mediana?

— O que disse? — Pergunto, incrédula. De todos os homens que já estiveram em minha vida, nenhum até hoje disse que sou de "beleza mediana."

— Perguntei sobre como se sente sendo uma das maiores influência para as mulheres do mundo todo, com um pouco...

Ergo a mão para seu rosto. — 'tá bom! Esta parte eu já entendi. Me refiro a beleza mediana.

— Ah, então você está nervosa por que disse que não lhe achava a mais bonita de todas. Parece que a princesa francesa não é tão humilde como aparentava ser. — O homem diz, jogando as costas contra a poltrona de couro.

— Escute aqui seu... jornalista de meia quinta, eu sou extremamente agradável aos olhos de qualquer pessoa habitante neste planta terra. E se você acha isso...

Ele começa a rir de forma exagerada. — Você o que? Vai pedir para algum amante seu me ligar de madrugada e me ameaçar? — Continuou rindo. — Ou vai colocar descolorante em meu Shampoo enquanto estou dormindo?

— Chega! Não mereço ficar aqui e ouvir essas baboseiras de um insolente como você. Pode se retirar, Senhor Daniel Cameron. — Pronuncio seu nome com deboche. O loiro em minha frente estala a língua e balança a cabeça.

— Sabe, alguns amigos meu disseram que você era a mulher mais interessante nesse mundo. — Deu de ombros. — Discordei. Eles me pagaram cem reais para entrevistá-la e descobrir se você era tudo isso que pensavam. Mas parece que o pouco de humildade é o que te preenche na beleza. — Seus olhos descem por meu corpo. — Bem... de beleza mediana. — Finaliza, levantando da poltrona. — Prazêr em conhecê-la, Sehorita Johnson. — O rapaz diz, retirando-se lentamente pela porta onde atreveu-se a entrar.

— Você ouviu isso? — Questiono Jessy, que apenas ri. — Que atrevido! — Reclamo, buscando pelo copo d' água em minha frente.

— Parece que acabou as entrevistas por agora. — Jessy sussurra, largando a pasta sobre a mesa.

Eu mereço! Um delinquente como aqueles, que obviamente não sabe nem amarrar os próprios calçados, vir aqui e me dizer o que é atraente ou não.
Mas não irei deixar barato. Jamais! Irei atrás dele, irei obrigá-lo a deletar esta entrevista, ou não me chamo Liana Clarke. Não... mesmo!

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