Epígrafe

81 15 5
                                    


A pior parte de está morto por dentro, é continuar andando sem que ninguém perceba a sua morte.

Tudo não passava de pura escuridão, por vezes ele sentia uma dor percorrer-lhe, mas ele não conseguia abrir os olhos para saber o que era. Logo, foi levado para os seus pensamentos, estavam tão próximos que poderiam ser tocados, acreditava o homem, ver a sua amada, que a mulher amada estava ali; os longos fios pretos dançavam com o vento, o sorriso era estonteante, a pele em tom médio parecia reluzir com o entorno do sol, então ela sorriu, aqueles lábios carnudos fizeram o que restava do coração dele parar, mas o pensamento que estava perto logo se afastava, tudo estava indo embora, tentou estender a mão para não perder aquela visão, contudo ela se desfez mesmo assim.

Mais uma vez não era nada, não havia nada em seus pensamentos, as lembranças pareciam mais distantes, então, era impossível de lembrar e ver qualquer coisa, uma voz falava em sua cabeça; “Senhor”, “Matteo”. Ele finalmente abriu os olhos, homens e mulheres estavam a sua volta, todos próximos demais, fios, computadores, o lugar branco, ergueu os olhos e instantemente sua mente lhe alertou que estava em um laboratório, então deixou-se pensar por que estava ali? Mais do que isso quem era ele? O que ele estava fazendo ali? Levantou-se rapidamente e um som de metal batendo fez-se na sala, os homens a sua volta pareciam felizes com ele, mas exatamente por quê?

__ O que está acontecendo? __ Foi a primeira e única coisa que pensou em perguntar.

Ele então olhou para suas pernas, pensou que fosse morrer quando seus olhos apenas vislumbrou ligas metálicas, uma perna de ferro, os homens agora estavam mais apreensivos com o que estava acontecendo. Então um deles se aproxima, não tinha a vestimenta de cientista, usava um terno preto de tecido fino, seus olhos escuros e sombrios que pareciam esconder toda a maldade do mundo, e um sorriso capaz de disfarçar aquela escuridão, o bigode fino dava a ele um ar de cavalheiro antigo e cafajeste. Com a voz grave ele falou:

__ Querido 10.22, finalmente acordou.__ Usava uma bengala para apoiar a perna direita __ Seu amigo 10.13 já acordou, passamos uma longa explicação para ele.
O homem se sentou ao lado da cama do Android, tinha um sorriso convencido nos lábios, o que fez o robô 10.22 tremer, pensou que fosse morrer ali mesmo. Por que ainda não recebeu a resposta que queria?

__ Eu perguntei o que está acontecendo? __ Questionou dessa vez mais firme __ O que eu faço aqui? Quem sou eu?

O homem na frente dele soltou um longo suspiro carregado de frustração, as palavras que saiam de seus lábios pareciam ser cansativas de dizer.

__ Vou te explicar tudo se me acompanhar.

Matteo demorou para se mexer, quanto mais tentava seu corpo travava, fez um esforço intensivo, era como se estivesse repreendendo a andar, suspirou profundamente, finalmente conseguiu seguir o homem. Passou por longos corredores e todos olhavam para ele, ao chegar em uma pequena sala foi guiado para perto de um homem de pele em tom escuro, o mesmo estava despido, as pessoas em volta mexiam na pele dele, os olhos escuros pareciam esconder uma tristeza profunda. Uma sensação de arrepio percorreu lhe as costas quando sua visão ficava sobre o homem, não demoraram para entregar uma roupa para ele e o cavalheiro que o levou até lá começar a falar.

__ Esse é seu companheiro o robô 10.13, também conhecido pelos humanos como Valentino Montgomery. __ Subsequente as falas do mais velho uma tela enorme se projetou na parede __ Você é conhecido pelos humanos como Matteo Tomasso, e aqui você é o robô 10.22. __ Fazia uma pausa dramática enquanto a foto do rosto do homem aparecia __ Vocês são estudantes de arquitetura, são melhores amigos, no caso Valentino mora na mesma casa que você, na casa da família Tomasso, ele é adotado.

Matteo aproximou-se devagar da tela que foi emitida, tocou seu próprio rosto através da tela, seus olhos estavam deslumbrados como se estivessem perto de chorar. Uma dor inexplicável e sem sentido estava em seu coração, por que? Não sabia. Ele tinha um coração? Era uma máquina completa?

__ Alguns meses vocês foram mortos, um acidente de carro __ Exclamava como se aquilo não fosse nada.

O chão de Matteo parecia ter desaparecido, a cor do rosto havia saído, já Valentino continuou inexpressivo, afinal já havia escutado aquela história. O homem continuou enquanto as imagens do acidente passava na tela.

__ Eu me chamo Jones Greco, e ao ver esse acidente pensei, tive a convicção que poderia salvar esses dois jovens. Como? __ Questionou para si mesmo sem esperar uma resposta __ Lhes trazendo para o instituto Grego o maior laboratório de pesquisa do mundo __ Pronunciou como se aquilo fosse a coisa mais mágica. __ Certamente eu pedi permissão a sua família, foi feito um contrato para que você se tornassem as maiores máquinas de guerra e de pesquisa do mundo, a única coisa que precisei manter para que fossem capazes de pensar por si próprio foi o cérebro, já o coração eu deixei por que isso parece serem capazes de criar sentimentos, pelo menos é isso que poderemos falar com nossos investidores. __ Continuava a falar sem um pingo de sentimentos na voz. __ Eu os transformei nas maiores máquinas da humanidade, nos bens mais precisos e evoluído, eu os tornei perfeitos, sem a capacidade de sentir e com uma vasta racionalidade. __ Fechou as mãos e as balançava no ar.

__ Por que sentir é ruim para nós? __ Matteo foi o primeiro a questionar, pois, sentia que, no fundo ele tinha mais dúvidas do que realmente conseguia formular.

__ Sentimentos são as maiores pragas da humanidade, nos impede de raciocinar com clareza. __ Apontou para a cabeça com o dedo indicador. __ Sentimentos nos tornam imperfeitos e vocês meus amigos, estão longe disso.

O homem Inclinou-se falando com um funcionário, que logo desapareceu e voltou com uma maleta, abriu na frente de Matteo.

__ Seu amigo, Valentino já está com a pele, só falta você. __ Falou apontando para Valentino que vestiu a roupa sorrateiramente sem que ninguém veja. __ Vocês são equipados com uma secretária, também são robôs, contudo menos desenvolvidas que os dois, a secretária de Valentino se chama Vlad, já a sua se chama Dess. Elas estarão lhes auxiliando na caminhada quando voltarem para a vida humana, serão responsáveis por passar dados as vocês sobre familiares e pessoas próximas, foram equipadas com todo material que recebemos da família de vocês.

Assim que ele terminou de falar, imagens se formam no globo ocular de cada um dos meninos, alguns gráficos e logo a imagem fica limpa e uma voz que é possível se escutar apenas na cabeça de cada um.

__ Olá senhor, sou sua secretária e estou aqui para lhe auxiliar. __ Logo calou-se.

Voltaram a olhar para o homem, já o funcionário se aproximou de Matteo, colocava as peles que trouxe sobre o corpo do robô e logo outros se aproximavam para auxiliar na tarefa, Matteo seria considerado um homem bonito, fios de cabelo tão pretos como carvão, sua pele em tom claro carregava algumas tatuagens; o braço direito completamente coberto, na mão esquerda há o desenho de uma arma, uma cruz no lado direito do pescoço, os olhos escuros escondiam toda a doçura que estava em seu coração. Greco permaneceu calado o que foi desconfortável para Matteo, afinal que raios estava acontecendo? Por que ele se sentia tão incomodando? Valentino não parecia ter perguntas, contudo Matteo tinha:

__ Por que não me lembro de nada?

__Greco pareceu vacilar ao escutar a pergunta do mesmo. __ Porque meu caro amigo… Não conseguimos transmutar todas as suas memórias para o seu novo corpo. Por isso instalamos a Dess em você, porque além de auxiliar ela vai dizer quem é quem. Não é como se suas memórias fossem muito complexas, você continua sendo você apesar de perde-las.

Matteo pareceu concordar com tal afirmação, apesar de algo dentro dele estava dizendo constantemente que algo não estava certo, que algo faltava. Ele haveria de descobrir por si só? Ou seria apenas uma máquina guiada por quem o transformou?

Frágil HumanidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora