~Epígrafe~

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Ele sempre esteve ali, sentado na mesma cadeira no mesmo lugar durante dois anos seguidos, com o mesmo fone de ouvido e o mesmo semblante sério no rosto. Quase todos da nossa sala tentaram fazer alguma troca mínima de palavras com ele, mas nenhuma tentativa era válida. Ele não se permita, ele próprio se excluía por conta da sua deficiência, nossa escola era inclusiva, sempre tivemos a noção de respeito com todos os diferentes, eu principalmente entendia o que era isso.
Ser fora dos padrões que a sociedade impõe me tornava alguém diferente, e eu já tinha me odiado por isso a um tempo atrás. Hoje entendo que meu corpo é a revolução da qual eu faço parte.
Mas voltando, falar que nunca tinha visto ele com outra expressão a não ser a mesma séria de sempre, seria mentira. Uma única vez, eu vi o sorriso que iluminou toda aquela sala fria e escura qual eu passava boa parte das minhas manhãs. Ele tinha recebido a maior nota em um trabalho sobre música e sobre os seu músicos favoritos. Ele sorriu e eu jamais esqueci aquilo, aquele pequeno ato mudou tudo até hoje.

Quente Como O SolOnde histórias criam vida. Descubra agora