A noite do desespero

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Desde que me entendo por gente sempre tive medo de filmes de terror. E, ironicamente, sempre andei com pessoas que amavam. Não me leve a mal, não é que eu ache ruim. A adrenalina de estar em um ambiente escuro e tenebroso sendo caçado pelo capeta só não me deixava muito confortável, sabe?

E então eu comecei a namorar o Benjamin, ou só Ben como ele prefere. Eu nunca vi uma pessoa tão vidrada em filmes de terror como ele. O engraçado é que ele é tão medroso quanto eu, até mais se olhar por outro lado. Mas ele ama. E, bem, com o nosso namoro ele acabou conseguindo me arrastar para esse buraco profundo e bizarro dos filmes de terror. Apenas eventualmente.

— Eu tô falando sério, Yumi! Vai ser perfeito. Eu venho pra sua casa, a gente compra umas besteiras, assiste uns filmes de terror, transa e vai dormir! E a gente deu sorte que sábado vai cair bem no Halloween. — ele me abraçou por trás e beijou meu pescoço de forma sedutora. — Vamos, por favor...

E foi só olhar aqueles olhos azuis e lindos que eu cedi. Iria concordar de qualquer forma, mesmo sem o olhar de cachorro abandonado e a vozinha sexy no meu cangote. Ele me ganhou quando falou sobre a comida, sinceramente. E, desde que nos conhecemos, nunca terminamos de assistir um filme inteiro antes de ir para os finalmentes na cama. Isso me tranquilizou um pouco, mas ei! Eu sou uma mulher adulta, não deveria ficar tão assustada com uma produção cinematográfica que lucra em cima do medo dos outros. Bem, isso só na teoria.

O dia chegou e Ben veio pra minha casa com uma mochila de roupas, alegando que passaria a semana comigo. Ele havia acabado de sair de uma semana intensa de provas na faculdade de física e só queria relaxar e, como ele ainda morava com os pais, ficar comigo seria bem mais confortável. Eu já vivia sozinha há uns bons meses, sou mais velha que ele. Consegui alugar uma casa pequena e confortável com minhas economias e ajuda da minha mãe depois que terminei a faculdade.

A vizinhança sempre foi bem calma, as casas bem próximas umas das outras e vizinhos idosos, que passam o dia tricotando ou cozinhando macarrão e me chamando pra provar. Realmente tranquilo e agradável, sabe? Meu sonho era um dia poder comprar aquela casa em que eu estava morando de aluguel. E sim, era...

— Amor, vai escolhendo o filme que eu vou lá comprar as coisas rapidão. — Bem disse pegando sua carteira e me deu um beijo na bochecha antes de correr apressado até a porta da frente.

— Espera um pouco, eu vou com você. — eu disse, já me levantando do sofá. — espera só eu achar meu casaco.

— Não, relaxa, eu vou sozinho. Tá chovendo. Fica aí e já vai escolhendo os filmes e me passa o que você quer que eu compre pelo celular. — ele abriu a porta finalmente e esperou por uns segundos a minha resposta final.

— Tá, não demora. — apenas dei de ombros e voltei a me sentar no sofá. Ouvi ele saindo com meu carro e coloquei na Netflix, pegando meu celular.

Fiz uma pequena lista de coisas para ele comprar, como salgadinhos, refrigerante, balinhas de gelatina, sorvete, essas coisas. Também disse que tinha dinheiro no porta-luvas do carro e que era para ele usar para dividir os gastos. Ele nem visualizou.

Estava realmente chovendo pra caralho, as trovoadas só ficavam cada vez mais altas e, de alguma forma bizarra, aquilo me deixava calma. Sempre gostei de dias chuvosos e enevoados. Também sempre gostei do frio, mas como isso aqui ainda é Brasil, às vezes os fenômenos meteorológicos não batem. Estava chovendo? Sim. Estava fazendo um calor quase infernal? Definitivamente.

Abri a porta da frente de madeira velha e carcomida e a deixei escancarada para que a brisa entrasse. Funcionou pelo menos. Depois disso me lembrei de que tinha um abacate maduro na geladeira e que Ben amava guacamole, então resolvi preparar um pouco para ele. Entrei na cozinha e coloquei todos os ingredientes no balcão, deixando o limão, o abacate, a cebola e o tomate de um lado e os temperos do outro.

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