Capítulo 34

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"[...] A única coisa que eu desejo nesse momento 

é que Marcos fique bem e volte pra mim, 

e desejo com todas as forças do ser que eu sou,

 fui e ainda serei um dia."

        O ruído em meus ouvidos começou como um chiado e rapidamente se expandiu como se um grande apito estivesse nos meus tímpanos

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        O ruído em meus ouvidos começou como um chiado e rapidamente se expandiu como se um grande apito estivesse nos meus tímpanos. Não sei quantos segundos se passaram até que eu conseguisse reagir àquelas palavras, talvez um segundo ou talvez cem. A única coisa que eu sei é que meu corpo não respondia mais a minha mente, muito menos meus poderes, sei que é proibido usar nossos poderes dentro da clareira dessa forma, mas eles tomaram conta do meu corpo. "Suas emoções interferem nos seus poderes Morgana", as palavras de Gael ecoavam em minha mente no momento em que me vi ao lado da maca de Marcos com os olhos marejados de lágrimas.

        É estranha a forma que a vida se comporta, acordei nos últimos dias com sua presença marcante na minha cabana levando meu café da manhã, me acostumei a ter seus olhares em minhas costas o tempo todo e me acostumei com o fato de eu ser a pessoa por quem ele morreria, em ser sua soulmate.

        Movimento-me da forma mais rápida possível, o que atrai os olhares para mim novamente, seu corpo inerte na cama está aparentemente saudável e com poucas esfoliações, mas o problema está na magia negra dentro de seu corpo. Suas roupas estão rasgadas o que me dá uma visão de seu abdômen, os lugares onde suas veias se encontram estão pretas, como se seu sangue fosse negro. As curandeiras estão com as mãos em seu corpo rezando um cântico que não consigo compreender e a única coisa que consigo fazer é chorar com o fato de que o melhor guerreiro Silkka estava ferido na minha frente lutando contra os seres que eu deveria lutar caso estivesse pronta, mas não estou e isso é minha culpa.

       Raiva, decepção e culpa corre em minhas veias no momento em que fecho meus olhos e seguro as mãos de Marcos. Em minha mente veem imagens de momentos dele brincando comigo na faculdade nos Estados Unidos há alguns meses que parecem distantes demais, imagens de quando percebi que ele sentia ciúme de Gael e imagens de quando ele descobriu que eu era sua soulmate no dia que fugi para a floresta. A única coisa que eu desejo nesse momento é que Marcos fique bem e volte pra mim, e desejo com todas as forças do ser que eu sou, fui e ainda serei um dia.

        Ouço cochichos de indignação e surpresa de todos ao meu redor, mas me recuso a abrir os olhos. Sinto as mãos de Marcos molhadas e ignoro a sensação, apenas desejando ao Grande Espírito que ele ficasse bem com toda minha essência e energia. Novamente o tempo passa de forma imperceptível e me sinto adormecer de mãos dadas e ao lado do filho do Fogo.

        Meu corpo está absolutamente exausto e minha boca clama por água, meus músculos pedem arrego quando tento me mexer na cama em que estou, mas que com certeza não é a minha

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        Meu corpo está absolutamente exausto e minha boca clama por água, meus músculos pedem arrego quando tento me mexer na cama em que estou, mas que com certeza não é a minha.

        — Não tente se mexer criança, já exigiu demais de seu corpo por hoje. — A voz de Ravena surge suave como o vento, mas minha boca não obedece minha mente quando tento perguntar o que houve. Pouco a pouco consigo abrir meus olhos e a claridade do lampião me atinge, mas consigo me situar rapidamente e percebo que estou na cabana de Ravena. Marcos está do outro lado da cabana em um colchão no chão e Lexia em uma cadeira ao seu lado. Minha amiga está com o rosto inchado, provavelmente de tanto chorar, mas exibindo gratidão a alguma coisa. É impressionante minha capacidade de ler as pessoas, só não entendi ainda o que houve, minha última lembrança era de estar ajoelhada ao lado de Marcos na cama.

        — Precisa de muita água garota, você quase morreu por livre e espontânea vontade hoje. Por amor, eu diria, mas isso é assunto pra outra hora — Ravena despeja um grande copo d'água em minha boca e eu agradeço mentalmente, seguido por mais três copos até eu ficar satisfeita. Sinto uma pequena melhora em meu corpo, mas ainda não consigo falar e mal me movimentar. O que Ravena quis dizer com "quase morrer" e ainda por cima "por amor"? — Descansa garota, amanhã conversaremos. Precisa dormir agora — A avó de Marcos e Lexia parece saber dos meus questionamentos, mas decido obedecê-la e quase que imediatamente adormeço novamente.

        Assim que percebo que estou acordada consigo ouvir o barulho da chuva e dos trovões, nada de pessoas conversando durante o serviço, apenas a água caindo e o cheiro de terra molhada

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        Assim que percebo que estou acordada consigo ouvir o barulho da chuva e dos trovões, nada de pessoas conversando durante o serviço, apenas a água caindo e o cheiro de terra molhada. Meu corpo apesar de ainda dolorido melhorou quase por completo e consigo me movimentar pela cama, Marcos não está mais no mesmo lugar de ontem e há uma grande jarra de água na mesa de centro. A primeira coisa que faço é me levantar e beber toda a água, não sei por que estou com tanta sede e logo em seguida avisto um pequeno guarda-chuva na porta da cabana. Ainda estou com a roupa de treinamento de ontem, mas decido ir atrás de Marcos, a preocupação me atinge novamente como uma bola de concreto e eu avanço no meio da chuva em direção a cabana de Marcos.

        A chuva embaça minha visão, mas já fiz esse caminho tantas vezes que saberia chegar lá de olhos fechados. Apesar do barulho dos trovões consigo perceber vozes saindo da cabana de Marcos, inclusive a dele.

        — O que a garota fez é impossível, isso não existe — A voz da curandeira Nimue é a primeira que ouço.

        — Parece que não é tão impossível assim já que ela fez — A voz risonha de Ravena responde.

        — Os bruxos não podem saber, isso se espalharia como fogo no feno — Nimue retruca.

        — É egoísmo tentarmos ficar com essa joia apenas para nós, não acha? — Ravena parece não gostar da ideia da curandeira.

        — Ela salvou minha vida, os Kavdas virão atrás dela — A voz rouca e baixa de Marcos finalmente fala e meu peito se alivia, ele está vivo.

        — Eles já estão atrás dela desde que sua princesinha nasceu Marcos — Nimue diz em tom de deboche e eu me aproximo para tentar ouvir melhor.

        O diálogo finalmente para e apenas a chuva conversa com a terra até a voz de Ravena surgir novamente.

        — Sei que está aí criança, venha fazer parte da reunião também — Meu coração acelera e meu rosto enrubesce, mas obedeço a Xamã e entro na cabana.

        — Sei que está aí criança, venha fazer parte da reunião também — Meu coração acelera e meu rosto enrubesce, mas obedeço a Xamã e entro na cabana

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