ÚNICO | Gelo e fogo.

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Assim que Jeongguk pisou pela primeira vez em terra, sua reação imediata foi recolher o pé.

Era estranho, completamente diferente de caminhar pela neve como ele fora acostumado em toda sua vida. A terra era dura e sua bota não afundou. Também era quente e não fazia o mesmo som de gelo fino quebrando sob seu peso. Jeongguk não gostou muito da sensação.

Seu irmão mais velho já havia descido de sua montaria. Os lobos estavam agitados, e os elementais tentavam acalmá-los. Era difícil quando a maioria da matilha, assim como Jeongguk e os outros novatos, também nunca havia estado em terra antes. Eles pisoteavam com os dentes à mostra, visivelmente incomodados com a ausência de neve sob a sensível almofada das patas.

Yoongi, seu irmão, já no chão assim como todos os outros, lhe ofereceu a mão após desmontar da própria loba, Geada. Jeongguk deu tapinhas na lombar de seu Floco de Neve para acalmá-lo. Floco de Neve também vivia tudo aquilo pela primeira vez, afinal.

O garoto olhou para a mão de seu irmão e fez uma careta. A brisa era quente. Estava aprendendo agora o significado do "calor" que os adultos falavam — e estava odiando, a propósito. Entretanto, Jeongguk sabia que não poderia — infelizmente — ficar nas costas de Floco de Neve para sempre e segurou na mão de seu irmão para descer.

A segunda tentativa foi um pouco melhor. Ele pousou de forma suave no chão, o calçado se sujando naquela superfície estranha e desconhecida para ele. Jurava que podia sentir, pela sola do pé, as vibrações estranhas sob o solo. Não gostou. Parecia... vivo demais. Agitado. E, claro, ele preferia a quietude que apenas o gelo lhe trazia.

Jeongguk também não gostou do sol dali. Não era o suficiente para que derretesse, mas ainda assim... quente demais. O jovem bufou, desejando que nunca tivesse completado seus dezoito ciclos. Assim, não precisaria ter viajado até ali. Não se sentiria tão desconfortável por estar fora de casa. Embora estivesse tendo, enfim, a chance de matar sua curiosidade sobre os outros povos, começava a achar que o esforço não valia à pena.

Seu irmão percebeu seu descontentamento e pôs a mão em seu ombro — tendo de se levantar um pouco para tal, já que, por algum motivo, era mais baixo mesmo tendo nascido bem antes.

— Melhora após um tempo.

— Quero voltar para casa.

— Só terás de aguentar uma semana. Vai por mim, tu sobrevives a isto.

O ar fedia a vida. Eram seres demais vivendo e respirando. Por mais que o povo da Terra pudesse se orgulhar de seu ar puro e da harmonia com a qual conviviam em paz com a natureza, Jeongguk sabia: nenhum ar seria tão puro quanto o de seu lar.

— Que estorvo. Tenho mesmo de fazê-lo?

Yoongi deu tapinhas em suas costas.

— Não vou responder à uma pergunta cuja resposta tu já sabes.

A viagem havia sido dura. Jeongguk sofrera até ali com as mudanças graduais de temperatura. Pouco a pouco, o frio ia diminuindo cada vez mais, levando pedaços dele. Agora, estava num lugar desconhecido e, em breve, conheceria pessoas e animais que até então só vira nos livros. Seria algo bom, se ele não tivesse tanto medo do desconhecido. Sua máscara de cinismo não era o suficiente para esconder a verdade: era apenas uma criança amedrontada, no fim das contas.

Uma criança prestes a se tornar adulta.

Jeongguk inspirou daquele ar que lhe parecia poluído e, enquanto Yoongi e os outros guiavam os lobos e já começavam a montar acampamento, acabou distraído com a poluição visual que tanto lhe incomodava.

Eram tantas cores, nunca imaginou que seria possível existir uma diversidade tão grande, por mais que tivesse visto imagens durante seus estudos, nada se comparava com aquela vista. Então, esse é o verde das árvores que me contaram, pensou.

Gelo e Fogo • {jikook}Onde histórias criam vida. Descubra agora