Capítulo 1

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- Enfim, chegamos! - soltou minha mãe, com um sorriso gigante no rosto. Fechou a porta do carro, levou sua bagagem até a entrada da casa e parou, virando-se para trás - Vamos, crianças! Estão esperando o que?

Suspirei, tirando meus fones de ouvido e os guardando no bolso da calça jeans. Analisei a velha casa. Uma cerca branca, que separava a varanda do mato alto, e precisava de uma nova camada de tinta.

Um banco de madeira embaixo da janela - caindo aos pedaços, por sinal, ao lado de uma pequena mesinha de metal desgastada. Resumindo, essa casa precisava de uma reforma urgente.

E olha que eu ainda nem havia entrado.

- Mãe, olha como está essa casa. Se ela já está assim por fora, não quero nem pensar como está por dentro... - disse Matthew meu irmão mais novo, praticamente tirando as palavras da minha boca.

- Ai, Matthew, deixe de ser chato! Venha, me ajude com essas malas. - Ele bufou e cruzou os braços a encarando, ainda no mesmo lugar. - Vai, menino, é para hoje!

Enquanto ele a ajudava, peguei minhas coisas e adentrei a casa. Ao contrário do que pensava, a situação não estava tão ruim assim.

As paredes brancas faziam contraste com os sofás azuis do lado esquerdo da sala, junto com uma mesinha de centro de madeira em frente à TV.

Do outro lado, uma mesa de jantar com oito cadeiras e um balcão com duas banquetas que separavam a sala da cozinha. Notei uma camada fina de poeira nos móveis, mas nada que uma espanada não resolvesse.

Seguindo o corredor, deparei-me com a escada que dava ao andar de cima e subi, encontrando três quartos, o maior sendo uma suíte. Dei uma olhada por cima e peguei o segundo maior quarto. Eu era mais velha, então, se Matthew tivesse algum problema com isso...

Bom, problema dele.

Joguei minhas coisas no meio da cama e observei o quarto. Uma escrivaninha branca ficava embaixo da TV - Amém, senhor Jesus - com uma janela ao lado esquerdo e o armário do lado oposto.

Tudo bem, a casa não era tão grande e moderna quanto nosso antigo apartamento, mas, por enquanto, era o que podíamos pagar.

Com a morte de papai alguns anos atrás e mamãe sendo demitida, não havíam mais motivos para ficarmos em Los Angeles, já que o que nos prendia lá eram seus trabalhos.

"Nossa chance de recomeçar", ela disse, quando anunciou que iríamos nos mudar.

Porém, um recomeço não só envolve uma outra cidade, mas também uma outra escola, com outros "colegas", e outro ano sendo a menina nova, justo no último do colegial.

O que era um saco.

Na minha vida inteira, nunca tive muitos amigos. Eu não era uma menina solitária, andava com Lizzie nos intervalos e fazíamos os trabalhos escolares juntas.

Mas, também, era só isso. Não nos falávamos pelo telefone, e se nos encontrassemos fora da escola, dávamos um sorriso ou mesmo um aceno de cabeça.

Mudar se cidade implicaria em passar de novo por tudo isso, o que era difícil, para uma garota tímida, como eu. E, para falar a verdade, eu não estava nem um pouco ansiosa para isso.

Mas eu tinha de ser forte pela minha mãe. Ela já havia passado por tanto, acompanhando o tratamento de câncer do papai, enquanto ainda tinha duas crianças para cuidar.

Meu pai havia morrido três anos antes de câncer no intestino, e isso despedaçou minha mãe. Eles eram muitos apaixonados, um casal de colegial e foi muito duro para ela seguir em frente e continuar a vida.

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