Cap 2

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           A terapia tem me ajudado bastante. Ainda não deixei a bebida, gosto dela,  tenho consumido menos , somente isso. Tambem não tenho sofrido tanto por Rafaela. Não tanto como antes, mas....não posso negar, ainda sofro. Temos saído algumas vezes: ela, Thomas, Chris, Felipe, JJ e eu. JJ é um grande amigo de Thomas e está se tornando um bom amigo pra mim também, não sei se ele se aproximou a pedido de Thomas para ficar de olho em mim ou se realmente queria minha amizade. Rafaela nos chama de "Cavaleiros Solitários " , rotulo interessante mesmo sem sermos o Zorro, pois não defendemos ninguém além de nós mesmos. Provavelmente foi esta solidão que nos aproximou, ele também teve o coração partido e entende minha dor.  Interessante que a presença quase constante destas pessoas não permite que eu afunde mais na tristeza, alguns poderiam até supor que pioraria meu problema ver como Rafaela e Thomas interagem tão bem, mas a verdade é que Rafaela se importa comigo, mesmo não estando mais apaixonada de mim. Isso me faz sentir importante e me afasta das bebedeiras e dos falsos amigos.

         Hoje porem um pesadelo envolvendo Rafaela, um tiro e muitos gritos ,me tirou dos eixos. Acordei ,alias, pulei da cama, assustado e senti um aperto enorme no peito. Tentei voltar a dormir mas não consegui . JJ havia me incentivado a ler, diz que a leitura nos ajudava a ver outras realidades e viajar. Pensando nisto procurei algum livro para ler, so achei a lenda de Tristão e Isolda que minha mãe tinha me dado quando eu ainda era um garoto de 12 anos que segundo ela mostrava como a lealdade é tão importante quanto o amor. . Minha mãe sempre disse que mais importante que tudo era a lealdade. "A lealdade é um dos pilares que sustentam o real valor do homem. ", dizia ela pra mim várias vezes . Peguei o livro e comecei a ler pra me distrair do pesadelo e ver se me dava sono. Ler sempre me deu sono...Surpreendentemente me vi envolvido naquela estória trágica e triste, sobre o que a falta de comunicação e a intriga podem fazer a um amor. Um final triste mas bonito. Fiquei pensando em mim, Rafaela e Thomas. Me vi como o rei Mark que acreditava estar apaixonado por Isolda que estava irremediavelmente apaixonada por Tristão, assim  como Mark, eu estava apaixonado por alguém que amava outra pessoa .

De qualquer  forma, não deveria ter lido uma tragédia quando minha vida estava uma tragédia. Precisava ir numa livraria, procurar algo menos sofrido e mais masculino.Agora não sei se sentia um aperto no peito ou um vazio...Quem sabe os dois... Não deveria ter seguido o conselho de JJ sem ter um livro adequado pra ler no meu atual estado. ....deveria ter seguido o conselho de Gabriela....Gabriela....

Será que eu poderia ligar pra ela? Olhei o relógio...Às 7 h da manhã ? Nunca... Não sou tão mal-educado .

Poderia ligar mais tarde...Agora vou tentar dormir mais um pouco....Não consegui e às 8h30 m, tomei coragem para telefonar.

G= Sim?

Meu coração acelerou um pouco.

R = Oi, Gabriela.

G = Quem é?

R = Rodrigo

G = Rodrigo?

Ela não lembrava de mim....

R= da terapia...você me deu seu número...

G = Ah...Oiiiiii, tudo bem?

R = Não muito, nunca estou bem realmente. Hoje fui seguir o conselho de um amigo que me mandou ler, eu so achei uma tragédia em casa...Não foi bom...Lembrei de você.

G = Nossa...Lembro uma tragédia...

R= Não ,nuca, desculpa, não soube me expressar....Lembrei que voc~e disse que eu poderia te telefonar pra ir no seu grupo.

Precisei disfarçar o fora....Ela soltou uma risada alta...

G = Ah...tá...Ja' tava preocupada...Olha o povo do meu grupo vem aqui em casa hoje, tocar violão,conversar, fazer besteira...Você não quer vir?

R = Eu ? Em sua casa?

G = Foi o que falei....Vem...Você já fica conhecendo a galera, facilita entrar no grupo.

R = Não sei...

G= Deixa de ser bobo...Espero você às 14h, te mando endereço pelo zap...

R= Povo levar um amigo pra não ir sozinho?

G = Claro....Minha casa é igual coração de mãe ,sempre cabe mais um.

Ela é divertida....

R = Ok...Eu vou

G= Joia ,te espero.Tchau

R = Tchau

Na hora marcada, fui buscar JJ e chegamos quase às três, e fomos recebidos alegremente por uma garota meio ruiva, baixinha, de olhos castanhos esverdeados e muito simpática. JJ logo me cutucou, do jeito que ele era já devia estar interessado. Até que combinavam, pois JJ não é muito alto e tb tem cabelos castanhos e olhos verdes...

- Oi, vocês devem ser os novos amigos da Gaby ...Sou Marta...

Nos apresentamos e logo Gabriela se aproximou e nos levou para a varanda que era bem grande e estava cheia de gente que também recebeu nós dois como se fossemos amigos de longa data. Nos sentimos como parte do grupo, era diferente....Eles interagiam como uma grande família e estavam sempre rindo, falando besteira e perturbando uns aos outros...às vezes alguém se zangava como alguma brincadeira sem graça dai a pouco vinha outro e amenizava a estória toda e começava a tentar se entender...Num dos raros momentos de silencio, me vi lançando um comentário que fez todos ficarem meio sérios;;;

- Vocês todos são do mesmo grupo?

- Sim. – disse Marta

- São bem diferente do que imaginei.

- Como assim ,Rodrigo?

- Não sei explicar, sempre imaginei pessoas religiosas de forma meu quadrada, quase como extremistas, radicais, sei lá...

- E surpreendemos você pro bem ou pro mal? – perguntou Gabriela.

- Pro bem, claro.

- As pessoas tem uma imagem distorcida de religião, Rodrigo...Não sofremos lavagem cerebral, nem ditamos regras complicadas . Acreditamos que Deus nos ama e isso nos faz muito bem, somos amados....

- Acreditar...- interrompi –  É algo que não consigo neste caso. Sou mais racional, acho que fé é coisa de gente emocionalista demais...Acho que a religião limita a mente da pessoas.

- Você nos conheceu um pouco agora, acha que somos bitolados? – perguntou Marta.

- Não formei uma imagem ainda, mas não parecem bitolados.

- Fé não é pra ser emocional, Rodrigo, é pra ser real, as pessoas que levam a fé pro lado do sentimento podem viver algo irreal e depois se decepcionar, pois a vida nem sempre é fácil.- disse Gabriela .- Não é porque temos uma religião que vamos viver nas nuvens, seguir o Evangelho exige muito mais de nós, exige que percebamos como podemos crescer não so na alegria como na tristeza. Hoje as pessoas querem tudo fácil, na mão...Não é bem assim...

- Um dia você conseguirá sentir o que sentimos e ai então entenderá...

- Será? Não sei...

- Eu acredito em Deus, mas não acredito em religiões. – disse JJ.

- Acho que a religião nos ajuda a chegar a Deus, nos ajuda a perceber a necessidade do outro...- disse Marta, sorrindo levemente para JJ.- Claro as vezes algumas pessoas desvirtuam tudo e quero usar a religião como uma forma de manipulação.

 Conversamos bastante sobre fé e religião por um bom tempo ate a mãe de Gabriela nos chamar para lanchar. Fomos e o clima de brincadeiras voltou, um  dos rapazes chamado Vinicuis, pegou o violão e começaram acantar varias musicas tanto religiosas como de bandas famosas. Mais uma vez , me surpreendi, as musicas religiosas me tocaram de certa forma. Fiquei bem pensativo....Na saída, Marta nos alcançou.

- Depois da discussão desta tarde, você não vao deixar de ir no grupo não, ne?

Eu e JJ nos olhamos...

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⏰ Última atualização: Jul 06, 2015 ⏰

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