Parte XIII

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Rafaella

Eu a tive completamente em meus braços. Por alguns momentos eu pude imaginar aquela mulher correspondendo coisas que eu nem sabia que queria até que aquelas palavras saíram dos meus lábios. Eu queria dar-lhe carinho, poder abraça-la e beija-la, mas por mais que eu quisesse sabia que Bianca não seria assim por mais que uns momentos. Portanto, se eu a quisesse comigo por um pouco mais de tempo teria que ser apenas sexo e se eu não tivesse encerrado nossa noite quando sabíamos que eu queria mais eu não poderia mantê-lo assim.

Eu terminaria dizendo que sempre a cuidaria como uma idiota.

Para a minha sorte foi-se um largo fim de semana para que eu esquecesse as imbecilidades ditas no meio do sexo, mas como eu era azarada eu não esqueci.

Cheguei ao bistrô na segunda de manhã desejando não dar de cara com ela primeiramente.

E regida pela má sorte não foi isso que ocorreu. Me deparei, do contrário, com o maldito bumbum só para lembrar-me de como o rebolava na minha direção enquanto meus dedos estavam enterrados dentro e...

- Agora você acha que é paga para pensar e não trabalhar? Ótimo. Quem aqui também acha que pode mudar de função sem me consultar? - Perguntou Bianca se referindo a toda cozinha com sua típica personalidade distante e ainda bem, porque isso facilitava o fato de que eu tinha de esquecer os sentimentos se quisesse manter um sexo incrível. Porque ia voltar acontecer. Não ia?...

🗼

Não posso dizer que não foi uma dúvida que passou uma ou outra vez por minha cabeça no fim de semana, mas eu sempre dizia a mim mesma que antes de sofrer por antecedência melhor falaria com ela. Entretanto, a oportunidade nunca se apresentava como deveria.

A qualquer minuto que eu tentava uma aproximação da sua sala surgia um novo problema: Pedido voltava, So-Cheff perdida ou tio maluco em seu escritório. A verdade era que o universo não parecia conspirar ao meu favor.

- A massa está desandando Manu... - Falei olhando para a massa mas imaginando esses obstáculos bem diante dos meus olhos - Porque você não está amassando o suficiente - Garanti começando a jogar a massa contra o balcão e traze-la de volta nos dedos.

- Eu não quero estar na pele da pessoa que imagina ao bater essa massa - Falou cruzando os braços com uma risadinha.

- Se continuar a sorrir desse jeito é na sua cara que começarei a pensar - Ela levantou as mãos com os olhos arregalados e deixei a droga da massa sobre o balcão cheia de irritação.

Você estragou tudo com sentimentalismos sua maldita idiota! - Disse um lado da minha mente.

Calma você não sabe ainda - Disse o outro e dando pequenos surtos aproveitei os meus últimos momentos de expediente para ficar do lado de fora dando justamente para dar vez a eles, porque aparentemente cansada de fazer isso pela minha casa começaria a surtar no trabalho.

Depois de tomar um ar retornei e ajudei a limpar e fechar o lugar com Manu sem ver nem sinal de Bárbara quando me despedi da minha amiga.

Entretanto, foi depois de sentir-me desenganada que me deparei com seu dodge parado ainda no estacionamento como se aguardasse algo.

Será que também concordava que precisávamos conversar sobre eu quase ter dito que a cuidaria e daria todo o carinho que ninguém jamais deu? Quer dizer... Essa parte ela não sabia, essa eu mordi a língua antes de proferir e substitui pela frase sobre que o jantar ia queimar, o que ainda não nos livraria de uma conversa sobre sobre a que não consegui evitar.

Sabendo que só teria minha resposta se chegasse perto o suficiente e perguntasse eu fui caminhando noite a fora até o seu carro, gritando seu nome a meio caminho como quem dava-lhe a chance de fingir que não ouviu e partir.

- Bia - Chamei e ela olhou na minha direção sem travar o carro ou virar a chave. Entendi isso como um sinal para que terminasse o percurso e entrasse no carro.

- Sim? - Perguntou assim que me acomodei no banco da frente. Observando o pouco movimento aquela hora. Eu e ela éramos sempre algumas das últimas a sair.

- Isso não vai acabar. Vai? - Perguntei encarando como ela olhava no retrovisor e começava a passar um belo batom vermelho. Eu tive a impressão de que ela tinha todo o poder de esmagar meu coração se eu a entregasse.

- Você quer acabar? - Indagou sem me olhar ainda com sua mão a meio caminho da minha e eu terminei de toma-la, fazendo nossas vontades, aliás, tomada por uma dose a mais de coragem que eu deveria ter tomado desde o sábado eu envolvi seu pulso e a puxei até meus braços num choque elétrico demais para ser ignorado. E dele resultou um beijo esperado desde alguns dias, cheio de sentimentos que eu não alcançava explicar, mas que estavam ali. Não tínhamos nada em comum, nos irritavamos mutuamente a maior parte do tempo, mas cada pequena ofensa trocada tinha um tom de diversão. Ninguém nunca me fez sentir tantas coisas assim com só estar perto e eu só queria ficar tanto quanto nossas línguas permitissem.

Devagar Bia vai se impondo em meu espaço no dodge e se coloca sobre minhas pernas aprofundando nosso contato. Por mais que nunca disesse confirmava que queria me ter a poucos centímetros, que queria estar baixo meus toques e eu a prensenteio com isso ao tocar seu queixo enquanto libero meus medos em sua boca macia que se movia feroz sobre a minha, abrandando o contato pouco a pouco até que sorrisse.

Bia não sorria a menudo. Mas ela sempre acabava sorrindo em meu beijo.

Beijei a curva graciosa e me afastei retirando alguns fios de cabelo que caíram sobre seu rosto nessa ação e devolvi o sorriso ainda acelerada pela reação.

- Isso responde a sua pergunta? - Indaguei afagando sua bochecha com a palma aberta de maneira tão cálida que até suas barreiras de gelo se derreteram e ela não resistiu a inclinar-se naquela direção. A mulher tinha batom até o queixo.

Nunca esteve tão linda.

- Você não pode me olhar desse jeito - Disse batendo contra o meu peito sem a intenção - Ou agir desse jeito, ou ser desse jeito - Brigou comigo e eu deixei que o fizesse por uns minutos até que se cansasse.

- Você sabe que a gente tá ferrada. Não sabe? - Bianca assentiu que sim. Mas isso não impediu que me beijasse outra vez sem dizer mais nada pelo tempo que durou aquele beijo que ela não conseguiu manter selvagem apesar de começar rápido, pois foi desacelerando, foi ficando devagar e terminou em selinhos demorados.

- Eu te levo para casa - Falou de olhos fechados depois de tudo. Eu estava ciente de que aquilo era muito difícil para ela. Era a primeira vez que estava cogitando a possibilidade de deixar alguém ficar por mais tempo e por sua fama eu sabia que não fazia isso nunca.

- Promete não ficar procurando defeitos nas coisas então? - Perguntei e ela negou rotundamente.

- Eu já imaginava. Vou guardar minha moto - Disse segurando sua cintura e a colocando de volta no seu lugar no carro saindo dele em seguida.

- Rafaella? - Perguntou assim que eu saí e me virei em sua direção. Bianca não disse nada apenas apontou o canto dos meus lábios.

- Eu não vivo babando por você. Há uma hora ou outra que você me tira a atenção? Não posso negar que sim e você sabe, mas não é como se eu fosse um bulldog - Apontei com as mãos no quadril toda revoltada e ela começou a controlar uma risada.

- Eu só estava indicando que você está suja de batom - Disse desatando a rir e eu me afastei revirando os olhos e apontando o dedo do meio para ela que estalava de rir em seu carro pela exibição gratuita.

- Belo dedo - Disse entre risos, mas havia algo de muito sugestivo nisso. Em resposta, levantei o da outra mão e percebi como ela mantém seu riso frouxo diante da minha suposta indignação.

Mas a verdade... A verdade mesmo era que eu sequer estava com raiva disso. Eu sabia bem que não seria um batom, uma declaração ou uma risada graciosa que iria me ferir de verdade.

O problema era essa mulher que estava por trás de tudo isso. Ela era a mulher mais inteligente, mais audaz e cheia de si que eu já conheci. O problema era que ela tinha tanto Bianca em seu ser que eu não sabia se tinha espaço para mim...

Se quiserem continuar recebendo os mimos eu quero ver os comentários.

Deliciosamente proibido  -  Versão RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora